Publicado em 25/07/2019 às 04:56:07
Se Walcyr Carrasco se tornou o autor há mais tempo no ar consecutivamente com "A Dona do Pedaço", ele vem lutando para colocar sua nova novela bem posicionada no ranking das maiores audiências da década no horário das 21h. Já é dele a terceira, com "O Outro Lado do Paraíso" (2017), sendo superada apenas pelos fenômenos "Fina Estampa" (2011) e "Avenida Brasil" (2012). Na faixa das 18h, ele já lidera o ranking nesta década com "Êta Mundo Bom" (2016) e nos 10 anos anteriores com "Alma Gêmea" (2005). Já às 19h, ele também aparece bem posicionado com o segundo melhor desempenho da década com "Morde e Assopra" (2011).
Criticado por parte da imprensa e até pelo público em geral, o autor é especialista quando o assunto é Ibope, mas o que ninguém nunca entende é como ele consegue números tão expressivos. O NaTelinha investigou a fundo o estilo do novelista que ano sim ano também está no ar com uma produção e tenta explicar o sucesso de Walcyr Carrasco.
Ele chegou à Globo no ano 2000 quando escreveu "O Cravo e a Rosa" ao lado de Mário Teixeira ("O Tempo Não Para"). A partir daí, ele se tornaria nos anos seguintes uma espécie de curinga da emissora para o horário das seis, onde escreveu obras como "Chocolate com Pimenta" (2003) e "Alma Gêmea.
Nesta faixa, o novelista criou um método que se repetiu à exaustão e, aparentemente, nunca cansou: a mocinha sofredora diante de um vilã capaz de fazer tudo, um ambiente caipira e rural com direito a animais de estimação, digamos, peculiares e sequências recorrentes (guerra de comida, personagens no chiqueiro) eram uma espécie de atalhos que faziam o público se lembrar de suas obras passadas e a consequência era o riso.
O escapismo sempre foi a marca das obras de Walcyr Carrasco no horário das 18h. Desde que surgiu na Globo, ele sempre foi um forte defensor do riso fácil e tom meio infantiolóide, não à toa foi o principal roteirista da nova versão do "Sítio do Pica Pau Amarelo".
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Tornando-se uma das maiores aquisições da emissora no início do novo milênio, Walcyr ganhou uma "promoção" e migrou para o horário das sete. A primeira experiência mostrou uma dificuldade. O novelista experimentou mudar seu estilo e linguagem e oferecer uma produção mais lírica e que fugia do tom pastelão com "Sete Pecados" (2007). O resultado foi audiência abaixo de seus trabalhos anteriores, um de seus únicos com números aquém da expectativa do canal (outro exemplo foi com "A Padroeira", ainda no horário das 18h).
Se em "Sete Pecados" viu-se um dramaturgo buscando encontrar novos caminhos, com os números abaixo, Walcyr voltou ao seu estilo com "Caras e Bocas" (2009). Embora sem o ambiente bucólico da fazenda, todos os elementos de suas novelas das seis estavam presentes. A guerra de comida foi substituída por guerra de tintas e o animal de estimação exótico virou uma espécie de protagonista. Resultado: sucesso de audiência.
A estratégia de transformar as tramas rurais em produtos urbanos seguindo os mesmos estratagemas voltou a funcionar com "Morde e Assopra". A novela é, ainda hoje, a segunda maior audiência da década na faixa das 19h, perdendo apenas para "Cheias de Charme" (2012).
Com tantos sucessos em seu currículo, era questão de tempo para que Walcyr se tornasse um dos autores do principal horário de novelas da Globo. A estreia aconteceu em 2013 com "Amor à Vida". Ali, novamente o novelista buscou encontrar um estilo mais soturno e dar ares de intelectualidade para sua obra ao propor discutir temas que estavam em voga na sociedade. No final, o que se viu foi o tom farsesco ganhando espaço com direito ao vilão vendendo cachorro quente seminu.
Em sua obra mais distante do estilo, Walcyr ganhou um Emmy Internacional. Foi com "Verdades Secretas" (2015), novela das 23h em que o dramaturgo se afastou da farsa e substituiu o pastelão pelo drama com várias camadas, a ponto de Grazi Massafera ser indicada no papel de atriz dramática por seu trabalho na novela.
Quem esperava mudança do autor após tal conquista, ele optou por retornar ao horário das seis e levou ao ar "Eta Mundo Bom" fazendo uma mescla de tudo que ele já havia escrito, mais de 10 anos atrás, na mesma faixa de horário. Enquanto os críticos espumavam, a novela se tornou um fenômeno e deixou "Cordel Encantado" (2011) para trás como a maior audiência da década.
Com "O Outro Lado do Paraíso", o dramaturgo demonstrou ter encontrado o filão para escrever no horário nobre. Com atalhos que incluíam muitas tramas ao mesmo tempo, diversas histórias polêmicas e, principalmente, ganchos o tempo todo, a novela entrou para o top 3 do Ibope nos últimos anos.
Quem acompanha "A Dona do Pedaço" vê um pedaço de cada coisa que Walcyr escreveu. Da profissão da protagonista Maria da Paz (Juliana Paes), a boleira que lembra elementos de "Chocolate com Pimenta", até a vilã que vai se tornando cada vez pior ("Alma Gêmea", "O Outro Lado do Paraíso") e a inocência da mocinha ("Êta Mundo Bom"). Até o animal exótico que apareceu em diversas tramas está presente com um porquinho.
Quem conhece a trajetória de Walcyr Carrasco sabe que ele é um autor positivista. Seja nas novelas, na literatura ou até mesmo em suas peças teatrais. Premiado em todas as categorias que escreve, o dramaturgo reúne elementos que lembra o sucesso de Paulo Coelho, o autor brasileiro mais vendido na história. Sem rigor técnico para seus enredos, Walcyr diz escrever movido pela emoção e que este é o segredo do sucesso.
Vale lembrar que Walcyr Carrasco não é o primeiro novelista da história a ser criticado enquanto coleciona sucessos. Quem viveu na pele isso foi Janete Clair. Hoje considerada a grande dama das telenovelas, a autora foi massacrada pela crítica especializada.
Enquanto olha para trás e, com pedaços de tudo que já fez, costura suas novas produções, Walcyr vai ganhando cada vez mais espaço no hall dos novelistas brasileiros. Se ele pode ser a Janete Clair do século 21, ninguém sabe dizer, talvez nem ele.
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