Publicado em 23/06/2019 às 09:01:57
A atuação da semana destaca o impressionante desempenho de Bianca Comparato à frente da série brasileira da Netflix, "3%". Na nova leva de episódios, a atriz rouba a cena com uma composição milimetricamente pensada para dar o ar dúbio para a personagem que varia entre uma grande mocinha e uma típica vilã.
É verdade que a terceira temporada foi lançada na semana passada. Porém, há duas métricas importantes na avaliação de elenco neste caso: a primeira é mais óbvia, o fato desta coluna ter assistido aos novos episódios apenas nesta semana e, a justificativa é a segunda delas, a própria gigante do streaming considera para sua audiência os primeiros 28 dias após o lançamento de um produto, ou seja, estamos dentro do período.
Posto isto, é preciso observar que a opção dos roteiristas da série brasileira optaram por um giro perigoso e que poderia comprometer toda a estrutura da série. Para as mudanças (este texto não terá spoilers, pode seguir) funcionarem era fundamental que o principal pilar da história funcionasse, a presença marcante da protagonista Michele.
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Se nas duas primeiras temporadas a personagem dividiu o protagonistas com outras pessoas, nesta ela toma conta da série. Primeiro porque o enredo foi criado para colocá-la numa tênue linha entre a mocinha e a vilã. Desde que "3%" estreou, Michele nunca foi uma personagem simples, mas a complexidade aumentou muito na terceira temporada e é impossível ao público decidir se trata-se de uma heroína ou uma pérfida vilã. Nem o papel de anti-heroína se encaixa.
Com tantas camadas o risco era imenso porque, uma interpretação superficial faria a condução do terceiro ano degringolar por completo. Porém, certamente os produtores contavam com o talento de Bianca Comparato.
Com uma interpretação minimalista que, quase sempre, foge do histrionismo da atuação e busca a composição pela frieza e dubiedade, a atriz construiu uma protagonista tão completa e apaixonante quanto o roteiro precisava. Bianca soube ler o texto e, mais importante, o sub-texto, acertando em cheio na entrega da sua Michele.
Ao se interpretar uma personagem com camadas de sutileza, um ator ou atriz deve buscar confundir o público. Se ele precisa do texto para isso, há um equívoco. Já Bianca utiliza o roteiro apenas como base para sua construção detalhada e planejada a cada detalhe, do tom de voz aos desvios de olhar.
O grande público conhece Bianca de "Avenida Brasil" (2012). No papel da "falsa Rita", a atriz serviu de escada para a história central e foi discreta o suficiente para permitir que as protagonistas brilhassem. A atriz apareceu pela primeira vez, no entanto, bem antes. Ela foi uma das filhas da espevitada Safira (Cláudia Raia) em "Belíssima" (2005).
Mais recentemente, a atriz foi destaque na minissérie "A menina sem qualidades" (2013), produzida pela MTV Brasil, onde foi a protagonista Ana. Por este papel, Bianca venceu o troféu APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) na categoria melhor atriz.
O destaque de Bianca nesta semana é também uma forma de abrir os olhos do público para produções e atuações de qualidade que fogem do senso comum que, via de regra, se encontra nas novelas da Globo. Por uma composição milimetricamente pensada, Bianca Comparato é a dona da atuação da semana.
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