Visão Panorâmica

Por que a Globo passou a explorar o jornalismo popularesco em seus programas matinais


Mariana Ferrão em Brumadinho
Mariana Ferrão apresentou o "Bem Estar" diretamente de Brumadinho nesta semana

A Globo surpreendeu o país com o método utilizado para cobrir a tragédia que se abateu na cidade de Brumadinho (MG). Praticamente toda a programação da emissora vem sendo dedicada ao tema, como é costume, porém, o tom dado para as reportagens chamou a atenção.

Isso porque, o que sempre foi criticado pela cúpula da emissora passou a ser utilizado com relativa frequência em sua programação: a exploração da desgraça alheia. Em busca de audiência, essa é uma estratégia utilizada há tempos na concorrência, principalmente na Record TV, SBT e Band.

Nos três canais citados, a exploração do sofrimento humano sempre foi a toada da programação, não apenas em coberturas de grandes tragédias. Programas dominicais se estabeleceram na audiência justamente com esse tipo de artifício que, mesmo criticado, sempre dá bons resultados em termos de audiência.

O “Domingo Legal”, nos idos de Gugu e também sob a batuta de Celso Portiolli, assim como o “Domingo Show”, de Geraldo Luís, nunca se importaram em explorar a miséria humana ao máximo, sob a justificativa de ajudar as pessoas. Esses programas são conhecidos mais pelas constantes lágrimas de convidados que pelos seus conteúdos.

Na Band, a exploração da desgraça é um pouco diferente. Por mais de uma vez a emissora foi acusada de passar do ponto na cobertura de casos trágicos e policialescos, sempre através do “Brasil Urgente”. Mesmo mal quem sofre é o “Cidade Alerta”, da Record TV.

Um caso muito didático sobre o tema se deu na RedeTV! Durante o sequestro de Eloá, em 2008, a apresentadora Sônia Abrão, do “A Tarde é Sua”, entrevistou ao vivo o namorado e sequestrador da jovem. O caso acabou em tragédia com o assassinato da adolescente e com a apresentadora acusada de ter prejudicado as negociações.

Se a Globo não era conhecida por este tipo de cobertura, nem em sua programação de entretenimento, muito menos no jornalismo que sempre prezou pela informação em detrimento da exploração, não é possível mais fazer essa afirmação. Principalmente após a cobertura de Brumadinho.

Caso Brumadinho: Por que a Globo passou a explorar o jornalismo popularesco em seus programas matinais

Os programas matutinos da emissora, como o “Bom Dia Praça” e “Bom Dia Brasil”, dois jornalísticos, exageram, deixando quase 90% do espaço apenas para o tema, muitas vezes repetindo reportagens e não apresentando nada de novo.

Pior acontece no “Mais Você” e no “Bem Estar”. Programas, em tese, de entretenimento, passaram a semana cobrindo exclusivamente o caso e mostrando familiares das vítimas sendo entrevistados em desespero. Por mais de uma vez o telespectador se deparou com um rio de lágrimas por parte de alguma vítima que mal tinha condição de falar.

Uma cena que se repetiu à exaustão ao longo da semana foi a jornalista e apresentadora do “Bem Estar”, Mariana Ferrão, consolando algum familiar. Houve um momento que uma mãe chorava desesperada a morte do filho no ombro da jornalista que continuava tentando arrancar respostas.

Com as constantes mudanças da televisão, o jornalismo ao vivo parece ter se consolidado na busca pela audiência e, ao que parece, a Globo entendeu a toada. Assim como parece ter entendido a necessidade de invadir o jornalismo cão em troco de um ou dois pontos de audiência. Se, em termos de publicidade, isso vai ajudar ou prejudicar, só o tempo pode dizer.

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