Coluna Especial

Em um ano de pandemia, audiência da TV cresce no Brasil

Fernando Morgado analisa o mercado de televisão durante a crise sanitária, que gerou reflexos tanto na audiência quanto no investimento publicitário


Jojo Todynho sorrindo durante a A Fazenda, à esquerda, e Karol Conká conversando dentro do BBB2, à direita, em montagem do NaTelinha
Jojo Todynho e Karol Conká foram participantes de realities na TV durante a pandemia - Foto: Montagem

Há exatamente um ano atrás, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarava pandemia de Covid-19. Esta doença já matou mais de 2,5 milhões de pessoas em todo o planeta. De cada 10 óbitos relacionados com o novo coronavírus, um aconteceu no Brasil, que registra seus piores indicadores desde sempre.

A crise é gravíssima, mas poderia ser ainda pior se não fosse o trabalho abnegado de muitos profissionais de comunicação. A televisão merece destaque, pois continua sendo a mídia mais consumida do mundo. As denúncias e informações difundidas pelos canais geram um inestimável impacto social. Sem esses conteúdos, certamente seria maior a quantidade de inconsequentes que insiste em dispensar máscara, frequentar festa clandestina e recusar vacina.

A televisão também se firmou como principal fonte de distração, algo fundamental para manutenção da sanidade mental nestes tempos difíceis. Nem a interrupção na produção de novelas foi capaz de afastar o público. Já os reality shows, notadamente o Big Brother Brasil e A Fazenda, ganharam novo vigor, transformando-se na válvula de escape ideal para parcela relevante da população. A cada paredão ou roça, o público descarrega sua tensão através de votações acachapantes.

O fato é que a TV, seja ela aberta ou paga, linear ou não linear, tem quebrado recordes de consumo. Nem o avanço da Internet, às vésperas do 5G, foi capaz de frear esse movimento, pelo contrário: a web tornou-se ainda mais dependente dos conteúdos televisivos. No Brasil, os programas de TV aberta e paga geraram, juntos, cerca de 350 milhões de tweets apenas em 2020.

O dado acima é parte do mais recente relatório lançado pela Kantar IBOPE Media. Intitulado Inside Video, o documento resume o desempenho da televisão ao longo do ano passado. Os números impressionam. O tempo médio de consumo de TV cresceu 37 minutos, saltando para 7 horas e 9 minutos por dia. A parcela de tempo dedicada ao jornalismo também aumentou: de 21% em abril de 2019 para 30% em abril de 2020. A média de audiência em 24 de março do ano passado superou a registrada nos dias de jogos da Copa do Mundo em 2018, na greve dos caminhoneiros em 2017 e na abertura e encerramento da Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016.

Na pandemia, TV foi referência da distração e da informação

A competição entre canais tradicionais e serviços de vídeo sob demanda (VoD, na sigla em inglês) impulsiona ainda mais o consumo de televisão, que deve ser compreendido como algo que vai além de grades de programação. Mas nem tudo são flores. É preocupante a falta de transparência das empresas de streaming, que geram um imenso volume de dados de consumo sem qualquer auditoria e, depois, divulgam somente alguns números de forma esparsa e rasa. O excesso de oferta de VoD é outro ponto de atenção. Você mesmo pode lançar a sua própria plataforma de vídeos. Existem templates gratuitos disponíveis na Internet.

Diante de um cenário tão complexo, impressiona a opinião de alguns que cobram dos canais de TV mais investimentos e inovações neste exato momento. É claro que todos nós queremos novidades, afinal, são elas que atraem espectadores, criam empregos e geram notícias que alimentam veículos especializados. Deve-se lembrar, porém, que vivemos uma crise profundíssima, com reflexos também na economia. Teve emissora que perdeu mais da metade do seu faturamento em apenas um mês, ao mesmo tempo em que se viu obrigada a interromper, por razões sanitárias, a produção de produtos importantes. Manter-se no ar e ainda conquistar mais audiência, mesmo diante de tantas adversidades, são dois feitos que precisam ser reconhecidos.

Além de proteção, a vacinação traz esperança. Quanto mais pessoas forem imunizadas, mais condições teremos de enxergar uma luz no fim desse longo túnel no qual a humanidade está. Enquanto isso, é preciso cuidar de si e do próximo. Informação faz parte disso. Distração em casa, também. E a televisão é referência em ambas. Sendo assim, apesar das incertezas, pode-se afirmar com total segurança que esse meio seguirá forte e relevante, para a alegria dos telespectadores e tristeza daqueles que chegaram a dizer que a TV estaria com os dias contados.


Sobre Fernando Morgado - Consultor e palestrante. Professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso. Membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora dos prêmios Emmy. Coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Possui livros lançados no Brasil e no exterior, incluindo Comunicadores S.A. (2019) e o best-seller Silvio Santos - A Trajetória do Mito (5ª edição em 2017). É um dos autores de Covid-19 e Comunicação - Um Guia Prático para Enfrentar a Crise (2020), obra publicada em português, espanhol e inglês. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Site: fernandomorgado.com

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