Coluna Especial

Disney+: Há espaço para tantas plataformas de streaming?

Plataforma da Disney chega no Brasil nesta terça-feira (17)


A atriz Dani Calabresa apresentando o especial da Disney+ dentro do estúdio
Dani Calabresa comandou especial do Disney+ / Foto: Reprodução/Disney Channel

Sou professor universitário e uma das disciplinas que leciono é a de Mercado Audiovisual. Nas aulas, uma pergunta surge com frequência: afinal, haveria mesmo espaço para os vários serviços de video on demand (VoD) que surgem a todo momento? Nem a pandemia foi capaz de frear a expansão desse setor, muito pelo contrário: o avanço das plataformas digitais e as mudanças no comportamento da audiência só se intensificaram durante a crise sanitária.

Existem 4.500 plataformas de streaming em todo o mundo, segundo estimativa apresentada durante a última edição da Expocine, principal evento da indústria cinematográfica na América Latina. Em 2019, havia 97 empresas registradas na Agência Nacional de Cinema (Ancine) tendo "portais, provedores de conteúdo e outros serviços de informação na internet" como sua atividade econômica principal. É esta a categoria que inclui, por exemplo, a Netflix.

O Disney+ desembarca em terras brasileiras justamente no ano em que outras plataformas estrangeiras fazem o mesmo, como a Pluto TV, da ViacomCBS, e as grandes plataformas nacionais, notadamente Globoplay e PlayPlus, reforçam seus catálogos e surfam na onda de reality shows que batem recordes de audiência. E outros serviços vem aí, como os da Band, do Discovery, da Warner (HBO Max) e da portuguesa SIC, que, através do OPTO, mira nos lusófonos espalhados pelo planeta.

Diante de tamanha concorrência, só há um caminho para que o Disney+ alcance um resultado à altura do tamanho da The Walt Disney Company: crescer. Muito. E rápido. Tal crescimento poderia se dar de duas formas: indo às compras ou firmando parcerias. A Disney escolheu ambas. As aquisições da Fox, LucasFilm, Marvel e Pixar ampliaram ainda mais o já extenso portfólio da casa do Mickey, que ganhou propriedades valiosas como National Geographic, Os Simpsons e Star Wars. Estas armas são importantes na guerra contra a Netflix, mas podem não ser suficientes para atrair o público acostumado aos conteúdos locais. É aí que entram as parcerias. Oferecer o Disney+ em conjunto com a brasileira Globoplay, a argentina Flow, do grupo Clarín, e a mexicana Izzi, do grupo Televisa, permite que a plataforma estadunidense tenha um enorme potencial de conquista de assinantes nos três maiores mercados latinos. E para enfrentar a Amazon e sua miríade de serviços comerciais, a Disney fechou acordo com o Mercado Livre, maior marketplace da América Latina, e com o Bradesco, um dos maiores emissores de cartão de crédito do Brasil.

Parcerias da Disney no Brasil

Disney+: Há espaço para tantas plataformas de streaming?

Catálogo e parcerias foram complementadas pela Disney com o anúncio de novas produções regionais e uma estratégia de comunicação extremamente agressiva. Ela envolveu até o pagamento por faixas do prime time das maiores TVs abertas latino-americanas, incluindo a Globo, que quase nunca alugou horário na sua história. Uma rara exceção foi o Programa Silvio Santos, que deixou a rede da família Marinho há quase 45 anos atrás.

Outro trunfo do Disney+ é o volume de conteúdos exclusivos. Tem a ver com isso a retirada das produções Disney da Netflix, do DVD e do Blu-Ray, além da mudança na política de licenciamento para emissoras de TV e o fechamento de alguns canais pagos do grupo. Apenas as salas de cinema saíram ilesas, ao menos por enquanto. Mas será que o Disney+, diante de tanta concorrência, gerará um resultado financeiro suficiente para compensar aquilo que a companhia deixará de ganhar ao sair de tantas janelas de exibição? Ainda é cedo para saber. Resta apenas esperar para conferir os próximos capítulos dessa saga (literalmente) hollywoodiana que envolve bilhões de dólares em faturamento e o futuro do entretenimento na Terra. Que a força esteja com você, espectador.


Sobre Fernando Morgado - Consultor e palestrante. Professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso. Membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora dos prêmios Emmy. Coordenador-adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Possui livros lançados no Brasil e no exterior, incluindo Comunicadores S.A. (2019) e o best-seller Silvio Santos - A Trajetória do Mito (5ª edição em 2017). É um dos autores de Covid-19 e Comunicação - Um Guia Prático para Enfrentar a Crise (2020), obra publicada em português, espanhol e inglês. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Site: fernandomorgado.com

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