Atuação da semana: Simone Spoladore cria mocinha convincente em Éramos Seis
Atriz tem emprestado ares de tristeza para a personagem
Publicado em 03/11/2019 às 05:12
A volta de Simone Spoladore à Globo tem se mostrado uma escolha acertada na escalação de sua Clotilde em Éramos Seis. A irmã solteirona de Lola (Glória Pires) tem recebido várias cenas de sofrimento e tristeza no período em que decidiu terminar tudo com Almeida (Ricardo Pereira).
Interpretar uma personagem dentro de uma trama protagonizada por Glória Pires não é sempre tarefa fácil, ainda mais quando o papel é de contar a história de amor para arrebatar o coração do público. Disputar os olhares de público e crítica com a experiente atriz é um exercício hercúleo e que poucos têm capacidade para conseguir.
Mas Simone Spoladore se mostrou uma escolha acertada. Se sua Clotilde levou um tempo para engrenar, a atriz soube esperar o momento certo para oferecer sua dose de composição na fase em que a personagem cresceria e ganharia envergadura.
Numa novela em que a proposta da direção é a sutileza, Simone trilha um caminho que se assemelha muito a da protagonista ao baixar o tom de voz e mostrar a posição de submissão das mulheres da época ao aparecer quase sempre alguns centímetros menor em cena. Quase sempre com os olhos menos abertos do que a maioria, a atriz construiu uma mocinha em que o sofrimento se dá na expressão constante de uma mulher que sofre por amor.
Para o público conservador de uma novela das 18h, certamente o acerto da escalação foi uma grata surpresa, já que a atriz não era vista na tela da Globo em muito tempo. Mas quem acompanha o universo da dramaturgia e sabe que existe vida inteligente fora da Globo, não houve qualquer novidade no trabalho de Spoladore.
A atriz experimentou seu talento a pelo menos dois trabalhos diferentes nos últimos. Em Magnífica 70, da HBO, ela viveu uma anti heroína que tinha uma interpretação explosiva e que não se importava de passar do ponto da sensualidade quando a cena pedia.
Um pouco antes, ela foi a protagonista de Pecado Mortal, única imersão de Carlos Lombardi na dramaturgia da Record. Ao se submeter ao ácido e ágil texto do novelista, a atriz mergulhou para compôr uma Patrícia cheia de nuances e com mil caras e bocas, sem nenhuma moderação como se vê agora.
Simone Spoladore percebeu que uma Clotilde crível passava obrigatoriamente por uma composição livre de histrionismo, oferecendo ao telespectador respostas menos evidentes e através de uma leitura mais simbiótica do texto sutil com a interpretação naturalista.
Por conta de um retorno difícil à tela da Globo em que ela matou de peito e vem fazendo um golaço, Simone Spoladore é a atuação da semana.