Após várias tentativas, Globoplay acerta a mão com "Aruanas"
Produção poderia pecar pela panfletagem, mas faz o oposto
Publicado em 03/07/2019 às 05:50
A Globo vai exibir na noite desta quarta-feira (03) o primeiro episódio de "Aruanas", série original Globoplay que conta com 10 episódios em sua primeira temporada, todos já liberados para os assinantes da plataforma de streaming do Grupo Globo desde a última sexta (28).
Essa é mais uma tentativa do serviço em produzir conteúdo exclusivo de qualidade. Antes dela, foram lançadas séries como "Ilha de Ferro" e até minisséries como a que está no ar atualmente na TV aberta, "Assédio". Neste ano, o streaming também já liberou os episódios da primeira temporada de "Shippados".
Quem acompanha o universo de séries sabe o quanto a linguagem é diferente das telenovelas brasileiras. As grandes produções que reúnem prestígio e repercussão, como "Breaking Bad" e, mais recentemente, "The Handmaid's Tale", fogem completamente do estereótipo na linguagem das telenovelas brasileiras.
E faltava isso às produções nacionais. Não apenas no Globoplay, mas também a outras empresas, como a própria Netflix, que reúne grande expertise no formato, no Brasil lançou algumas tentativas como "3%" e "Coisa Mais Linda". Em comum, todas elas tinham sempre aquele quê de telenovela. Seja pelo excesso de didatismo ou pelo padrão de posicionamento de câmera e até mesmo pelo roteiro superficial.
Faltava. Não falta mais. Quem assistiu a primeira temporada de "Aruanas" sabe que trata-se da melhor série brasileira que já foi produzida. Completamente distante do universo das telenovelas, ela não se furta de exibir episódios intensos e cheio de acontecimentos. A começar por fugir do tom maniqueísta com mocinhos e vilões, nessa produção todos são humanos e passíveis de erros e acertos.
A série que acompanha a vida de três ativistas lutando pelo Meio Ambiente poderia incorrer num risco grave, o de ser panfletária, mas a produção segue o caminho oposto. Com texto forte de Estela Renner e Marcos Nisti, com direção artística de Carlos Manga Jr, "Aruanas" consegue mostrar a luta em favor do ambiente num contexto de dramaturgia, o que torna tudo ainda mais atraente.
Em "Aruanas" não há sobras, como acontece em telenovelas e também nas produções tupiniquins de séries. Todo diálogo está ali por alguma razão - que pode ou não ser explicada - e, principalmente, todo personagem é uma alegoria importante para a narrativa da história. E o diálogo, fundamentalmente, funciona como deve ser no audiovisual, como subtexto. "O texto, no audiovisual, é a imagem, não o diálogo", já dizia Tiago Dottori, roteirista experiente e que assina o texto de "Turma da Mônica - Laços".
Se o roteiro faz da produção a melhor já criada pelo Globoplay, a direção não fica atrás. Com uma câmera nada discreta e quase invasiva, o público se permite vivenciar os dramas das personagens e também é instigado pelo tom de mistério e ação que constantemente muda de rumo e provoca uma onda de emoções no espectador. Mérito de Carlos Manga Jr., que não demonstrou os vícios dos atuais diretores brasileiros.
E para fechar o tripé que torna "Aruanas" muito atrativa, está o elenco. Se todos merecem mérito, a começar por Débora Falabella. A Nina de "Avenida Brasil" entrega uma das melhores interpretações de sua carreira e emociona. O mesmo acontece com Leandra Leal que fugiu do estereótipo criado em "Cheias de Charme", com uma protagonista com tintas fortes e cheia de personalidade.
Mas o maior destaque, sem exceção, é Taís Araújo. Uma das grandes atrizes do Brasil entrega uma das mais intensas composições do ano e acrescenta muito valor artístico para a produção. Não é exagero dizer que Taís Araújo é a dona de "Aruanas".
Se as séries, no Brasil, sempre foram consideradas produtos de sub dramaturgia, ficando aquém das novelas, isso não acontece em "Aruanas". A produção que já está confirmada para a segunda temporada, vale cada minuto e já chegou liderando o ranking das produções nacionais deste ano.