Quarta Parede

Dez anos depois, A Vida da Gente ainda mexe com o espectador

Sem ser essencialmente popular, novela de Lícia Manzo conseguiu envolver, mais uma vez, com os conflitos entre as irmãs Ana e Manuela


Marjorie Estiano, Nicette Bruno e Fernanda Vasconcellos em cena da novela A Vida da Gente, reprisada na Globo após 10 anos
No desfecho de A Vida da Gente, Ana e Manuela colocam um fim às brigas, para a alegria da avó, Iná - Foto: Reprodução/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 07/08/2021 às 17:30,
atualizado em 08/08/2021 às 13:53

Nos últimos meses, um dilema que tomou as redes sociais em 2011 voltou a ser assunto: de que lado você está, de Ana (Fernanda Vasconcellos) ou de Manuela (Marjorie Estiano)? As personagens centrais de A Vida da Gente, novela de Lícia Manzo cuja reprise especial chegou ao fim nessa sexta-feira (6), mobilizaram novamente o espectador, 10 anos depois da primeira exibição do folhetim.

Dirigida por Jayme Monjardim, A Vida da Gente não é uma novela essencialmente popular. Não há entrechos manjados ou mesmo um texto mais mastigado para fácil assimilação do público. Ao contrário, a autora apostou na complexidade de seus personagens e das relações familiares, fio condutor da trama.

Em geral, as cenas são pautadas unicamente por diálogos, em detrimento da ação. O roteiro é caprichado, nada preguiçoso, e, por isso, tão envolvente. Em qualquer postagem do NaTelinha sobre a novela no Facebook, Twitter ou Instagram, há torcidas acaloradas em favor de Ana, mas também quem defenda a conduta de Manuela, em prejuízo da irmã.

Ainda que os números de audiência tenham se mantido no mesmo patamar das reprises antecessoras, Novo Mundo e Flor do Caribe, essas duas não chegam perto da comoção causada pela história de Lícia Manzo, talvez maior hoje, passados 10 anos de sua exibição original, do que quando foi ao ar pela primeira vez.

Curioso notar que, apesar de parecer centrada em uma rivalidade entre Ana e Manuela, ambas apaixonadas por Rodrigo (Rafael Cardoso), as irmãs passam a maior parte da história unidas. Mesmo nos momentos de atrito, a mágoa nunca deixa de suplantar a fraternidade entre elas. É justamente esse afeto, personificado na filha em comum, Júlia (Jesuela Moro), que sela a paz entre as duas, nos últimos capítulos.

A Vida da Gente chega ao fim com um brinde ao tempo, e mensagem não poderia ser mais oportuna

Dez anos depois, A Vida da Gente ainda mexe com o espectador

Mais um ponto crucial para a identificação da audiência: sem apelar para arquétipos – uma poderia assumir o lugar de mocinha e a outra, de vilã –, a trama entrega duas personagens muito próximas da realidade, cada uma com suas falhas, possibilitando que ambas conquistem sua parcela de público.

As brigas entre as duas chegam ao ápice em uma discussão homérica, que foi ao ar em 20 de julho. Com 8 minutos de duração, é a sequência mais marcante da novela, serve de clímax para a parte final da narrativa e ainda faz brilharem as duas intérpretes, Fernanda Vasconcellos e Marjorie Estiano.

Pode-se dizer que A Vida da Gente subverteu alguns clichês. A rivalidade entre irmãs passou longe do maniqueísmo e a aposta em conflitos familiares também não seguiu caminhos fáceis, comuns aos folhetins. O bom texto rendeu momentos de grande inspiração para outras atrizes, como Ana Beatriz Nogueira (Eva) e Nicette Bruno (Iná), ambas em alguns de seus melhores momentos na televisão.

A veterana, aliás, dá o recado ao fim da história: “Tudo muda, só o tempo permanece do mesmo modo, passando”. Pena que a atriz, vítima da Covid-19 em dezembro, não tenha podido rever, no ar, um de seus grandes trabalhos. A mensagem, dita há 10 anos, não poderia ser mais oportuna: pela novela, que sobreviveu ao tempo, e pelo momento de pandemia em que é reprisada – precisamos mesmo acreditar que ele vai passar.

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