Quarta Parede

Com Helena pobre, mãe solo e feminista, Felicidade chega ao Globoplay

Novela de 1991 deu início a sequência de sucessos de Manoel Carlos na Globo


Maitê Proença e Tatyane Goulart em cena de Felicidade; novela está de volta, no Globoplay
Maitê Proença e Tatyane Goulart viveram Helena e Bia, mãe e filha em Felicidade - Foto: Reprodução/Globo

Felicidade, novela de Manoel Carlos exibida entre 1991 e 1992, chega ao Globoplay nesta segunda-feira (21). Bem recebida pelo público da época, a trama deu início à fileira de sucessos do autor em seu retorno à Globo. Se comparada aos títulos que a seguiram, é a que mais se difere, a começar pela protagonista Helena, aqui defendida por Maitê Proença: pobre, mãe solo e com um quê feminista, totalmente independente dos homens que a cercam.

Com passagens e personagens inspirados em contos do escritor mineiro Aníbal Machado (1894-1964), Felicidade acompanha a trajetória do amor entre Helena e Álvaro (Tony Ramos), que começa na fictícia Vila Feliz, no interior de Minas Gerais, e prossegue no Rio de Janeiro. Uma série de circunstâncias impede que o casal fique junto e, por isso, ela que o amado é o pai de sua filha, Bia (Tatyane Goulart). Após passagem de tempo, a menina cresce e passa a pressionar a mãe para saber a verdade sobre sua origem.

A novela marcou o retorno de Manoel Carlos à Globo nove anos após seu último trabalho na emissora, Sol de Verão (1982). A boa audiência de Felicidade garantiu que ele voltasse ao ar três anos depois com História de Amor (1995), outro sucesso às 18h, que o alçou ao horário nobre, em que fez Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003) e outras.

Essas duas últimas citadas, em reprise na Globo e no canal Viva, respectivamente, apesar de repetirem a boa recepção das primeiras exibições, têm gerado certa estranheza aos olhos de 2020. Há quem identifique doses de elitismo e machismo no texto de Manoel Carlos, muito mais um reflexo da época em que foram ao ar do que tão somente marcas do autor. A quem está acostumado a associar tais características às histórias do novelista, Felicidade pode surpreender.

Com Helena pobre, mãe solo e feminista, Felicidade chega ao Globoplay
Com apenas 20 anos, Vivianne Pasmanter fez sua estreia em novelas como a mimada Débora - Foto: Reprodução/Globo

Há núcleos ricos em Felicidade, a começar pelo da vilã Débora (Vivianne Pasmanter, estreando em novelas com segurança de veterana), mas esses são minoria. Da literatura, veio a história de Tuquinha (Maria Ceiça), porta-bandeira que vive no subúrbio e é vítima de uma relação abusiva e violenta com o ex-namorado Tide (Maurício Gonçalves). Vários outros personagens compõem um leque menos arraigado à Zona Sul carioca.

A própria Helena de Maitê Proença se distancia das xarás pela origem humilde e interiorana. Um dos objetivos que a levam a migrar para o Rio de Janeiro é justamente crescer na vida e garantir o sustento da família. Passeios de helicóptero e viagens improvisadas para a Inglaterra ou para o Japão estão longe de sua realidade.

A protagonista é jovem e impetuosa, privilegia a sua realização pessoal antes de pensar em se acertar com seus pretendentes. Bate de frente com a mãe conservadora, Ametista (Ariclê Perez, em um de seus melhores trabalhos na TV). Dotada também de maior egoísmo e menos escrúpulos que outras das heroínas do autor, forja uma gravidez para manipular o marido Mário (Herson Capri) e, a fim de simular o aborto, enterra um caixão com tijolos.

Apesar das diferenças, assim como as demais novelas de Maneco revisitadas pelo grande público recentemente, Felicidade traz a sensibilidade do autor em tratar das emoções humanas, com foco nos dilemas cotidianos e familiares. Prova de tal capacidade é que suas criações, a despeito de um retrato social impalatável aos dias de hoje, continuam despertando o interesse da audiência.

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