Coluna Especial

Histórias do Domingo Legal: Criação do Táxi, Banheira e Helicóptero do Gugu

Ao NaTelinha, Homero Salles, um dos criadores do Domingo Legal e ex-braço-direito de Gugu Liberato, assina artigo sobre o programa


Gugu Liberato como diretor Homero Salles num montagem de uma antiga foto do programa Domingo Legal
Domingo legal completa 30 anos no SBT em 2023 - Foto: SBT/Montagem

O Domingo Legal é um filho meu, do qual me orgulho muito. Ele fez parte de uma transição. Nós fizemos um programa de domingo, provisório, era um programa musical que o Magrão tocava sozinho: o Domingugu (1993). Durante essa transição, juntei 20 pessoas mais ou menos. Dentre elas, até a Monica Pimentel, que hoje é a bam-bam-bam da Discovery, e mais um pessoal criativo.

E começamos a lançar um programa, que viria a substituir o Domingugu que estava provisório na grade do SBT, e criamos quadros para ele. Essa criação durou uns três meses, isso é inédito, uma televisão deixar um pessoal desse tamanho trabalhando única e exclusivamente na elaboração de uma atração. Nesse período nasceram quadros que se tornaram ícones do Domingo Legal. Por exemplo, o lançamento dos paraquedas de helicóptero. Foi um trabalho em que procuramos o Comandante Hamilton, que não era do ramo, e ele topou. A história de lançar os paraquedinhas fizeram um sucesso muito grande.

Junto, veio um quadro que eu trouxe, da Corrida Maluca, que a família maluca fez uma ou duas vezes no programa, que era procurar sabonetes na banheira com os participantes. E eu adaptei isso para que uma dessas pessoas, que eram três homens e três mulheres, uma delas era escolhida para poder entrar na banheira e buscar o sabonete com Solange Gomes, Luiza Ambiel, etc. Neste momento veio o carro-chefe, que era o Táxi do Gugu.

O táxi foi algo muito interessante. Eu tava indo para uma feira de Cannes com o Gugu Liberato (1959-2019) e tomamos um táxi e o taxista era uma figura, começou a falar coisas, misturava espanhol, português, francês, a gente ria com ele, e chegou uma hora que a gente brincou que deveriam estar filmando no táxi. Era tanta barbaridade que ele falava, fazia e contava os "causos" dele, que a gente falou "pô, cadê a câmera?". E daí surgiu a ideia do táxi, e foi o grande carro-chefe do Domingo Legal.

O Domingo Legal se caracterizava muito pela ousadia. Depois que eu descobri que a porta do estúdio abria, eu criei um novo mundo e esse mundo começou ali na rua paralela do Teatro Silvio Santos.

E depois tomou a Avenida Ataliba Leonel, com a polícia fechando inclusive quatro quarteirões pra gente. E lá fora eu fazia camiseta molhada pra descobrir segredo do cofre, luta de gel na lama, labirinto de cachorros, prova do homem mais forte do mundo, Rambo... Uma série de quadros que eram feitos na rua, fora do Teatro. Isso ampliou muito o Domingo Legal.

A disputa do Ibope do Domingo Legal contra a Globo

Histórias do Domingo Legal: Criação do Táxi, Banheira e Helicóptero do Gugu

O Domingo Legal pegou aquele auge dos cantores. Os grandes lançamentos que iam pra gente, faziam sucesso no domingo e às vezes batiam a Globo. O Domingo Legal teve uma fase, entre 2001 e 2002, que ele ganhou direto da Globo. Ele tinha uma repercussão muito grande.

Homero Salles

E a gente podia inventar, o Silvio sempre deu muita liberdade para que a gente inventasse. A divisão era assim: o Roberto Magrão ficava com a parte musical e eu ficava com a parte dos quadros, minha equipe era voltada para a parte de criatividade e produção e o Magrão tinha a responsabilidade dele com os musicais do programa. E a gente se dava muito bem porque a divisão não interferia um no outro.

Com a criatividade dos quadros, eu deitava e rolava. Foi daí que surgiram quadros como o Gugu na Minha Casa, em que a gente visitava o telespectador que mandava carta e fazia a brincadeira do sininho, da buzina. Como o Silvio proibia que a gente fizesse câmeras escondidas, nós arrumamos uma variante, que era aquela, não era bem pegadinha, mas tinha o jeito da pegadinha, e também fez muito sucesso.

A gente também fazia muito encontros, já indo pra parte mais de emoção, como o De Volta para a Minha Terra, era um sucesso estrondoso, porque tem o lado da identificação com o povo mais necessitado e curiosidade de outras classes, para ver como a coisa funcionava, principalmente para os migrantes, que vinham do Nordeste.

Histórias do Domingo Legal: Criação do Táxi, Banheira e Helicóptero do Gugu

Aqui em São Paulo, nem todos se davam bem e queriam voltar para as suas terras e a gente criava as condições ideais para que eles retornassem. Assim também, como uma espécie de, eu não gosto dessa palavra, mas como uma espécie de assistencialismo, existiam as reformas e as construções das casas. As reformas eram mais simples, mas nas construções a gente saía do zero, e levantava casa de 300 metros.

Homero Salles

Fiz casa em Belo Horizonte (MG) de mais de R$ 800 mil de custo. Isso também chamava muita atenção, porque a gente sempre procurava um diferencial na casa, como uma piscina diferente. Sempre tinha um acréscimo, a arquiteta fabulosa, com muita criatividade. Fizemos também aquele resgate de expatriados.

Fui buscar família que morava no porão em Nova York, família que tinha sofrido terremoto na Itália, jóquei que caiu do cavalo e perdeu o emprego na Irlanda, e culminou com uma família que eu fui buscar no Haiti. O marido tinha vindo refugiado, deixou a família pra trás. A gente foi buscar e estávamos dando muito mais que o Fantástico na época. Foi um dos últimos programas que a gente fez.

Eu lembro do número, a gente estava dando 18 e o Fantástico 14. Então, o Domingo Legal, se eu fosse resumir, resumiria como "um pouco de tudo que nós fizemos na nossa vida".

O Domingo Legal era um bocadinho, um resultado final de muitos quadros, muitas coisas que eu e Gugu tínhamos na cabeça e aplicamos no Domingo Legal. E tanto é que a gente fazia coisas que ninguém esperava, como pendurar um caminhão a 13 metros de altura e descer o caminhão reformado, coisas assim, muito grandiosas, que acabaram, você não vê mais isso na televisão. E eu vou te dizer o por quê. Porque dá preguiça pras pessoas fazerem, dava muito trabalho fazer o Domingo Legal, era uma equipe de mais de 56 pessoas, cheguei a quase 60 pessoas na equipe. E era assim: "Tal coisa é fácil? Deixa quieto. Tal coisa é difícil? Vamos fazer. Tal coisa é impossível? Opa, é isso que eu quero".

Homero Salles

Porque a nossa briga era de guerrilha contra o Domingão do Faustão que tinha uma qualidade de produção muito bem feita. E o elenco de atores e atrizes da Globo auxiliavam muito na sua audiência. Então, a gente tinha que partir pra guerrilha e chamar a atenção de maneira absurda, com quadros com muita emoção, que eram o nosso forte, e coisas grandiosas.

Acho que o Domingo Legal, não diria que é meu programa preferido, meu programa preferido sempre foi o Nações Unidas (1992-1993), um programa que nem teve tanto ibope, mas tinha uma produção extremamente elaborada, mas o Domingo Legal com certeza é o carro-chefe de todos os programas, a maior lembrança que tem, junto com o Viva a Noite, é ícone.


Homero Salles foi diretor do Programa Silvio Santos e das principais atrações comandados por Gugu Liberato no SBT e Record. Ele foi um dos criadores do Domingo Legal e acabou se tornando braço-direito de Gugu. Desde novembro de 2022 é diretor de entretenimento da Band.

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