Atuação da Semana: Débora Bloch tenta salvar Mar do Sertão e brilha no caos
Atriz tem tirado leite de pedra numa fase em que nada parece fazer sentido na novela
Publicado em 11/12/2022 às 09:00
Quando algo dá certo, tudo parece funcionar. Por outro lado, brilhar no meio do caos não é tarefa fácil, por isso o trabalho de Débora Bloch em Mar do Sertão é digno de nota alta. A vilã Deodora descambou para o folhetim barato em que distribui maldades apenas para tentar fisgar a audiência, mas sem grande construção narrativa. Mesmo assim, o desempenho da atriz chama a atenção com uma personagem quase indefensável.
Todos os erros que uma vilã poderia ter em sua formação Deodora tem. A falta de um objetivo que seja claro desde o primeiro capítulo, a onda de sentimentos equivocados, porém invejados pelo público e a prova desde sempre da capacidade de fazer qualquer coisa, até as impensáveis, para quando isso acontecer não soar estranho. A antagonista de Mar do Sertão apresenta todos os defeitos que fazem qualquer personagem fadada ao fracasso.
Não nas mãos de Débora Bloch. Se na primeira fase da trama, quando a fazendeira mais parecia uma dondoca rica em preconceitos, a atriz brilhava, agora ela vai além. Nenhuma das atitudes recentes de Deodora são amparadas por algum senso de lógica narrativa, mas a interpretação parece um diamante no meio de porcos.
Com tamanho absurdo na onda de atitudes sem pé nem cabeça só para tentar chocar o público, qualquer artista menos experiente ou mais preguiçoso faria um caminho óbvio: ir para a caricatura. Esse erro aconteceu diversas vezes em novelas, algumas de sucesso como a Nazaré Tedesco, defendida com todos os exageros possíveis por Renata Sorrah, ou a péssima Tereza Cristina, de Christiane Torloni.
Bloch é madura o suficiente para ter enxergado nesses e em outros exemplos que a composição assim fica over. Pode até cair nas graças do público, mas perder densidade e viés artístico, descambando para o entretenimento barato. Há quem defenda, mas normalmente um ator gosta de brilhar pela sua capacidade de compor. Foi o que ela fez com a Deodora.
Ao enxergar um texto que passa do limite do absurdo e perceber que a personagem não fazia sentido, Débora optou por dar dignidade ao invés de pisar o pé na jaca. A atriz construiu uma vilã que acredita nas maldades que faz em prol de uma família que ela própria tenta destruir. Em idos de que a realidade faz menos sentido que a ficção, Deodora é uma vilã muito fraca, mas que ganha dignidade pelas mãos da ótima atriz. Bloch vem brilhando no caos.