Opinião

Atuação da Semana: Débora Bloch tenta salvar Mar do Sertão e brilha no caos

Atriz tem tirado leite de pedra numa fase em que nada parece fazer sentido na novela


Cena de Mar do Sertão com Deodora, de Débora Bloch
Débora Bloch brilha como Deodora - Foto: Reprodução/Globoplay

Quando algo dá certo, tudo parece funcionar. Por outro lado, brilhar no meio do caos não é tarefa fácil, por isso o trabalho de Débora Bloch em Mar do Sertão é digno de nota alta. A vilã Deodora descambou para o folhetim barato em que distribui maldades apenas para tentar fisgar a audiência, mas sem grande construção narrativa. Mesmo assim, o desempenho da atriz chama a atenção com uma personagem quase indefensável.

Todos os erros que uma vilã poderia ter em sua formação Deodora tem. A falta de um objetivo que seja claro desde o primeiro capítulo, a onda de sentimentos equivocados, porém invejados pelo público e a prova desde sempre da capacidade de fazer qualquer coisa, até as impensáveis, para quando isso acontecer não soar estranho. A antagonista de Mar do Sertão apresenta todos os defeitos que fazem qualquer personagem fadada ao fracasso.

Não nas mãos de Débora Bloch. Se na primeira fase da trama, quando a fazendeira mais parecia uma dondoca rica em preconceitos, a atriz brilhava, agora ela vai além. Nenhuma das atitudes recentes de Deodora são amparadas por algum senso de lógica narrativa, mas a interpretação parece um diamante no meio de porcos.

 

Com tamanho absurdo na onda de atitudes sem pé nem cabeça só para tentar chocar o público, qualquer artista menos experiente ou mais preguiçoso faria um caminho óbvio: ir para a caricatura. Esse erro aconteceu diversas vezes em novelas, algumas de sucesso como a Nazaré Tedesco, defendida com todos os exageros possíveis por Renata Sorrah, ou a péssima Tereza Cristina, de Christiane Torloni.

Bloch é madura o suficiente para ter enxergado nesses e em outros exemplos que a composição assim fica over. Pode até cair nas graças do público, mas perder densidade e viés artístico, descambando para o entretenimento barato. Há quem defenda, mas normalmente um ator gosta de brilhar pela sua capacidade de compor. Foi o que ela fez com a Deodora.

Ao enxergar um texto que passa do limite do absurdo e perceber que a personagem não fazia sentido, Débora optou por dar dignidade ao invés de pisar o pé na jaca. A atriz construiu uma vilã que acredita nas maldades que faz em prol de uma família que ela própria tenta destruir. Em idos de que a realidade faz menos sentido que a ficção, Deodora é uma vilã muito fraca, mas que ganha dignidade pelas mãos da ótima atriz. Bloch vem brilhando no caos.

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