Dia Internacional da Mulher

A mulher, a dramaturgia e a sociedade puritana

Cenas de mulheres sempre chocaram e revelaram um Brasil machista


Tela dividida com Malu, de Malu Mulher, e Rebeca, de Um Lugar ao Sol
Rebeca e Malu marcaram gerações e merecem ser citadas no Dia Internacional da Mulher
Por Taty Bruzzi

Publicado em 08/03/2022 às 04:00,
atualizado em 08/03/2022 às 09:42

"Metade do mundo são mulheres, a outra metade são filhos delas". Durante a transmissão do Domingão com Huck no último final de semana (6), Luciano Huck citou a frase de Niedja Santana, candidata a vereadora nas eleições de Pernambuco em 2020, para lembrar que no dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher.

Em seu discurso, o apresentador agradeceu o fato de viver cercado por mulheres fortes, chamou a atenção para o índice baixíssimo de mulheres ocupando grandes cargos em empresas públicas e privadas, e sugeriu que se a Rússia hoje fosse comandada por uma mulher não haveria guerra contra a Ucrânia.

Se tratando de televisão, na década de 80 tivemos grande representatividade com o programa TV Mulher (1980-1986), que contava com um time de profissionais de alto escalão como a jornalista Marília Gabriela e a sexóloga Marta Suplicy, por exemplo.

Com abordagens sobre o universo feminino que iam além de make, moda e afazeres domésticos, a atração foi um marco na história da televisão brasileira e da Globo.

A mulher, a dramaturgia e a sociedade puritana

Um ano antes da estreia do programa matinal, a mesma emissora colocava no ar a série Malu Mulher (1979-1980). Com direção de Daniel Filho e tendo Manoel Carlos como um dos roteiristas, a atração era estrelada por Regina Duarte no papel de uma socióloga, mãe de uma adolescente, que se separava depois de sofrer violência doméstica.

Além do divórcio, algo ainda não muito aceito pela sociedade da época, a obra quebrou tabus ao falar sobre a mulher e o mercado de trabalho, menstruação e o uso da pílula anticoncepcional, por exemplo. Foi também responsável por retratar o primeiro orgasmo feminino da TV brasileira.

Quando se fala em quebrar tabus é mais do que a coragem em abordar determinado assunto em um veículo de massa, é também a aceitação do telespectador com o tema sugerido.

Curiosamente, mais de 40 anos depois da cena icônica, Lícia Manzo tentou repetir o feito com Andrea Beltrão em Um Lugar ao Sol, quando a personagem Rebeca se masturba e sente prazer sozinha, enquanto o marido infiel a observa com ar de deboche.

Quebrou tabu em horário nobre? Talvez! Teve a mesma repercussão positiva de Malu Mulher? Não, já que não faltaram críticas no grande tribunal que se tornou as redes sociais, alegando que a cena foi desnecessária e/ou apelativa. 

A mulher, a dramaturgia e a sociedade puritana

Curiosamente, a mesma novela que abordou a masturbação feminina como algo natural, tirou e colocou uma mulher do armário. Na trama, Ilana (Marina Lima) reencontra Gabriela (Natália Lage), uma amiga apaixonada por ela desde a época da adolescência.

A aproximação das duas, e a decepção com um casamento hétero falido, fez com que a empresária sentisse algo mais pela médica, embora achasse improvável ser bissexual.

Confusa, ela preferiu se afastar. Depois, se deu conta de que já não podia mais se privar deste sentimento e se declarou. Rolou até beijo e o público aplaudiu. Peraí, o mesmo que reprovou o prazer na ponta dos dedos. Estou confusa!

Recapitulando... Na sequência, a prima da Rebeca, achou de bom tom manter o namoro às escondidas assim que o ex-marido, Breno (Marco Ricca), flagrou Gabriela brincando com a filha do casal, e questionou se elas estavam juntas. Já se sabe que a obstetra irá se impor e Ilana terá que decidir se assume ou não.

A mulher, a dramaturgia e a sociedade puritana

Mudando de foco, mas não de obra, pegamos como exemplo a mulher e o mercado de trabalho em Um Lugar ao Sol. No núcleo principal, Santiago (José de Abreu) é um empresário bem-sucedido, pai de três filhas que ainda vivem de mesada. Oi?

Casada com Renato/Christian (Cauã Reymond), além de ser sustentada pelo pai, Bárbara (Alinne Moares) ainda tem que suportar o marido sendo bajulado pelo sogro que o vê como possível sucessor.

Em uma sociedade realmente contemporânea, uma das herdeiras, ou até mesmo as três, poderiam ocupar cargos importantes no conglomerado do pai, ao invés de se contentarem com a possível posição de primeira-dama, recatada e do lar.

Personagem mais revolucionária das três irmãs, Rebeca, a mesma do... já sabe, né... ainda deu uma escapadinha e namorou Felipe (Gabriel Leone), 20 anos mais novo do que ela, e ex-namorado da melhor amiga da filha da ex-modelo.

O que aconteceu? Cecília (Fernanda Marques), o pai, as irmãs, o baile todo, caíram em cima da quarentona. Mas Santiago não casou com Érica (Fernanda de Freitas), uma mulher também uns 20, 30 anos mais jovem? O que falaram dele? Nada! Já dela...

Saindo da ficção e partindo para a realidade, Dia Internacional da Mulher e a sensação que temos é a de que a caminhada é longa, a estrada cheia de pedras e nem sempre perfumada como as rosas que vamos ganhar hoje no supermercado da rede Redentor. A propósito, eu adoro rosas!

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