Publicado em 02/09/2019 às 11:08:52
Praticamente 10 anos após sua última aparição no “Vale a Pena Ver de Novo”, Manoel Carlos retornou à faixa de reprises da Globo. “Por Amor”, título que marcou a volta do autor ao horário das nove em 1997 (quando ainda era “das oito”), foi escolhida para substituir “Cordel Encantado” (2011), elogiada trama de Duca Rachid e Thelma Guedes, que havia levantado a audiência do vespertino. A decisão não poderia ser mais acertada: além de manter a alta do Ibope, a história conquistou um público fiel, que se emociona e curte a história como se fosse a primeira vez.
Não é difícil entender os méritos. A história, originalmente escrita em 1983 (logo após “Sol de Verão”, cujo fim foi adiantado devido à morte de Jardel Filho), foi inspirada em uma notícia de jornal lida por Maneco. Após tentativas de produzi-la às seis, Boni aceitou lançar a história na faixa das oito, atendendo ao desejo do autor. Com um enredo principal forte, em que a Helena da vez (Regina Duarte pela segunda vez no posto), apegada à filha Maria Eduarda (Gabriela Duarte), troca o seu filho recém-nascido pelo neto morto, a novela chama atenção não apenas por seu texto primoroso, mas pela construção das relações humanas entre os personagens.
As atitudes de Helena perante a filha, em função de sua superproteção, bem como a substituição dos bebês, geram discussão sobre até onde a protagonista foi egoísta ou amorosa com Eduarda e com todos os que a rodeiam. Não à toa, é considerada a melhor e mais complexa de todas as Helenas já criadas por Maneco, em contraponto a outras de mais fácil identificação – embora não menos interessantes e bem desenhadas (como a de Laços de Família, novela seguinte do autor).
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Outro ponto forte da história é a presença de Branca, a esnobe e cruel socialite vivida por Susana Vieira. Sogra de Eduarda, não esconde sua ojeriza por Helena por causa de Atílio (Antônio Fagundes), bem como seu desprezo pelos filhos Milena (Carolina Ferraz) e Léo (Murilo Benício) em favorecimento a Marcelo (Fábio Assunção). O filho preferido da loira é arrogante, mimado, machista e por vezes desvaloriza os sentimentos da esposa Eduarda, além de constantemente ser alvo do ciúme possessivo de Laura (Vivianne Pasmanter), sua ex-namorada.
Ao longo dos capítulos, percebe-se claramente que Eduarda, apesar de mostrar atitudes desprezíveis nos primeiros capítulos, como sua antipatia pelo pai alcoólatra Orestes (Paulo José), não merecia o hate da época, que inclusive rendeu um site satírico de ódio à personagem. Em comparação com outras “filhas de Helena”, como Joyce (Carla Marins em “História de Amor”) e Camila (Carolina Dieckmann em “Laços de Família”), esta mostra um lado muito mais humano e por vezes é vítima do machismo do marido.
Aliás, é necessário ressaltar que o machismo é, por vezes, “naturalizado” no enredo de “Por Amor”. São comuns sequências em que inclusive personagens femininas “endossam” atitudes condenáveis de Marcelo e também de Atílio, que, a certo ponto da história, se envolve com Flávia (Maria Zilda), amiga e sócia de Helena, após seu casamento com esta ruir depois da “perda” do filho que tanto almejava. Estas abordagens machistas eram uma constante em novelas de Maneco na época, muito embora fizessem parte de uma outra época e de um outro contexto, diferentes dos tempos atuais.
Outro importante detalhe é o crescimento de sequências envolvendo barracos e brigas físicas entre os personagens. O autor é um dos que mais se especializaram em fazer cenas catárticas deste tipo, como nas brigas entre Branca e Isabel (Cássia Kiss), sua ex-amiga e amante de Arnaldo (Carlos Eduardo Dolabella); e a discussão entre Flávia e Eduarda por causa de Helena. Muitas dessas cenas podem ser explicadas pela forte concorrência de Ratinho, que à época fazia muito sucesso com o Ratinho Livre, na Record (e, pouco tempo depois, ingressaria no SBT mantendo esta linha nos seus anos iniciais).
Ainda assim, “Por Amor” chama atenção diante da safra atual de telenovelas por ainda causar impacto, gerar discussões e por suas qualidades de texto, direção e elenco. Última novela dirigida por Paulo Ubiratan (falecido no fim de março de 1998), sucedido em seu núcleo por Ricardo Waddington, a história conta com brilhantes desempenhos de nomes como Regina Duarte, Antônio Fagundes, Gabriela Duarte, Marcelo Serrado, Cássia Kiss, Vivianne Pasmanter, Carlos Eduardo Dolabella, Eduardo Moscovis, Carolina Ferraz, Françoise Forton, Maria Zilda e especialmente de Susana Vieira, cuja ímpar atuação como a vilã Branca jamais foi igualada em seus papeis posteriores. Merecem destaque também as aparições de jovens como Ingrid Guimarães, Mônica Martelli e Carolina Dieckmann – esta última viria a ter seu primeiro grande momento justamente em “Laços de Família”, como Camila.
Na impecável trilha sonora, clássicos como “Só Você” (de Vinícius Cantuária, aqui gravada por Fábio Jr), “Nem Um Dia” (Djavan), “Fora da Lei” (Ed Motta), “Paralelas” (emocionante versão de Elba Ramalho para a original de Belchior), bem como as icônicas “Palpite”, one-hit-wonder de Vanessa Rangel que embalou inúmeras cenas de Milena e Nando (Eduardo Moscovis), um dos casais mais populares da história; “Per Amore”, de Zizi Possi, que abrilhantou a história de Helena e Atílio; e a linda “Falando de Amor”, de Tom Jobim, imortalizada pelos harmônicos vocais dos grupos Quarteto em Cy e MPB4.
Reprisada em 2003 no mesmo “Vale a Pena” e por duas vezes no Canal Viva (em 2010, inauguração da emissora da Globosat, e 2017), “Por Amor” vem novamente fazendo bonito na audiência. Se em sua primeira reprise chegou a superar a então novela das oito, a problemática “Esperança” (2002-03), agora caminha para se tornar uma das principais audiências desta faixa na atual década.
Manoel Carlos voltou ao “Vale a Pena Ver de Novo” em grande estilo após 10 anos de sua última reprise na Globo aberta (“Mulheres Apaixonadas”, de 2003, cotada para ser exibida no Viva no ano que vem). Por todo o conjunto apresentado, “Por Amor” pode ser tranquilamente classificada, com considerável vantagem, a melhor novela no ar atualmente, entre inéditas e reprises.
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