O Sétimo Guardião

Elizabeth Savalla, Vanessa Giácomo e Flávia Alessandra: três atrizes desperdiçadas de “O Sétimo Guardião"

Recorrentes nas obras de Walcyr Carrasco, intérpretes ganharam tipos inexpressivos na novela de Aguinaldo Silva

Foto Montagem/Divulgação
Por Thallys Bruno

Publicado em 25/02/2019 às 07:00:00

Como se sabe, “O Sétimo Guardião” é uma grande decepção. A novela que prometia marcar a volta de Aguinaldo Silva ao realismo fantástico não fez jus nem às expectativas e nem à briga judicial que se deu em torno de sua autoria. O fraco enredo vem capengando na audiência (com média em torno dos 28 pontos) e agora parece chamar mais atenção pelo imbróglio pessoal envolvendo um de seus atores – a separação de José Loreto e sua agora ex-mulher Débora Nascimento (a Gisela de “Verão 90”, às sete). No entanto, o foco desta coluna é falar de três exemplos de talentosas atrizes cuja competência não é aproveitada como se deve: Elizabeth Savalla (a vilã Mirtes), Vanessa Giácomo (a alcoólatra Stella) e Flávia Alessandra (a sensual Rita de Cássia).

De diferentes gerações, as três têm em comum a constante colaboração em obras do escritor Walcyr Carrasco nas últimas duas décadas, em novelas como “Chocolate Com Pimenta” (2003-04), “Alma Gêmea” (2005-06) e “Caras e Bocas” (2009-10), aclamadas por público e crítica. Agora, na atual novela do escritor pernambucano, o trio infelizmente não é valorizado como merecia.

Savalla, que só havia atuado com Aguinaldo na longínqua “Partido Alto” (1984, co-escrita por Glória Perez), foi escolhida para ser uma das principais vilãs de “O Sétimo Guardião”. A beata Mirtes prometia ser um papel bem diferente de tudo que ela já havia feito – ainda mais se considerar que havia uma crítica em relação às últimas interpretações da atriz, por ainda guardarem trejeitos de Jezebel, a icônica vilã de “Chocolate”. E a personagem até ganhou espaço, roubando de Valentina (Lilia Cabral) o posto de grande megera. Algumas sequências justificavam este crescimento, como quando a beata humilha Lourdes (Bruna Linzmeyer) após ela se envolver com o milionário Olavo (Tony Ramos).

No entanto, sua trama perdeu fôlego. O que foi mostrado ainda é pouco para uma atriz do porte de Savalla. A rivalidade com a nora Stella não consegue empolgar, ainda mais que o filho, Aranha (Paulo Rocha), é facilmente influenciável. E nem mesmo a anunciada chegada do misterioso Mattoso (Tuca Andrada), que é citado pela beata, atrai alguma atenção. É uma pena, pois Savalla, mesmo mostrando a competência de sempre, tem um papel que não rende tanto quanto poderia, ficando longe de perfis inesquecíveis como a Agnes de “Alma Gêmea”, a Socorro de “Caras e Bocas”, a ex-chacrete Márcia de “Amor à Vida” (2013-14) e a própria Jezebel, bem como outros grandes momentos de sua carreira nas décadas anteriores.

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O mesmo se pode dizer de Stella, personagem de Vanessa Giácomo. Viciada em álcool como forma de compensar o trauma de uma depressão pós-parto (perdeu o filho logo ao dar à luz), a jovem vive em conflito com a sogra e já aproveitou a chance de humilhá-la em plena igreja – este embate, exibido em dezembro, foi a melhor sequência das duas juntas. No entanto, depois desta briga, a personagem praticamente perdeu toda a importância que tinha. A rivalidade já não mais chama atenção e impede um maior envolvimento do telespectador com sua história.

Vanessa, uma das atrizes mais talentosas de sua geração, havia feito apenas participações pequenas ao lado de Aguinaldo, nas fases iniciais de “Duas Caras” (2007-08) e “Império” (2014-15). Este, portanto, é seu primeiro papei em uma novela inteira do dramaturgo. Ainda assim, passa longe de grandes momentos vividos pela atriz ao lado de Walcyr, como na já citada “Amor à Vida”, onde brilhou como a vilã Aline; e o simpático remake de Gabriela (2012), onde herdou a jovem contestadora Malvina – vivida justamente por Savalla em 1975.

O caso de Flávia Alessandra é ainda mais delicado. A talentosa intérprete já havia feito várias parcerias tanto com Aguinaldo, em seus primeiros anos como atriz, quanto com Carrasco, no auge de sua carreira. Aqui, a sedutora Rita de Cássia, esposa de Joubert Machado (Milhem Cortaz), o “delegado das calcinhas”, praticamente não tem história a não ser as constantes exibições da personagem seminua na cachoeira, se deixando filmar para o docudrama de Leonardo (Jaffar Bambirra); bem como a relação entre tapas e beijos com o delegado, motivada pelo machismo dele.

Aguinaldo foi um dos primeiros autores a apostar em Flávia, em participações como a de “A Indomada” (1997) (onde vive a tímida Dorothy) e “Porto dos Milagres” (2001) (na qual interpretou a mocinha Lívia, segunda personagem com este nome na carreira). No entanto, a grande explosão da carreira da atriz se deu com a vilã Cristina Saboya, de “Alma Gêmea” (2005-06), grande sucesso de Carrasco. A passional e gananciosa megera foi o grande momento de Flávia, que subiu de patamar e se ganhou status de estrela. Logo depois, como a stripper Alzira, a atriz voltou a trabalhar com Aguinaldo em “Duas Caras”. A altíssima dose de sensualidade dos shows de pole dance da personagem quase agravou a classificação indicativa da novela, influenciando na criação da famigerada Rede Fuso.

Depois disso, Flávia ainda faria mais três parcerias com Carrasco: a mocinha Dafne de “Caras e Bocas” (2009-10), a robô Naomi de “Morde e Assopra” (2011) e a vilã Sandra de “Êta Mundo Bom” (2016) – da qual foi um dos destaques positivos, apesar de Sandra inicialmente seguir um tom muito semelhante ao de Cristina. Nesse meio tempo, fez “Salve Jorge” (2012-13) e “Além do Horizonte” (2013-14), ambas com papeis muito aquém de sua competência. É de se lamentar que, agora, novamente ela esteja com uma personagem que não a valoriza.

O paralelo faz sentido se levarmos em conta que Walcyr, conhecido por seu raro poder de fisgar o público por mais nonsense que seja o enredo, teve grandes parcerias de sucesso com as três intérpretes e, nos últimos anos, parece ser o único que realmente investe no talento das mesmas, até em função da quantidade de tipos pífios que receberam de outros autores nos últimos anos.

É claro que nem sempre uma parceria conhecida vai sempre resultar em sucesso. Como exemplo, Ary Fontoura, grande ator que também foi recorrente na obra recente de Walcyr, recusou o convite para “O Outro Lado do Paraíso” (2017-18), inicialmente para fazer teatro. Logo depois, aceitou participar de “Orgulho e Paixão” (2018), a simpática novela anterior das seis, de Marcos Bernstein. Uma sábia decisão, pois seu personagem, o carismático e ranzinza Barão de Ouro Verde, Afrânio Cavalcante, ganhou uma visível sobrevida, deixando a novela a poucos capítulos de seu desfecho.

Ainda assim, nos casos de Flávia Alessandra, Elizabeth Savalla e Vanessa Giácomo, a sorte não lhes sorriu em “O Sétimo Guardião”. A crônica falta de um enredo empolgante e coeso dificulta para que as três atrizes consigam ter maiores chances de se destacar. Seria mais proveitoso se as mesmas estivessem no elenco de “A Dona do Pedaço”, próxima trama das 9, de autoria de Walcyr. O autor facilmente saberia trabalhar de forma muito mais produtiva a competência das intérpretes, haja visto o quão frequentes elas são em suas obras. Aqui, na novela de Aguinaldo Silva, não há um enredo sequer que garanta a valorização dos seus talentos.

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