Publicado em 28/10/2021 às 05:04:00,
atualizado em 28/10/2021 às 09:41:55
Gilberto Braga, antes de mais nada, era um homem elegante. Elegante no vestir, elegante no porte, elegante no trato. Que não se imagine, porém, um boneco ou alguém reprimido. A elegância era fluente e não empostada. Tinha um grande senso de humor e era capaz dos mais inesperados sincericidios quando era muito franco em entrevistas.
Eu como telespectador o descobri em Dancin’Days. A história me surpreendeu. Lembrava na estrutura um daqueles dramalhões femininos filmados em preto e branco na Hollywood dos anos 40, mulheres disputando uma filha, se dilacerando por amor e ódio. A diferença, porém, estava nos diálogos. Eram coloquiais, pareciam ser falados por gente de verdade. Fui fisgado.
Muitos anos depois conheci Gilberto mais de perto. Nunca trabalhei com ele, nunca fui íntimo. Fui convidado para um de seus jantares no apartamento do Arpoador. Parecia um de seus personagens que tem medo de errar os talheres. Em 15 minutos ele me deixou completamente a vontade. Mas bebi pouquíssimo, não queria dar chance nenhuma ao azar. Tinha me transformado num personagem dele, aqueles do núcleo pobre. Mas me diverti muito.
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Era um autor que tinha fãs entre varias mulheres que conheci, ele parecia saber falar diretamente com elas com muita facilidade. Criava mulheres combativas, mas também românticas, que era atingidas por grandes paixões. Foi o cronista da zona sul do Rio. Tanto dos que subiam na vida como os que desciam ou pelo menos tinham que lutar para manter as aparências. A posição social era uma obsessão para seus personagens, alguns lutando para subir, outros lutando para não cair de padrão.
Seus personagens não lutavam apenas pela sobrevivência. Buscavam o destaque, a carteirinha de sócios de uma sociedade elegante. Queriam brilhar – numa trajetória semelhante a dele próprio.
Ele nunca soube, mas foi muito importante para mim num determinado momento. Numa das vezes que dividimos uma mesa ele me falou na tortura da primeira página de um texto, a luta que travava para começar um texto. Fiquei abismado. Então aquele autor tão bem sucedido tinha as mesmas dores que eu? A partir dai pensava nele sempre que o começar a digitar parecia impossível para mim. Lembrava que até os maiores sucessos passavam por isso e passei a ter menos medo do desafio que a tela vazia me jogava na cara.
Obrigado por tudo, Gilberto, vá em paz.
Carlos Lombardi é consagrado autor de novelas e responsável por sucessos como Quatro por Quatro, Uga Uga e Kubanacan. Trabalhou 'ao lado' de Gilberto Braga em, pelo menos, uma oportunidade. Ele estava no ar em Pé na Jaca, em 2007, quando a Globo estreou Paraíso Tropical na faixa das 20h
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