Por que Boni era um gênio
Texto assinado pelo jornalista e crítico James Ackel
Publicado em 03/06/2024 às 07:00
Boni, o diretor geral da Globo, foi a maior personalidade da história da TV. Tido por muitos como um gênio, sua genialidade não era resultado de uma varinha mágica mas sim de vivências que ele teve durante inúmeros momentos de sua vida desde os 16 anos de idade, passando inclusive por agências de propaganda onde ele desempenhou um papel importante na supervisão de programas de TV e rádio, onde os anunciantes da agência onde ele trabalhava eram fundamentais para o desenvolvimento de programas, que poderiam ser novelas ou shows.
A cultura e educação de Boni foi feita ao vivo na realidade do mercado.
Quando Boni assumiu o comando da TV Globo, ele teve ao seu lado como grande ajudante o Joe Walash, um homem que conhecia como poucos o controle financeiro da TV e dava os balizamentos até onde Boni poderia ir em contratações. Quando os autores do passado mandavam as sinopses de novelas para Boni ler, ele lia como uma pessoa que já tinha tido experiência no passado acertando e errando e aprendendo. Quando Boni orientava um autor de novelas a mudar um personagem e caminhar diferente, o autor sabia que Boni tinha experiência com o que falava e não chutava.
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Existiu um caso que me contaram onde Boni ao passar por um estúdio de gravação, decidiu entrar e ver a gravação da novela. Então, ele simplesmente levou o diretor da novela até o corredor e ensinou como ele deveria dirigir aquele momento da novela e mandou jogar fora o que tinham gravado e fazer de novo.
Mas Boni contratou sempre quem ele queria, independente de panelinhas ou indicações. Boni tinha todo o apoio de Roberto Marinho, que era o dono da TV. Roberto Marinho só mandava no conteúdo de jornalismo. Então Boni tinha toda liberdade para comandar e ousar todo o artístico da emissora.
No decorrer dos anos, após a saída de Boni do comando da emissora, a Globo passou a não ter mais a ousadia e o comando dele e desta maneira os caminhos não foram os mais adequados até os dias de hoje, onde a emissora deixou de ter sob contrato os grandes autores e atores da TV por uma filosofia errada da sua direção atual.
Alguns vão me dizer que nos dias de hoje a Globo está acima da soma de todas as outras TVs abertas. Está sim, porque não existe nem na Record e nem no SBT a experiência da TV aberta através de diretores e executivos. A geração atual das emissoras foi criada na geração da TV a cabo e não com o objetivo de atender as necessidades do público de TV aberta, público este que é 85% de donas de casa de cultura mediana.
Boni repetiria sucesso da Globo no SBT e até na Record
Muitos vão dizer e dizem que o Boni não repetiria o sucesso da TV Globo em outra emissora. Eu garanto e sem nenhuma dúvida que Boni, tendo a liberdade de ação e ousadia, faria o SBT líder de ibope contra a própria Globo e até me atrevo a garantir que faria o mesmo dentro da Record, desde que ele tivesse liberdade real de ação e não estivesse sob a tutela da Igreja de um lado ou da família Abravanel de outro.
Boni não fez o sucesso da TV Globo por acaso. Ele fez pelas suas próprias virtudes dentro das suas experiências e erros do passado e da liberdade de ação que Roberto Marinho lhe deu. Quem criou uma vez cria outra. Os grandes pintores clássicos não pintaram apenas um quadro, pintaram muitos quadros de arte porque eram os criadores desta arte.
Os autores de novelas do passado não fizeram apenas um sucesso cada um porque eles sabiam repetir o sucesso por serem criadores das suas obras. Os grandes atores do passado criaram inúmeros personagens porque sabiam criar cada personagem.
Triste a TV de hoje que desdenha de um talento do calibre de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o eterno Boni.