Rivais

Cinco vezes em que Globo e Lula trocaram acusações: De carta vetada a JN épico

Relação entre o petista e a emissora é conflituosa desde a década de 1980


Lula no Jornal Nacional em 2002 com William Bonner
Lula no Jornal Nacional em 2002 - Foto: Reprodução/Globo

Lula, 75, entrou em conflito com a Globo na última quarta-feira (10) ao dizer em coletiva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, São Paulo, que o Jornal Nacional teve uma edição “épica” nesta semana e que a “verdade prevaleceu” pela primeira vez. A emissora não gostou e soltou uma nota rebatendo a declaração do ex-presidente. Contudo, não foi a primeira vez que o canal retrucou posicionamentos do petista, já que os dois são tratados como “rivais” desde 1989.

Na primeira eleição geral ao cargo de presidente da república do país logo após o fim da Ditadura Militar, Lula e Fernando Collor chegaram ao segundo turno e fizeram um último debate antes dos eleitores irem às urnas. No dia seguinte ao encontro, o Jornal Nacional realizou uma edição, no qual os petistas acusaram a Globo de manipular em favor de Collor.

“Os responsáveis pela edição do Jornal Nacional afirmaram, tempos depois, que usaram o mesmo critério de edição de uma partida de futebol, na qual são selecionados os melhores momentos de cada time. Segundo eles, o objetivo era que ficasse claro que Collor tinha sido o vencedor do debate, pois Lula realmente havia se saído mal”, diz texto disponível no Memória Globo.

A emissora reconheceu que o episódio provocou danos à imagem dela e por isso mudou o método de realizar cobertura de eleições. “Por isso, hoje, a emissora adota como norma não editar debates políticos; eles devem ser vistos na íntegra e ao vivo. Concluiu-se que um debate não pode ser tratado como uma partida de futebol, pois, no confronto de ideias, não há elementos objetivos comparáveis àqueles que, num jogo, permitem apontar um vencedor. Ao condensá-los, necessariamente bons e maus momentos dos candidatos ficarão fora, segundo a escolha de um editor ou um grupo de editores, e sempre haverá a possibilidade de um dos candidatos questionar a escolha dos trechos e se sentir prejudicado.”, esclarece.

Lula e a nota dos seus advogados

Cinco vezes em que Globo e Lula trocaram acusações: De carta vetada a JN épico

Em março de 2016, os advogados de Lula solicitaram direito de resposta no Jornal Nacional sobre uma reportagem em que o ex-presidente era acusado pelo Ministério Público de cometer crimes. O petista não gostou e queria que fosse lida uma carta sobre sua defesa.

“Advogados dizem que nem Lula nem sua assessoria foram procurados para responder às acusações do MP. A TV Globo mostrou que pediu e que exibiu notas comentando a denúncia oferecida pelos promotores”, rebateu o canal na ocasião.

“Na carta, espantosamente, os advogados dizem que nem Lula nem sua assessoria foram procurados para oferecer uma resposta às acusações que lhes foram imputadas pelos promotores”, continuou. “Isso não é verdade. Em e-mail enviado às 17h33, um jornalista da TV Globo pediu ao Instituto Lula nota comentando a denúncia oferecida pelo Ministério Público contra o ex-presidente Lula, no caso Bancoop”, acrescentou.

“Apesar de dizer que essa é, ‘a verdade dos fatos em sua simplicidade’, o texto se alonga em mais 28 parágrafos, em 89 linhas, em que, com ironia, se dedica, não a se defender das acusações, mas a fazer críticas ao jornalismo da Globo. A emissora não é parte nas investigações a que está sujeito o ex-presidente. Cumpre apenas a sua missão de informar o povo. Respaldada pela Constituição, continuará a fazê-lo, com serenidade, e sem nada a temer”, completou o canal.

Eleições 2018

Cinco vezes em que Globo e Lula trocaram acusações: De carta vetada a JN épico

Lula estava preso, mas o PT tentava viabilizá-lo como candidato a presidência da república. Ele chegou a ser lançado como representante do partido, mas foi impugnado e precisou abrir espaço ao ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Contudo, antes de ser impedido de concorrer, ele tentou participar da sabatina do Jornal Nacional.

Em 2018, a Globo entrevistou todos os candidatos a presidência da república – inclusive Jair Bolsonaro – mas deixou claro que não iria entrevistar Lula, porque ele não se enquadrava nos critérios para disputar às eleições. “Serão convidados os principais candidatos da pesquisa da semana anterior que estejam aptos para estar presencialmente no estúdio”, relatou.

Ao ser questionada pelo NaTelinha se o petista, que estava preso na sede da Policia Federal em Curitiba, seria convidado para as entrevistas no Jornal Nacional, a Globo descartou essa possibilidade: "O critério é o mesmo das sabatinas da GloboNews: são convidados os principais candidatos da pesquisa da semana anterior que estejam aptos para estar presencialmente no estúdio. Todos conhecem a situação jurídica do ex-presidente Lula e as decisões da Justiça a respeito de entrevistas. A entrevista com ele não é possível, pois está preso e há decisões judiciais a respeito”.

Globo chama declaração de Lula de “inverdades”

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Em novembro de 2019, Lula criticou a Globo por sua cobertura jornalística e a emissora novamente se defendeu. “A Globo repudia os ataques do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A prova de isenção da emissora são a transmissão, na íntegra, pelo G1, dos discursos que o ex-presidente fez ontem e hoje, e as reportagens a respeito no Jornal Nacional”, afirmou.

“Também prova a sua isenção o fato de que é alvo de ataques de ambos os extremos do espectro político, hoje tão radicalizado. A Globo faz jornalismo sério de qualidade e continuará a fazer. Sem se intimidar e sem jamais perder a serenidade”, acrescentou.

Na época, o ex-presidente criticou o canal, a Record e o SBT. “Na cadeia, fui obrigado a ver TV aberta. O SBT foi uma vergonha, a Record está uma vergonha e a Globo continua uma vergonha. Eles não deram uma matéria sobre o Intercept, só uma para defender o Faustão”.

Lula elogia Jornal Nacional

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Na quarta-feira (10), Lula fez uma coletiva de imprensa e elogiou o Jornal Nacional. Na visão dele, o telejornal teve uma edição “épica” nesta semana e que a “verdade prevaleceu” pela primeira vez. Isso ocorreu, porque o jornalístico mostrou os motivos das condenações do ex-presidente terem sido anuladas.

"Ontem assistimos a um Jornal Nacional épico. Quem viu nem acreditou. Pela primeira vez a verdade prevaleceu. E a verdade dita não pela boca do PT, mas pelos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Espero que esse seja o padrão da Rede Globo daqui para frente", elogiou.

Contudo, a Globo não concordou com o discurso e rebateu. “O ex-presidente está errado. O jornalismo da Globo se dedica a relatar os fatos e a buscar a verdade e vai continuar a fazê-lo, mas não somente os fatos e as verdades que lhe sejam favoráveis”, posicionou-se.

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