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Boni explica caso Lula x Collor em 89 e critica "Tá no Ar": "Ninguém entende"

Ex-todo poderoso da Globo também falou que o futebol não pode atrapalhar a novela


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Boni detalhou mais uma vez a "manipulação" do debate entre Collor e Lula em 1989 - Divulgação
Na manhã desta sexta-feira (18), o programa "Morning Show", da rádio Jovem Pan, recebeu a visita do ex-mandatário da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que falou sobre diversos assuntos. Dentre eles, a "manipulação" do debate entre Lula e Collor na corrida presidencial de 1989, as mudanças do "Jornal Nacional", "Os Dez Mandamentos" e criticou o humorístico "Tá no Ar".
 
Primeiramente, Boni comparou a TV dos EUA a do Brasil, dizendo que diferentemente de lá, aqui as emissoras não tomam partido. "As emissoras nos EUA tomam partido, no Brasil ainda não existe isso, mas acredito que é um direito que a emissora tem de manifestar sua opinião (não manipular) mas expressar sua opinião. As emissoras não tiveram ainda a coragem de manifestar o que pensa de forma explícita. Isenção não existe!", bradou.
 
Polêmica edição
 
Boni comentou também sobre a exibição do debate entre Fernando Collor e Lula em 1989 e afirmou que houve uma edição tendenciosa, mas que na sua opinião não influenciou no resultado das eleições naquele ano.
 
"O Collor foi preparado para o último debate na TV Bandeirantes com o Lula e eu fui o responsável pela preparação dele. O Dr. Roberto Marinho me pediu para ajudar nesse sentido, pois ele acreditava no Collor, não por ideologia, mas como todos nós acreditávamos, tínhamos esperança nele naquela época. A orientação, obviamente, era para que não houvesse nenhum tipo de edição favorecendo nenhum dos candidatos, mas, de repente alguém da redação mais 'Lulista' fez uma edição favorecendo mais o Lula e isso foi exibido na primeira edição. O Dr. Roberto evidentemente ficou furioso e mandou reeditar e eu vejo que na primeira edição o Collor ganhou de 2x1 e na segunda edição de 7x1. Eu estava em Angra e tomei um susto! Não acredito que isso influenciou, pois a audiência mostrou que a maioria viu ao vivo, mais do que as edições, mas claro que não é algo correto. Depois disso teve a regra na Globo de nunca mais mexer em nenhum debate", detalhou ele, que também conta isso em seu livro, "O Livro do Boni".
 
Voltando para os dias atuais, o executivo acredita que nenhuma emissora está sendo tendenciosa: "Todos os veículos estão cumprindo o sagrado dever de informar. Não vejo em nenhum, nenhuma tendência contra o Lula, pois o que as emissoras estão fazendo é defender o país".
 
 
O jornal mais assistido do país, o "Jornal Nacional", sofreu nos últimos anos modificações e Boni disse já algumas vezes ser contra. No "Morning Show", ele explicou o motivo de ser mais conservador com esse tipo de produto: "Quando você se torna muito informal, você deixa de ser institucional. Um jornal naquele horário não é igual o jornal de meio dia, é jornal de horário oficial. Tudo o que tinha que ser dito já foi, ao invés de trazer novidade ele traz coisas mais sérias, aprofundadas, como se falando assim 'isso aqui é verdade'. Em outros países esse tipo de jornal é lido por um apresentador só, sem cacoetes, sem gracinhas, porque as pessoas querem saber se tudo o que foi falado no dia foi realmente verdade, o que é a verdade".
 
Foi levantada a questão do "Jornal Nacional" ser um pouco elitista e Boni opinou que quem faz o noticiário não pode ter a preocupação de quem vai ou não entender a notícia: "A única preocupação que tem que ter é informar. Se a pessoa entende ou não entende, não é preocupação sua. Você tem que ter sim notícias para todos os tipos de pessoas. A preocupação é que seja acessível mas não traduzir notícia (...) Quanto mais o público crescer e evoluir, vamos ter melhoria no público, audiência, e também nos clientes, aí consequentemente no faturamento".
 
"Piada interna"
 
O ex-todo poderoso da Globo deu seu pitaco sobre o humor na TV, e sobretudo o "Tá no Ar".
 
"O humor na TV brasileira foi para o espaço! Perdemos o Chico, o Jô que não faz mais, o 'Casseta & Planeta'. Eles (Casseta) não tinham estrutura (...) O Adnet tem um talento muito grande mas um programa se faz com muitos escritores... Tem que ficar atento, quando ele brinca com a televisão, a televisão é pobre. Quando se faz uma paródia com o João Kleber, está fazendo paródia sobre nada, pois ninguém assiste o programa dele (João Kleber). Vira uma piada interna! 90% das piadas do programa ninguém entende, pois ninguém sabe do que se trata!", opinou Boni sobre os programas de humor na TV brasileira.
 
Novela bíblica
 
Para Boni, uma novela como "Os Dez Mandamentos" não pode preocupar a Globo. E ele explica a razão: "De vez em quando a concorrência trabalha e produz. Não tem um elenco tão grande e nem um staff como o da Rede Globo. A Globo não tem que se preocupar com isso, pois é difícil que a concorrência consiga produzir um outro 'Dez Mandamentos' e não só um, tem que ter uma para às 18h, outro para às 19h, outro para às 21h. ''Os Dez Mandamentos' foi uma boa novela, Moisés é um bom personagem... Eu achava que tinha umas coisas até ridículas, aquelas pessoas de saia me incomodavam (risos). Foi uma boa novela, incomodou mas passa, assim como 'Pantanal' também incomodou, mas passa!".
 
Ausência de infantis
 
Ele se posicionou contra a extinção dos infantis e projeta reflexos: "Sempre procurei atender todos os públicos. Sempre fiz coisas para as crianças e não nos limitamos de trazer produções importadas, trabalhamos para fazer produções brasileiras para crianças. E isso acho que é essencial porque ele é o seu telespectador do futuro. Hoje não há mercado comercial, não tem cliente interessado, porque no canal a cabo, no SBT, ele consegue com muito menos verba, a preço de banana, anunciar em produtos infantis. A televisão deveria, mesmo sem ter verba, fazer produção para criança com investimento dela, pois como falei é o telespectador do futuro".
 
Futebol sairá da TV aberta
 
Na Jovem Pan, Boni também disse que os jogos de futebol na Rede Globo, exibidos como são, prejudicam o principal produto da casa, que é a novela.
 
"Acho ruim transmitir jogos de pouca importância, pois prejudica a principal atração da emissora, que é a novela. Você quebra a coisa mais importante que tem na televisão, que é o hábito. Acho que o correto e que acontecerá, é que o futebol vai parar no cabo. As pessoas pagando para assistir. A televisão vai sair da rotina de transmitir futebol, só as finais, jogos principais. Isso é algo que acontecerá com o tempo", finaliza.
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