Opinião

Os erros e acertos da primeira semana de Vale Tudo

Vale Tudo estreou e vem dando o que falar


Vale Tudo em foto
Vale Tudo tem erros e acertos - Foto: Reprodução/Globo
Por Daniel César

Publicado em 07/04/2025 às 07:30,
atualizado em 07/04/2025 às 10:36

Vale Tudo está recheada de expectativa desde que o remake foi anunciado pela Globo mais de um ano atrás. A estreia, no último dia 31 de março, aconteceu num contexto em que a produção ganhou ares de salvadora da pátria da emissora, não apenas por conta do fracasso da antecessora, Mania de Você, mas pelo que parece ser uma verdadeira crise de identidade da Globo quando o assunto é novelas.

Em meio a tamanha responsabilidade, quem vai além da tela e acompanha as notícias do universo das novelas, o folhetim tinha de enfrentar certo ranço que esta parte do público criou com a autora Manuela Dias, por conta das constantes entrevistas que ela deu antes da estreia e que parecia demonstrar não entender o conceito real da novela original, escrita por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004).

Ao final da primeira semana, com seis capítulos exibidos, é possível fazer um balanço sóbrio do remake, tão importante quanto outro - Pantanal (2022) - e que tem papel fundamental no futuro da Globo quando o assunto é novelas. Vale Tudo, versão 2025, nem é tão ruim quanto os haters tentam fazer parecer, nem é a nova obra de arte da TV brasileira, quanto outros pintam.

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A produção demonstrou erros e acertos que precisam ser vistos, debatidos e compreendidos. A começar pelo acerto da escalação de Taís Araújo, que parece ter nascido para viver Raquel Acioly. Outros nomes também merecem destaque neste primeiro momento, como Alexandre Nero, Alice Wegmann, Carolina Dieckmann e Humberto Carrão.

A trama também acerta ao manter algumas sequências importantes, ao mesmo tempo em que atualiza parte do texto. Não é possível manter uma narrativa ipsis literis de uma obra de quase 40 anos atrás e muitas frases precisam ser ajustadas, como a autora muito bem o fez.

Entre todos os os acertos, no entanto, o maior deles é a essência do que é uma novela. Se João Emanuel Carneiro tentou em Mania de Você transgredir com uma espécie de série como se quisesse criar um formato híbrido, Manuela Dias parece ter entendido que o Brasil detém um produto artístico pronto e que basta se estruturar nele. Vale Tudo é um folhetim típico com pitadas de melodrama e, ao menos por enquanto, sua nova autora nos fez respirar aliviados ao não fugir disso.

Mas nem só de flores viveu a primeira semana da nova novela das nove. A insistência em tentar rebuscar o texto de forma desnecessária, maior defeito de Manu desde que virou autora solo, irrita profundamente, tira o ritmo da história e prejudica a vontade de seguir assistindo.

Dentro deste contexto, o que parece ser pior é a visão artística de Manuela, ao tentar provar que seu remake quer defender uma história que não passa de uma aposta boba entre mãe e filha sobre quem vai subir na vida primeiro. Em meio a um Brasil polarizado, roteirista e Globo fogem da premissa básica de Vale Tudo: vale a pena ser honesto no Brasil?

De fato, em meio a política de ódio e de fake news, debater este tema poderia fazer parte do público se afastar e com campanhas de ódio. Por isso, a pergunta a ser feito aos responsáveis pela dramaturgia da emissora é: era o momento ideal para produzir novamente a novela que melhor fotografou o Brasil?

Além disso, Paulo Silvestrini, muito competente como diretor, fez uma opção equivocada até aqui. A trama de 1988 era barulhenta porque tentava impor a miscigenação do povo brasileiro e como somos um país tropical. Em 2025, o novo diretor optou por um tom mais sóbrio, quase silencioso e que tirou parte do charme.

Sobre o elenco, além dos haters de Bella Campos, a atriz não compromete e criou outra Maria de Fátima, para fugir das comparações com Glória Pires. Ainda é cedo para um julgamento. Quem também mudou a personagem original foi Paolla Oliveira. Se nos anos 80, a Heleninha Roitman de Renata Sorrah era leve, divertida e quase um escape, ainda que com muitos contornos dramáticos, a atual é cinza, sem cor e sem graça. O maior erro de Vale Tudo até o momento.

Entre erros e acertos, Vale Tudo parece ser uma novela que vai pegar no Ibope. Difícil imaginar que a trama não vá conquistar o público por conta de sua grande história e também porque autora, direção e elenco estão dispostos a referendar o trabalho original, mesmo com algumas perigosas mudanças.

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