Atuação da Semana: Camila Pitanga volta às novelas e rouba a cena como vilã canastrona
Camila Pitanga mostra, com sua Lola, que não deveria ter deixado o formato

Publicado em 09/02/2025 às 14:10
Camila Pitanga é uma artista completa, mas que havia abandonado o formato que a consagrou: as telenovelas. De volta, como Lola, a vilã mais canastrona que o Brasil já viu em muito tempo, em Beleza Fatal, primeira incursão da Max no formato brasileiro, a atriz rouba a cena e dá mostras que jamais poderia ter passado tanto tempo longe.
Beleza Fatal é uma boa novela, principalmente por se tratar da estreia da plataforma de streaming no formato. Mesmo com escorregões no texto e algumas atuações abaixo da crítica - principalmente no elenco de coadjuvante - a trama de Raphael Montes (Bom Dia, Verônica) para em pé e tem sustentação com o trabalho bem planejado pela diretora Maria de Médicis, que ganhou toda sua bagagem na Globo, dirigindo produções como Cheias de Charme (2012) e Segundo Sol (2018).
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O autor escolheu estrear em novelas apostando muito mais num estilo melodramático do que no folhetim, embora os dois se misturem nos primeiros capítulos. Daí o acerto de Camila Pitanga, que passa longe de ser uma vilã tradicional do tom folhetinesco a que nos acostumamos como Odete Roitmann (Beatriz Segall), de Vale Tudo (1988) ou Bia Falcão (Fernanda Montenegro), de Belíssima (2005). Lola se aproxima muito mais de Carminha (Adriana Esteves), em Avenida Brasil (2012) ou mesmo de Chayene (Claudia Abreu), em Cheias de Charme.
A escolha era perigosa por mais de um motivo. Primeiro que, uma personagem com a vida sofrida, mas que é boa mãe e que batalha duro, é difícil vê-la como vilã. Até a sequência em que Lola mata o marido pode ser vista por mais de um prisma, afinal, ela acabara de ser agredida: é assassinato ou legítima defesa? Segundo porque o telespectador pode não entender as motivações e achar tudo muito simplório.
Os perigos, no entanto, acabaram aí. Isso porque, a escolha de Camila Pitanga para o papel se mostrou acertada. A atriz já interpretou uma personagem semelhante, a Bebel, de Paraíso Tropical (2007), que também tinha sérios problemas de caráter, era caricata e caiu nas graças do público por seu jeito despojado. Ainda assim, as semelhanças também não vão além disso.
Camila deu um ar completamente novo, quando pensamos em Brasil, para sua Lola. A mãe de família, que matou o marido e colocou a prima na prisão, se livrando da filha criança da mulher, cresceu na vida com bom humor e tudo de exagero. A prova disso é o momento em que ela se demite do trabalho e sai xingando Rog (Marcelo Serrado) de tudo quanto é nome em que a atriz está quatro tons acima do colega de cena.
A atitude parece contraditória, principalmente porque boa parte do restante do elenco está na interpretação exagerada, mas não canastrona. A canastrice é de Lola, não de Camila Pitanga que parece ter planejado cada movimento para convencer o telespectador que os motivos de sua vilã são válidos simplesmente porque ela não se encaixa naquele universo porque tudo é pouco para ela.
Nesses primeiros capítulos de Beleza Fatal, Camila Pitanga se destaca com sobras porque saiu do ponto comum e foi para um lugar que os artistas brasileiros não costumam experimentar: a canastrice planejada. Lola facilmente poderia ser uma vilã de uma novela mexicana dos anos 90 e teria o mesmo brilho porque sua intérprete sabe exatamente o que está fazendo.