Vale Tudo corta cena gay, criticas à corrupção e ao governo; veja os diálogos
A nova versão de Vale Tudo evita temas polêmicos e político

Publicado em 10/04/2025 às 04:01,
atualizado em 10/04/2025 às 10:40
A nova versão da novela Vale Tudo, escrita por Manuela Dias, tem evitado abordar temas políticos e polêmicos em seus nove primeiros capítulos. Questões como cargos públicos indicados por padrinhos políticos, os vícios do modelo César (Cauã Reymond), críticas à qualidade da indústria brasileira e até referências à administração da igreja católica que estavam nos diálogos originais exibidos em 1988 na Globo, foram cortados do remake.
Vale Tudo foi um marco da dramaturgia devido ao seu texto profundamente crítico, sobre temas como corrupção, desigualdades sociais e comportamentos éticos questionáveis, retratando com realismo os desafios e contradições da sociedade da época que foi exibida.
Na história contada por Manuela Dias, essas questões foram tratadas de maneira secundária nos capítulos iniciais, com a narrativa focando na aposta entre Raquel (Taís Araújo) e Maria de Fátima (Bella Campos) sobre alcançar o sucesso na vida por meio da honestidade.
A decisão de cortar esses diálogos pode refletir uma escolha artística da autora ou estar alinhada à linha editorial adotada pela Globo em suas produções.
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A reportagem apurou que, além de fazer parte das comemorações pelos 60 anos da TV Globo, a escolha de exibir Vale Tudo em 2025 ocorreu por ser um ano sem eleições. Dessa forma, a emissora evita críticas relacionadas à possível interferência no processo eleitoral.
O NaTelinha selecionou alguns trechos da novela original, escrita por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004), que foram suprimidos na versão de Manuela Dias. Com nove capítulos exibidos, Vale Tudo tem média de 22 pontos em São Paulo.
Diálogos cortados no remake de Vale Tudo
- Igreja estava certa para cortar gastos
No primeiro capítulo, Ivan, recém-separado, conversa com um amigo sobre os altos gastos que tem enfrentado ao trabalhar em São Paulo enquanto mantém sua família no Rio de Janeiro.
Ivan: “Quero ver se eu pego o voo das 7... quase 10 mil por semana só de passagem. Cada dia que passa estou mais com os padres, viu? Casamento é indissolúvel, divórcio é pecado. A igreja tá sabendo? Eles mandam mais de administração que economista em Princeton. ‘Até que a morte nos separe’. Um aluguel, só, uma conta de luz, só uma conta de gás, sai mais barato”.
- Taxistas desonestos
No mesmo capítulo, ao chegar à casa dos pais, Ivan lamenta ter utilizado um táxi, onde o motorista se recusou a cobrar o valor estipulado na tabela, comum na década de 80 com a inflação alta. A cena foi eliminada e não teve atualização.
Ivan: “Vocês acreditam que não tinha um desgraçado de um motorista que quisesse me trazer até aqui dentro do preço de tabela”
Bartolomeu: “Eles estão cobrando quanto?"
Ivan: “Olha, para não começar o meu fim de semana chateado, não quero nem lembrar, eu vim de ônibus”.
- Dúvidas sobre a indústria brasileira
Na sequência, ocorre um diálogo entre Eunice e Fernanda, onde a menina comenta com a mãe que sua bermuda havia rasgado, ressaltando que a peça era cara e estava identificada na etiqueta como sendo de seda pura. Eunice reage: “Quem te ensinou que no Brasil dá pra confiar em etiqueta?”.
- Peixinho de Ministro
Num outro trecho, em busca de emprego, Ivan desabafa para um amigo que perdeu uma vaga porque “o escolhido é peixinho de um ministro de estado”.
Esse mesmo amigo, sensibilizado com o drama de ver Ivan desempregado, recorda que conhece uma pessoa chamada Gustavo, que atualmente trabalha na Secretaria de Planejamento.
Amigo: "Se ele se empenhar um pouquinho, ele te arranja qualquer coisa lá mesmo, ou então no Ipea, no BNDS, no IBGE, talvez até no Ministério mesmo".
Ivan: “Será que ele vai lembrar de mim?"
Amigo: “Ah, tem que lembrar, né, depois tá me devendo. Porque quem arranjou a carteira de motorista para a filha dele fui eu mesmo.... dizem que o mercado tá fechado, que é pra conter o déficit público, mas peixinho entra, porque mais dia menos dia, campanha pra presidência tá aí mesmo".
Depois de falar com o político, o amigo de Ivan conta o resultado da conversa.
Amigo: “Podia ter me poupado do vexame, né, Ivan? Eu estava escolhendo o teu cargo já, quando de repente o Gustavo lembrou direitinho quem você era".
Ivan: “Ele tem alguma coisa contra mim?"
Amigo: “Disse que te viu fazendo campanha pro outro em 82. Boca de urna, Ivan? Cargo público é melhor esquecer. Boca de urna pro outro?".
Em 1988, ano em que Vale Tudo estreou, o Brasil era presidido por José Sarney.
Mais cenas polêmicas cortadas em Vale Tudo
- Cena gay de Flanklin e o vício de César
No capítulo exibido na última segunda-feira (07), quando Maria de Fátima é despejada do apartamento emprestado a César, o diálogo em que Franklin diz que César possui vícios e que posou nu para uma revista gay americana foi suprimido.
Franklin: “O cara podia ser um dos modelos mais bem pagos desse país. O cara tem estampa, inteligência, só fez besteira, mau profissional, tá totalmente queimado no mercado. Aquele comercial que vocês fizeram em Foz do Iguaçu, foi tipo a última chance. Sabe o que o Renato me chamou aquela vez na revista? O César fez uma foto com a revista gay americana nu frontal, Fátima. Ai, meu Deus do céu, o cara que podia ter ido longe. Tudo por causa do vício”.
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Na versão original, Fátima se distancia de Franklin, que, nesse momento, reencontra o proprietário do apartamento. Este, estando em um carro, convida o modelo a entrar no veículo, deixando evidente sua orientação sexual e seu interesse por ele.