Relançamento

Nenê Bonet: Livro é a novela de Janete Clair que não foi ao ar; saiba os detalhes

Romance, de volta às livrarias em nova edição, é um ponto fora da curva na obra da autora, que convertia para a TV todas as histórias que criava


À direita, Janete Clair; à esquerda, a capa do livro Nenê Bonet, relançado pela Editora Instante
A capa da nova edição do livro Nenê Bonet, de Janete Clair, tem arte e ilustrações de Fabiana Yoshikawa - Foto: Reprodução/Editora Instante
Por Walter Felix

Publicado em 04/04/2025 às 06:11,
atualizado em 04/04/2025 às 12:48

Único romance de Janete Clair (1925-1983), famosa por sucessos na TV, Nenê Bonet ganhou uma nova edição pela Editora Instante. A história, publicada originalmente em capítulos na revista Manchete, em 1980, e depois lançada em livro – há algum tempo fora de catálogo –, volta às livrarias no centenário da escritora, com revisão, nova roupagem e grande potencial para conquistar os noveleiros. Afinal, é como uma novela que nunca foi ao ar, criada por aquela que melhor dominava o gênero.

Ambientado no Rio de Janeiro da década de 1920, Nenê Bonet conta a história de Ernestina, criada para ser esposa e mãe, e narra sua transformação após se casar com Julião. Em vez de afeto, ela encontra frieza e, aos poucos, descobre que o marido, com quem vive no interior, esconde obscuros segredos na capital.

+ Crítica: Vale Tudo tem estreia promissora, com estilo próprio e respeito à primeira versão

O contraponto de Nenê é Bernarda de Sá, uma mulher glamorosa, lasciva e livre, tudo o que a protagonista não é, mas deseja ser. Quando decide assumir a personalidade oposta à sua, a protagonista tem sua sanidade questionada e passa a arriscar tudo para desvendar os segredos que ameaçam seu casamento.

Janete Clair começou a carreira no rádio, mas foi para a TV que escreveu histórias que mobilizaram o país, como Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975), O Astro (1977), entre outras. Morreu em 1983, aos 58 anos, vítima de câncer, e é cultuada até hoje como a maior autora de telenovelas do Brasil.

Em 1980, a Manchete – empresa que também tinha uma emissora de TV – se vangloriou de ter para si a “nova novela de Janete Clair”, mas só nas revistas. Os anúncios traziam fotos de Christiane Torloni como a personagem principal, como mostrou recentemente o pesquisador Sebastião Uellington Pereira, o Mofista:

A nova edição de Nenê Bonet traz a reprodução de páginas e anúncios da Manchete naquela época. Há também textos inéditos do especialista em teledramaturgia Mauro Alencar, que contextualiza a obra da autora, e da poeta e musicista Denise Emmer, uma dos quatro filhos de Janete com Dias Gomes (1922-1999).

Nenê Bonet tem traços marcantes da escrita de Janete Clair

imagem-texto

A história foi originalmente concebida em forma de telenovela e ganhou a versão literária com a colaboração de Eduardo Borsato. Além do forte apelo e das semelhanças ao gênero televisivo, pode-se reconhecer nas páginas de Nenê Bonet outros traços marcantes da escrita de Janete Clair.

Há muito, em Ernestina, das heroínas criadas pela autora. A personagem, ora frágil, ora voluntariosa, abandona uma personalidade submissa e inicia sua jornada de emancipação e autodescoberta. Por vezes, mostra-se dúbia, confusa, flertando com a loucura e com o transtorno de identidade, temas que Janete gostava de abordar na TV.

+ Crítica: Mania de Você foi a pior novela do autor e também um erro histórico da Globo

O leitor encontra ali elementos típicos das melhores novelas: uma narrativa envolvente, bem desenvolvida, repleta de reviravoltas. O final é previsível, não tem grande impacto, mas mantém um pensamento inevitável para os noveleiros de plantão: como seria se essa boa história fosse contada na TV?

Nenê Bonet mostra que o talento da autora também se estendia à literatura. Ela disse, em certa entrevista, que ao pensar em uma história para cinema ou teatro, sempre acabava convertendo a criação para novela de televisão. Por isso, o livro é um precioso ponto fora da curva na obra da “usineira de sonhos”, como bem definiu certo poeta.

TAGS:
Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado