Adolescência, da Netflix, impressiona com atuações vigorosas e episódios sem cortes
Gravada em plano-sequência, minissérie britânica se tornou a mais vista da plataforma em mais de 70 países, incluindo o Brasil

Publicado em 25/03/2025 às 13:30,
atualizado em 25/03/2025 às 17:35
A minissérie britânica Adolescência se tornou o título mais visto da Netflix em cerca de 70 países, incluindo o Brasil. A produção alcançou notoriedade nos últimos dias, entre outros motivos, porque cada um dos quatro episódios foi filmado em plano-sequência - ou seja, a câmera acompanha uma ação que transcorre em tempo real, sem cortes.
O ponto de partida é a prisão de Jamie (Owen Cooper), um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Ele garante ser inocente, o que leva a família, a terapeuta e o policial envolvido no caso a se perguntarem o que realmente aconteceu. A investigação é vista do ponto de vista dos adultos, que tentam entender o que está escondido no dia a dia daqueles adolescentes.
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O primeiro episódio mostra a prisão do protagonista; o segundo é sobre o avanço das investigações no colégio caótico em que o acusado e vítima estudavam; o terceiro narra uma longa conversa do adolescente com uma psicóloga forense; e o quarto e último, que se passa 13 meses depois após o crime, exibe os desdobramentos no dia a dia da família de Jamie.
A tensão, mantida em alta ao longo de todo o primeiro episódio, acaba se perdendo um pouco no restante da série, sem que a qualidade geral do suspense seja comprometida. Temas específicos passam a ser pontuados, como violência de gênero, masculinidade, bullying e a influência nociva das redes sociais, entre outros assuntos que permeiam a juventude atual.
O plano-sequência, alvo dos principais comentários e elogios a que Adolescência tem respondido, garante um tom mais realista e também uma experiência imersiva ao espectador, como se passássemos a fazer parte da narrativa. A sequência final do segundo episódio, com direito a uma perseguição seguida de uma tomada aérea, é de tirar o fôlego.
Plano-sequência potencializa qualidades de Adolescência

A técnica potencializa todas as qualidades da série. Afinal, a dificuldade de se filmar assim torna tudo mais interessante, pela assertividade que exige dos atores e da equipe técnica. Ao entregar um trabalho primoroso, o diretor Philip Barantini e o diretor de fotografia Matthew Lewis garantem que não adotaram qualquer truque, como cortes invisíveis ou edição digital.
Tudo foi feito como uma grande coreografia, meticulosamente ensaiada, mas a realização perfeita de episódios em plano-sequência é apenas um dos feitos impressionantes da série. Ainda que o recurso encha os olhos, é certo que o público terá outros bons motivos para ficar boquiaberto diante da TV – a começar pelas atuações.
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Em uma produção que exige tanta concentração de todos os atores, alguns desempenhos chamam mais atenção. A maior revelação, Owen Cooper, é um assombro. Criador da série, Stephen Graham também interpreta o pai do personagem principal e faz uma grande composição – a cena em que ele acompanha uma revista íntima do filho talvez seja a mais comovente.
O roteiro, assinado por Graham e Jack Thorne, é inteligente pela estrutura e por enviar mensagens ao espectador, sem deixar nada explícito logo de cara. Não há uma preocupação em dar respostas às perguntas sugeridas à medida que a trama se desenvolve. Ao final do último episódio, algumas lacunas parecem propositalmente não preenchidas.
Adolescência não é baseada em uma história real, mas em várias, como os criadores vêm indicando em entrevistas. A minissérie acerta ao não oferecer nenhum tipo de conforto ao espectador ao mostrar a crueza de um crime bárbaro. Também ressalta como a violência está próxima do cotidiano de todos nós, podendo vir de onde menos se espera.