Luis Gustavo fez verdadeira revolução na TV com irreverência e modernidade
Veterano colecionou personagens marcantes, como Beto Rockfeller e Mário Fofoca, e foi responsável pela concepção do Sai de Baixo
Publicado em 19/09/2021 às 16:02,
atualizado em 19/09/2021 às 21:15
As novelas brasileiras não seriam o que são hoje sem Beto Rockfeller (1968), sucesso da Tupi que, com linguagem moderna, revolucionou o gênero. À frente do folhetim, na pele do anti-herói que dava nome à história, estava Luis Gustavo (1934-2021), que se despede sob merecidos aplausos neste domingo (19), aos 87 anos. Ele morreu em casa, em Itatiba, no interior de São Paulo, vítima de um câncer no intestino.
Até o fim da década de 1960, as emissoras apostavam em folhetins que abusavam do melodrama, sem uma conexão tão forte com o Brasil da época. A novela de Bráulio Pedroso, que teve direção de Lima Duarte e Walter Avancini (1935-2001), tinha uma proposta mais realista, distante dos dramalhões da autora cubana Glória Magadan (1920-2001), uma das principais novelistas da época.
Em Beto Rockfeller, saíam de cena os protagonistas galantes e as mocinhas lacrimejantes. Entrava o malandro vivido por Luis Gustavo, um pobretão arrivista que se infiltra na alta sociedade para enganar os ricaços. Foi assim que o personagem conquistou não só o coração de uma namorada rica, Lu (Débora Duarte), como também a audiência de milhões de brasileiros.
Além de Beto Rockfeller, Luis Gustavo também foi Mário Fofoca, Victor Valentim, Vavá, entre outros tipos inesquecíveis
Luis Gustavo como Beto Rockfeller na novela homônima de 1968, em que contracenou com Bete Mendes - Foto: Reprodução
Mas Beto Rockfeller, um divisor de águas na teledramaturgia brasileira, foi apenas o primeiro de uma galeria de personagens inesquecíveis de Luis Gustavo na TV. O ator alcançaria a popularidade por diversas vezes. Na década de 1970, já contratado da Globo, colecionou papéis inesquecíveis às 19h, a maioria pelas mãos do então cunhado Cassiano Gabus Mendes (1929-1993).
Entre eles, o atrapalhado detetive Mário Fofoca, que roubou a cena em Elas por Elas (1982). De tanto sucesso, ganhou uma série em 1983, em que tentava solucionar diferentes mistérios à sua maneira. Décadas depois, o veterano retomou esse personagem na segunda versão de Ti Ti Ti (2010), atualmente em reprise no Vale a Pena Ver de Novo.
Na primeira versão de Ti Ti Ti (1985), aliás, Luis Gustavo foi Ariclenes Martins, papel defendido por Murilo Benício no remake. Outro êxito da carreira do ator: um trambiqueiro que, para desbancar o rival Jacques Leclair (Reginaldo Faria) no mundo da moda, cria um personagem, o costureiro latino e metido a conquistador Victor Valentim.
Luis Gustavo foi criador do Sai de Baixo e também integrou o elenco como o simpático Tio Vavá - Foto: Reprodução
Não bastassem tantos sucessos em novelas, o artista ainda mostrou fôlego na década de 1990. Saiu de sua mente criativa a ideia do Sai de Baixo (1996-2002), inspirado na Família Trapo, sitcom da Record que tinha os mesmos moldes nos anos 1960, mesclando teatro e TV. Anárquica, a atração ficou seis anos no ar e conquistou uma legião de fãs.
No humorístico, desenvolvido em parceria com Daniel Filho, ele também deu vida a Vanderley Mathias. Para uma geração mais jovem de fãs, o Tatá, como era chamado no meio artístico, será mais lembrado como Tio Vavá, uma figura simpática em meio a uma família de malucos, que contava ainda com Aracy Balabanian (Cassandra), Marisa Orth (Magda), Miguel Falabella (Caco Antibes) e outros.
Ainda que esse único personagem não dê a dimensão da importância de seu intérprete, trata-se de uma figura representativa: pelo humor, marcante na carreira de Luis Gustavo, e pela generosidade com os parentes, semelhante à do ator, que não se incomodava de servir de “escada” para que colegas de elenco brilhassem com tipos mais extrovertidos. Assim como o Vavá, sempre às voltas com empreendimentos mirabolantes, o artista também tinha a capacidade de se reinventar a cada episódio, o que prova a própria história da televisão brasileira.