Brigas, desgaste e ambiente conturbado: Os bastidores do Sai de Baixo
Sai de Baixo estreou há 25 anos e sempre viveu no fio da navalha
Publicado em 31/03/2021 às 04:15,
atualizado em 31/03/2021 às 15:29
Criado para bater o Topa Tudo por Dinheiro de Silvio Santos na faixa das 22h aos domingos, o Sai de Baixo completa 25 anos de seu lançamento nesta quarta-feira (31). O programa logo se tornou um fenômeno de audiência, mas engana-se quem acredita que os bastidores do humorístico tenham sido tão leves quanto as cenas que iam ao ar. Pelo contrário. Nos cinco anos que ficou na programação da Globo, o Sai de Baixo colecionou brigas de bastidores, ataques de estrelismos e até um memorando interno de Boni criticando a atração.
No elenco, nomes como Miguel Falabella, Marisa Orth, Luis Gustavo, Aracy Balabanian, Tom Cavalcante e Claudia Jimenez, fizeram os primeiros anos do show um estouro. Porém, após a estreia, logo começaram a pipocar notícias sobre os bastidores conturbados.
Cláudia Jimenez, por exemplo, foi acusada de ter criado caso com técnicos, diretores e autores, mostrando-se insatisfeita com tudo que envolvia o Sai de Baixo. Nesta altura, Miguel Falabella também teria sido afastado por três semanas pelas reclamações, e a intérprete de Edileuza teve a sua cogitada, mas a Globo preferiu não tomar essa atitude.
Em um episódio centrada na empregada, em julho de 1996, a atriz não teria aceitado nem o título do episódio. "Vou embora. Fui!", sugerido pelo autor Flávio de Souza. Segundo o jornal O Globo da época, ela vinha reclamando de piada e se recusando até mesmo a interpretá-las. "Ela está deslumbrada com um sucesso que nunca tinha feito e se sente no direito de se queixar de tudo. É uma estrela, a dona do programa. Dia desses, teve um ataque de estrelismo e disse que o trabalho do Dênis [Carvalho, diretor] e dos câmeras era uma merda. Como se não bastasse, durante a gravação da participação do elenco no Criança Esperança não quis atuar, alegando que não ganha para fazer aquilo", disse uma fonte ao periódico.
A publicação trouxe ainda que Jimenez costumava deixar o elenco esperando no palco enquanto passava horas no camarim, decidindo qual era o melhor figurino. Em dada ocasião, chegou a requisitar um cabeleireiro de Curitiba para entrar em cena.
No ano seguinte, Jimenez foi definitivamente afastada por "dificuldades de relacionamento". Segundo uma fonte ouvida pelo Jornal do Brasil, ela tratava mal a todos, do porteiro ao diretor do programa.
Numa extensa entrevista ao jornal O Globo em janeiro de 1997, após sua saída do programa, Jimenez se defendeu de todas as acusações e atacou o roteirista Claudio Paiva. "Ele foi muito filho da p... de tentar jogar a Marisa Orth contra mim, para se defender das minhas críticas contra o texto do programa. Foi ele que criou isso entre mim e a Marisa", detonou.
No entanto, reconheceu: "Eu realmente fui insubordinada algumas vezes, mas só porque eu queria melhorar as coisas. Acho que eles têm todo o direito de me demitir. A sacanagem não foi com a demissão, mas a maneira com que as coisas foram feitas".
Ao longo da entrevista, a atriz garantiu que não voltaria ao Sai de Baixo, como de fato não voltou. E mostrou insatisfação quando era chamada de nomes agressivos, como "supositório de baleia". "Perdi um pouco do estímulo, fui ficando chateada, ressentida", lamentou.
Boni criticou "excessos" de Sai de Baixo
O então vice-presidente de operações da Globo repreendeu os diretores do Sai de Baixo naquilo que classificou como "excessos". Em um memorando enviado a diretores, questionou a qualidade do Domingão do Faustão e Sai de Baixo do dia 8 de setembro. Naquele dia, Dercy Gonçalves fez uma participação polêmica no humorístico, mostrando os seios em cena.
O ex-todo poderoso da Globo garantiu que não repetiria um conteúdo semelhante àquele apresentado. Sobre Faustão, Boni condenou que o programa tenha mostrado o jovem Rafael, de 15 anos, que media apenas 87 centímetros. Caracterizado como o cantor Latino, foi motivo de brincadeiras diversas.
Sobre o Sai de Baixo, disparou: "Não poderíamos ter exibido o último programa. A direção da emissora não concorda com o excessos e não admitirá que sejam repetidos". Quem não gostou muito disso foi Aracy Balabanian, a Cassandra. "Morro de medo de qualquer tipo de censura na TV. Tem que haver um código de ética, mas é perigoso... Daqui a pouco, não pode nada", opinou ela à Folha de São Paulo de setembro de 1996.
Marisa Orth acreditava que aquilo se tratava de um complô contra o programa: "Estou sentindo da parte da imprensa uma enorme vontade de acabar com o Sai de Baixo de qualquer maneira". As duas não acharam nada demais a participação de Dercy. "É pentelhação ficar achando que Dercy mostrar os seios na TV é imoral no país em que a gente vive", disse a intérprete de Magda.
Nova crise em 1997
Depois que a intérprete de Edileuza saiu, em 1997 foi a vez de Tom Cavalcante causar mal estar. Em maio daquele ano, o humorista teria se recusado a gravar o programa e queria sugerir algumas coisas. O diretor José Wilker (1944-2014) ironizou: "As coisas no Sai de Baixo sempre tem um cara de crise. Se alguém aqui espirra, no dia seguinte sai no jornal".
O motivo é que Tom estaria insatisfeito com sua participação. "Ele cansou de receber textos mínimos e sem sentido", disse um amigo do ator ao periódico. A situação se confirmou e dias depois ele pediu afastamento do programa porque se sentia uma "escada" aos outros participantes. No entanto, permaneceu até 1999, quando foi suspenso pelo canal. Apesar disso, quem saiu foi Daniel Filho, que estava desgostoso com o rumo que o programa tomou nos bastidores.
Entre 1996 e 2001, o programa parece que sempre esteve no fio da navalha, por um fio. Mas o anúncio que terminaria chegou apenas em dezembro de 2001, com direito a episódio de despedida, que seria levado ao ar em março de 2002. Um dos que não queria que o programa acabasse era Luis Gustavo, que chorou copiosamente no desfecho da série.
A Globo resolveu acabar com o humorístico por acreditar que a fórmula estava desgastada. Em seu lugar imediato, entrou no ar o Big Brother Brasil, que estreava sua primeira temporada e tem os domingos como um dos dias mais importantes até hoje.
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