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Pouca transparência da CBF nos direitos da Copa do Brasil reflete resistência ao profissionalismo

CBF começou a negociar os direitos da Copa do Brasil para a próxima temporada


Atlético-MG comemorando o título da Copa do Brasil
Atlético-MG foi o último campeão da Copa do Brasil - Foto: Divulgação
Por Thiago Forato

Publicado em 25/06/2022 às 08:11,
atualizado em 25/06/2022 às 13:50

A batalha pelos direitos esportivos da Copa do Brasil, segundo torneio nacional mais importante do país, já começou nos bastidores. A CBF, entidade responsável pela organização e venda do campeonato às TVs, dificilmente vai deixar a Globo na mão, seja pela longa relação ou vitrine que a líder de audiência proporciona, mas apesar disso, a pouca transparência dessa "licitação" reflete bem a preocupação da confederação com o futebol e tudo que o cerca.

Como revelou reportagem de Rodrigo Mattos, no UOL, na semana passada, a CBF começou a negociar com a Globo de maneira antecipada, incomodando o SBT. Em uma licitação informal, ou de apenas um grupo midiático, fica difícil ter qualquer tipo de chance real. Nos bastidores, é sabido que dificilmente o canal de Silvio Santos vai conseguir ganhar essa queda de braço.

Dias depois, a mesma CBF afirmou que recebeu três propostas de agências de marketing esportivo pelo patrocínio da Copa do Brasil. O processo ainda está em fase inicial. Atualmente, a Globo e a agência Klefer, remanescente ainda dos tempos de Ricardo Teixeira (e que teve operação investigada por autoridades dos EUA), detém essas propriedades.

Sem fazer qualquer concorrência formal ou se organizar para licitar um torneio da relevância da Copa do Brasil, denota a importância que a CBF dá para aquilo que tinha tudo para ser um produto melhor. Esse é só um dos itens a serem arrumados pela entidade, que não se preocupa em profissionalizar os árbitros, enxugar o calendário, proteger os clubes nas datas Fifa e prezar pela qualidade do espetáculo. Por que ela haveria de se importar com os direitos de TV da Copa do Brasil, não é mesmo?

Por que não mais TVs na Copa do Brasil?

Pouca transparência da CBF nos direitos da Copa do Brasil reflete resistência ao profissionalismo

Torneio com 92 equipes, a Copa do Brasil ainda é um campeão de audiência. Atualmente na fase oitavas de final, houve um show de clássicos no sorteio, e várias dessas partidas estão restritas a uma parcela de torcedores que têm condições de arcar com uma plataforma por streaming ou TV por assinatura. É suco de elitização do futebol.

Ter um clássico como Palmeiras e São Paulo somente na Amazon Prime Video é uma esquizofrenia. Milhões de torcedores não sabiam sequer onde estava sendo transmitido. Privar o público de desfrutar de jogos como esse acaba sendo um tiro no pé. Será que Globo e SBT não podem coexistir? Há jogos para todos até a final. Quem está do lado do esporte? Só a exclusividade importa.

Silvio Santos já tentou tirar o Campeonato Brasileiro da Globo, quando o Clube dos 13 ainda negociava os direitos de transmissão. O próprio empresário recordou o fato na festa de 30 anos do SBT, em 2011. E o que ele disse sintetiza a realidade ainda nos dias de hoje.

"Me lembro de um ano que tentei competir com a Globo e que minha proposta tinha sido até um pouco melhor que a da Globo. Mas aí me responderam que a Globo tinha uma cláusula preferencial e que se ela cobrisse a minha proposta, ficaria com os direitos. E depois dessa data vi que qualquer tentativa de se trazer futebol para outra emissora que não fosse da Globo, seria uma tentativa que não daria resultado."

Silvio Santos, em 2011, sobre as tentativas em levar o futebol para o SBT

Por sorte, há licitações transparentes e de lisura no mercado da bola internacional. Não por acaso, o SBT conseguiu comprar a Liga dos Campeões e torneios da Conmebol. Aqui na nossa República das Bananas, o aclamado país do futebol, ainda parece imperar o que já deveria ter superado há tempos e profissionalizar de verdade o que há de melhor por aqui, em todos os sentidos.

A coluna procurou a Globo, CBF e o SBT e fez os seguintes questionamentos:

- Existe privilégio para a Globo na negociação dos direitos pela Copa do Brasil?

- A CBF poderia ser mais transparente nessa licitação?

- Existe a possibilidade de duas emissoras abertas transmitirem o torneio? Por quê?

A Globo disse que não comenta negociações em andamento. A CBF não respondeu aos contatos. E o SBT preferiu não se manifestar. 


Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Forato também é autor do blog https://parlandodepalmeiras.com.br. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto 


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