João Emanuel Carneiro é mais uma vítima da "obra aberta" e da falta de coragem da Globo
Mania de Você não agradou o público, e agora, talvez nem o autor
Publicado em 09/11/2024 às 11:44
Mania de Você dificilmente conseguirá reverter a baixa audiência e não terminar como a história das nove menos assistida da história da Globo em números absolutos do Ibope. João Emanuel Carneiro vem sendo mais uma vítima da covardia da Globo, que afasta temas espinhosos na tentativa de contornar o problema e censurando a liberdade artística do autor.
O conceito de obra aberta é uma faca de dois gumes. O que deveria servir para impulsionar a obra, aparando núcleos e dando mais espaço para quem está dando certo, pode se transformar em um cenário de vulnerabilidade para quem escrever.
Reagir ao público e às condições externas vem significando muitas vezes rifar temas já aprovados antes da história ir ao ar. No caso de Mania de Você, um romance lésbico entre Diana (Vanessa Bueno) e Fátima (Mariana Santos), além do envolvimento amoroso entre Bruna (Duda Batsow) e seu tio de criação, Volney (Paulo Rocha).
Na visão da Globo, retratar isso na tela pode afugentar o público. "A Globo está destruindo a família", diria um hater mais fervoroso do canal. Mas em tempos que o streaming desafia a TV aberta e esse tipo de tema é tratado sem pisar em ovos por lá, a emissora vai ficando pra trás e o medo de "chocar" fica maior que a coragem de "ousar". E esta talvez nem seja a palara. Qual tema revolucionário está sendo tratado aqui?
O insucesso de Mania de Você e o futuro da política da Globo
É bem verdade que Mania de Você não faz sucesso por uma série de outros motivos. A inverossimilhança dos fatos apresentados certamente - isso sim - afastou o público, bem como a narrativa acelerada. Trazer o que estava previsto na obra é mais um cerceamento na liberdade de Carneiro.
Infelizmente, a Globo - na realidade, quem toma as decisões graúdas - parece mais interessada em ser inclusiva a contar uma boa história e a audiência também percebe essa diferença. O politicamente correto e esse manual repleto de "não me toques" destrói qualquer projeto artístico. A inclusão pela inclusão de nada vale. Não é isso que vai mantê-la relevante.
Futuramente, pode prejudicar além, se tornando mais uma empresa refém de agenda e discurso, deixando de lado a boa construção de conflitos e personagens. O que a gente já viu do remake de Vale Tudo está aí para provar um pouco do estrago que pode está por vir.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br