Coluna Especial

Xuxa 60 anos: Uma carta para a rainha dos baixinhos

Xuxa já recebeu 80 mil cartas por dia


Xuxa sentada no chão e rodeada de cartas
Xuxa na época do seu programa na TV Globo - Reprodução

Eu poderia começar esse texto com "Xuxa, eu te amo!" e não estaria exagerando. A primeira vez que eu te vi pela telinha foi no Clube da Criança, na extinta TV Manchete. Confesso que tenho poucas lembranças daquela época, talvez porque sua passagem por lá tenha sido meteórica ou eu era muito novinha.

Se eu não me engano, a atração era à tarde e eu me lembro de chegar correndo da escola para dar tempo de assistir Dom Drácula, um desenho japonês. Já era fã de histórias de terror e achava muito divertido uma animação cuja personagem principal era um vampiro medroso e a filha adolescente que renegava suas origens.

Olha que curioso, foi por causa desse desenho que eu tive a ideia de escrever meu primeiro, e único até hoje, livro: "Os Filhos do Drácula". Datilografei (que coisa antiga), encapei e só mostrei para minha melhor amiga de infância. Tenho ele guardado até hoje.

"Com sua ida para a Globo tudo ficou diferente. Eu ainda estudava à tarde e conseguia assistir todo o programa. Assim como a maioria das crianças da minha idade, eu simplesmente me encantei por você. Não perdia um só dia".

Acho que meu primeiro sonho era participar da sua plateia, o segundo, ganhar um beijinho só para ficar com aquela marquinha no rosto e o terceiro, voar com você naquela nave espacial, mas todos pareciam tão distantes.

Xuxa 60 anos: Uma carta para a rainha dos baixinhos

Meu pai trabalhando todos os dias, minha mãe era aquela dona de casa sempre atarefada, minhas irmãs terminando o colegial e iniciando no mercado de trabalho (eu sou temporão) e ninguém para me orientar sobre como se faz para ir a um programa de televisão.

Aliás, parece até piada, mas sendo carioca e morando no Rio como era difícil te encontrar mesmo estando tão perto. Não sei se chegou a se dar conta disso, mas você não fazia shows pela cidade, salvo a chegada do papai Noel no Maracanã.

E se meu pai não tinha tempo, muito menos interesse, em me levar na emissora, você acha mesmo que ele iria ao Maraca, no final do ano, se juntar aquela multidão? Não!

"Um dia, isso eu me recordo muito bem, você anunciou um programa ao vivo. Era seu aniversário e as crianças foram convocadas a comparecer. Nossa, como eu e uma colega da escola imploramos, em vão, para que nossos pais nos levássemos. Eu me lembro até hoje que o público foi tão grande que mais da metade ficou do lado de fora do teatro Fênix. Lembro também da sua roupa, um modelo branco com estampa de balões coloridos".

Em um determinado momento, você subiu no ombro de um segurança e foi lá pra fora interagir com a plateia. O aniversário era seu, mas as crianças é que foram presenteadas com a sua presença e brinquedos como, por exemplo, a boneca Xuxa.

Eu era louca por uma boneca daquelas, mas estava além do meu poder aquisitivo. O bom é que um tempo depois você lançou a versão Xuxinha, semelhante a Barbie. Tenho a minha até hoje.

Xuxa 60 anos: Uma carta para a rainha dos baixinhos

Pra ser sincera, tudo o que levava o seu nome eu comprava: discos, itens de moda, beleza e papelaria, perfumaria e gastronomia... Nunca gostei de sopa, mas comia aquela de letrinhas que vinha em um saquinho só para montar no prato a palavra X-U-X-A.

Quando você firmou parceria com uma marca de sapatos eu tive o primeiro modelo, estilo boneca, que vinha com um colar cheio de penduricalhos. A linha era pra criança, ia só até tamanho 32.

Na época, eu já calçava 33, mas jurei que o calçado servia. Foi difícil andar com os dedinhos apertadinhos por um tempo, mas é claro que eu não contei isso pra ninguém... Até hoje. [risos]

Assim como 99,9% das meninas da minha idade, eu me vestia de Xuxa. Tive aquela bota branca, as borrachinhas pra fazer chuquinhas, laços, braceletes, botons e suspensórios, tudo "by Paraguai", porque de "O Bicho Comeu" era praticamente impossível por causa dos altos valores.

Mas eu tive agendas da sua loja, acho que a primeira quando estava na oitava série e a segunda já no segundo grau. Nesta época, eu colecionava tudo sobre a sua vida. Recortava reportagens e colava em cadernos com você na capa.

Um dia, eu fui com uma amiga ao dentista e na recepção da clínica tinha uma revista com uma matéria sobre você. Enquanto a menina distraía a recepcionista, eu fui até o banheiro e arranquei as páginas.

Hoje, não é algo do qual eu me orgulhe. Seria muito mais fácil, e sensato, eu pedir para a funcionária. Mas na época, para duas adolescentes, não deixou de ser uma aventura perigosa.

Tudo faz parte do meu pequeno acervo e que conta, ainda, com pôsteres, álbuns de figurinha e papéis de carta. Aliás, você sabe que eu nunca consegui enviar uma cartinha para você?

Na primeira tentativa, eu escrevi e pedi às minhas irmãs que colocassem no correio. Elas me fizeram acreditar que postaram, mas um dia eu a encontrei dentro de uma bolsa e perdi a confiança nas duas.

Na segunda vez meu pai foi o escolhido para postar pra mim, mas ele também me enrolou, e eu acabei achando o envelope esquecido no fundo de uma gaveta, na mesa de cabeceira.

Não lembro muito bem o que escrevi em nenhuma das duas, mas sei que não foi pedindo para ser Paquita. Não que eu não quisesse trabalhar com você, mas porque achava um sonho tão impossível que sequer pensei em tentar.

Eu sempre fui muito magrinha, não tinha os cabelos lisos e loiros, e nem os olhos claros como os seus, jamais seria escolhida. Acho que meu desejo era apenas que você soubesse da existência de uma fã louca para conferir se você era real, o que eu só fui comprovar muitos anos depois.

A primeira vez que eu te vi foi no show em comemoração aos 20 anos de Globo, em 2006. A apresentação era para convidados e eu consegui convites por causa de um concurso do jornal Extra.

Como eu tinha direito a um acompanhante, convidei uma amiga. Foi uma das experiências mais emocionantes da minha vida. Jamais vou me esquecer daquelas mulheres adultas chorando feito crianças e cantando todas as suas músicas.

Na manhã seguinte, eu ainda fiquei sabendo que todos os presentes ganharam um livro contando sua trajetória, menos eu porque fui obrigada a sair pelo andar de cima da casa de shows.

Nessa época, eu já era formada na faculdade, mas somente em 2011 é que comecei a trabalhar com jornalismo de celebridades e contei ao meu antigo chefe sobre minha paixão por você.

Então, nos seus 50 anos, em 2013, ele me credenciou para a coletiva de imprensa. Meu editor foi tão generoso que enviou uma segunda repórter só para que eu ficasse à vontade, curtindo nosso encontro. Nem preciso dizer que a quarta cartinha estava na bolsa e lá ficou.

No final da coletiva, a Tatiana Maranhão, minha xará, assessora e fiel escudeira da Xuxa, chamou os repórteres para tirar uma foto com você. Fui a primeira a chegar ao seu lado, mas uma menina baixinha se colocou na minha frente.

Você percebeu e disse: "Chega aqui", colocando meu braço em volta da sua cintura. No registro, mal dá para notar meu rostinho próximo ao seu, mas se fecho os olhos ainda sinto a textura do tecido do seu vestido nos meus dedos.

Tivemos uma segunda chance, desta vez quando você estava na Record, na coletiva do Dancing Brasil, em 2019. Já como repórter do NaTelinha, fui escalada para a coletiva de uma das temporadas do reality. Desta vez, eu não escrevi uma cartinha, mas saí de casa disposta a tirar uma foto só com você.

Xuxa 60 anos: Uma carta para a rainha dos baixinhos

Durante a entrevista, eu olhava impactada para os seus olhos e confesso que não faço ideia do que você disse tamanho o meu fascínio pela luz que eles emitiam. Depois da conversa, me despi da jornalista e voltei a ser a fã em busca de um registro.

Meu ex-chefe, aquele que me proporcionou vê-la pela primeira vez, foi quem registrou a imagem. Confesso que eu não saí muito bem na fita, acho que estava tensa demais, mas te abracei e senti sua energia mais uma vez.

Xuxa, 60 anos, hein! Eu também cresci e amadureci, mas quem está aqui hoje não é a jornalista, e sim aquela baixinha, desejando parabéns e torcendo para que minha quinta cartinha (esta) finalmente chegue até você. E eu não poderia terminá-la de outra forma que não seja mandando um beijo pra minha mãe, para o meu pai e pra você.

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