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Mesmo com polêmicas, "O Sétimo Guardião" tem início promissor na Globo

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Por Thallys Bruno

Publicado em 18/11/2018 às 09:47:48

Gênero que andava afastado das novelas dos últimos anos – a última a tê-lo como base principal foi “Porto dos Milagres”, de 2001 –, o realismo fantástico está de volta ao horário mais nobre da Globo e justamente pelas mãos de um dos seus principais expoentes: Aguinaldo Silva.

Com a estreia de “O Sétimo Guardião”, nova novela das 21h, na última segunda-feira (12) o autor pernambucano sucede “Segundo Sol”, de João Emanuel Carneiro, e traz de volta o estilo que o consagrou em tramas como “Pedra Sobre Pedra” (1992) e “A Indomada” (1997), esta última em reprise no canal Viva.

Mais uma vez ao lado do diretor Rogério “Papinha” Gomes – com quem realizou a mediana “Império” (2014-15) –, o novelista retoma a fórmula de sucesso de outros tempos. Desta vez, porém, o que se viu nos primeiros capítulos foi um maior investimento em tons de suspense, se aproximando mais de séries e filmes consagrados do gênero.

Sua ideia central retrata a pequena cidade interiorana de Serro Azul, que guarda como principal segredo uma espécie de “fonte da juventude” protegida por sete guardiões, aparentemente pessoas normais: o guardião-mor Egídio (Antônio Calloni), a cafetina Ondina (Ana Beatriz Nogueira), o delegado Joubert (Milhem Cortaz), o médico Aranha (Paulo Rocha), a misteriosa Milu (Zezé Polessa), o mendigo Feliciano (Leopoldo Pacheco) e o prefeito da cidade, Eurico (Dan Stulbach). Junto com eles, um misterioso gato, chamado León, que na verdade vem a ser outro guardião (Eduardo Moscovis), que foi transformado em animal por descumprir uma regra dos protetores: não constituiu uma família.

Egídio está à beira da morte e, com isto, León procura seu sucessor. E o encontra em São Paulo: é Gabriel (Bruno Gagliasso), herdeiro da empresária Valentina (Lilia Cabral), que está prestes a se casar com Laura (Yanna Lavigne), filha do milionário Olavo (Tony Ramos), mas que a abandona misteriosamente e faz a mãe relembrar situação semelhante à da nora, ao ter sido rejeitada por Egídio nas mesmas condições. Ao fugir do casamento e se deslocar a Serro Azul, ele sofre um acidente e é encontrado pela misteriosa Luz (Marina Ruy Barbosa). O rapaz se apaixona pela enigmática mocinha, mas se divide entre o romance e a missão de substituir o pai, além de estar na mira de Valentina.

A produção da novela foi cercada por controvérsias. Aguinaldo Silva chegou a pensar em ressuscitar sua vilã Nazaré Tedesco, chamando Renata Sorrah para viver a icônica megera de “Senhora do Destino” (2004), mas desistiu da ideia após a recusa. Pouco depois, acusações de plágio movidas por alunos de um curso de roteiro promovido pelo autor fizeram com que sua produção fosse adiada, trocando de lugar com “Segundo Sol” na sucessão de “O Outro Lado do Paraíso”, de Walcyr Carrasco. O roteirista chegou a elaborar uma outra sinopse, mas a direção de dramaturgia da Globo (leia-se Silvio de Abreu) optou por retomar a obra dos guardiões. Pouco antes da estreia, a emissora optou por creditar todos os alunos do curso na lista dos créditos finais.

Polêmicas à parte, os primeiros capítulos chamaram a atenção por uma estética mais próxima das séries e filmes de terror de Hollywood, ajudando a diferenciar a nova produção dos antigos clássicos de Aguinaldo – mesmo contendo referências claras a estas, entre elas a participação de Paulo Betti e Luiza Tomé revivendo o casal Ypiranga Pitiguary e Scarlet, de “A Indomada”. Ação e dramaticidade se fizeram especialmente presentes na estreia, com as ótimas cenas do acidente sofrido por Gabriel na estrada e das visões sobrenaturais de Luz, como a mão saindo de uma xícara de café, bem como sua ligação misteriosa com León. O clima soturno também se vê na abertura, mostrando peculiaridades de Serro Azul e tendo como tema a canção "The Chain", do grupo inglês Fleetwood Mac.

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Aliás, o gato (“interpretado” por quatro bichanos diferentes, além de um por animação eletrônica) chamou a atenção logo de cara por sua expressividade, imprimindo um ar soturno e até mesmo intimidador. Já entre o elenco “humano”, Lilia Cabral é o maior destaque até aqui. Ela conseguiu evitar que Valentina corresse o risco de se tornar uma cópia de Maria Marta (sua aclamada personagem de “Império”) e desde então vem roubando a cena ao lado de Tony Ramos, conhecido por sua notória versatilidade.

Também merecem elogios Yanna Lavigne (que emocionou com a dor de Laura ao ser abandonada), Dan Stulbach e Letícia Spiller (formando um divertido casal, até aqui o mais atrativo da novela), Elizabeth Savalla (que tem tudo para brilhar como a beata-vilã Mirtes), Vanessa Giácomo (ótima como a problemática Stella), Marcos Caruso (enfim voltando a ter um tipo dramático após uma sucessão de papeis na comédia), Fernanda de Freitas (que voltou às novelas após o fim de “Mister Brau”) e Ana Beatriz Nogueira (sempre maravilhosa).

No entanto, algumas ressalvas devem ser feitas para José Loreto (mais uma vez vivendo um garotão imaturo problemático e repetindo trejeitos de papeis anteriores), Bruna Linzmeyer (talentosa, mas outra vez vivendo uma moça recalcada) e especialmente para o núcleo de Nicolau (Marcelo Serrado) e Afrodite (Carolina Dieckmann), que tem se mostrado o mais fraco da história, muito em função do comportamento machista do dono de food-truck, que vive querendo transar com a mulher diariamente, porque quer que ela lhe dê mais um filho e quer que ele seja jogador de futebol. Já a relação entre Joubert e sua esposa, a sensual Rita de Cássia (Flávia Alessandra), apimentada pelo fetiche do delegado de usar lingeries femininas, chega a lembrar o constrangedor núcleo do médico Samuel (Eriberto Leão) em “O Outro Lado do Paraíso”.

Ainda assim, as ressalvas não têm comprometido o bom saldo inicial da trama de "O Sétimo Guardião". O promissor enredo, polêmicas à parte, tem tudo pra agradar, em especial pela “ousadia” de retomar um estilo que há muito não se via em plena forma, apesar de tramas anteriores apresentarem elementos comuns ao mesmo. A busca pelo novo guardião-mor e o jogo de interesses que a fonte milagrosa irá provocar podem render uma boa história, se bem trabalhada.

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