Alessandra Poggi previu e Garota do Momento é "um chuá!"
Folhetim tem todos os ingredientes para atrair o noveleiro raiz
Publicado em 06/01/2025 às 07:00,
atualizado em 06/01/2025 às 11:40
O ano mal começou e já dá para dizer que 2025 marca a consagração de Alessandra Poggi na dramaturgia da Globo. Autora de Garota do Momento, a novela das seis é um chuá!
Quem assiste ao folhetim provavelmente já deve ter escutado algum personagem dizer: "Vai ser um chuá", que significa um estouro, um acontecimento, algo capaz de atrair a atenção.
E é justamente isso o que temos visto na televisão toda vez que a música Tutti Frutti começa a tocar na abertura, na voz de Jerry Lee Lewis, ou a ser cantada por Lilia Cabral, que interpreta a vilã Maristela. Não seria exagero afirmar que esta cena vai entrar para a lista das mais icônicas da trama.
Garota do Momento chegou como uma grande promessa para o horário destinado às novelas de época. Curiosamente, a mais recente foi Além da Ilusão (2022), a primeira novela assinada pela autora na emissora.
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Quem trabalha com novelas, estuda sobre novelas ou apenas assiste novelas aprendeu que o folhetim exibido às 18 horas na Globo costuma ser pensado nas donas de casa. Isso porque, antigamente, esse era o horário em que elas estavam "escutando", acompanhando a história e preparando o jantar ao mesmo tempo.
Na trama de Alessandra Poggi, essa personagem é muito bem retratada através da Anita, que quase sempre está com um olho na TV e o outro nas suas mãos enquanto bate a massa de bolo.
Não à toa, a dona de casa, interpretada por Maria Flor, faz tanto sucesso com suas receitas que ganhou um quadro de culinária no Alfredo Honório Show, programa da fictícia TV Ondas do Mar, o Tempero da Anita.
E como a autora tem um olhar muito sensível e peculiar, Anita passou a dividir a bancada de sua cozinha com o Pato José, recentemente. Qualquer semelhança com Ana Maria Braga ou a saudosa Palmirinha (1931-2023) não é mera coincidência.
Esse núcleo, aliás, vem prestando algumas homenagens. A começar pelo próprio apresentador do programa de auditório e dono da emissora, Alfredo Honório (Eduardo Sterblitch), que é um mix de comunicadores brasileiros. O próprio ator disse se inspirar em nomes como Silvio Santos (1930-2024), Chacrinha (1917-1988) e Fausto Silva, entre outros.
Novela das seis encanta pelo requinte e as bandeiras que levanta
Romance, humor, drama, comédia... São muitos os ingredientes que transformam uma novela em sucesso e neste quesito Alessandra Poggi está sendo generosa com os telespectadores.
Garota do Momento começa com o drama da menina que foi abandonada ainda criança pela mãe, passa anos sem notícias até descobrir que essa mulher construiu uma nova família em outra cidade.
O que poderia ser pior? Teve outra filha e lhe deu o mesmo nome da "rejeitada". Qualquer pessoa faria o mesmo que Beatriz (Duda Santos): ir atrás de Clarice (Carol Castro) em busca de respostas.
Assim começa a trajetória dessa moça criada pela a avó em um orfanato de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e que se depara com um ambiente bem diferente daquele em que cresceu.
A Jovem ainda não faz ideia de que sua mãe perdeu parcialmente a memória, teve um passado forjado e leva uma vida de mentiras, tudo para encobrir um "crime" que ela testemunhou.
Mas como em um conto de fadas, Beatriz se torna garota-propaganda da empresa da nova família de Clarice e, mesmo sem saber o sangue que as une, a desmemoriada sente um carinho especial pela nova pupila da escola de damas.
Só por isso já vale o folhetim, mas a autora quer muito mais e, não satisfeita, nos deu uma protagonista negra, professora de matemática, que tem paixão pelas equações, os livros e os orixás.
Pois é, Garota do Momento tem quebrado estereótipos enquanto dá aulas sobre a cultura afro brasileira, seja nos tradicionais bailes do clube Gente Fina, seja no cabelo crespo defendido por Glorinha (Mariana Senna) e pela própria Beatriz.
A novela ainda toca em temas importantes como racismo, machismo e/ou misoginia. Por se tratar de uma história da década de 1950, a mulher nessa época tinha sua vida governada primeiro pelo pai, depois pelo marido.
Uma vez casada, ela precisava da permissão do homem para trabalhar, ter conta em banco e viajar. Criadas, geralmente, para constituir família, raras eram as moças que iam para a faculdade, o que me lembra muito o filme O Sorriso de Monalisa (2003).
A escola de etiquetas comandada por Clarice representa bem o cenário na vida dessas jovens, embora nem todas tinham o casamento como prioridade, saber se comportar era o primeiro passo para conquistar um ótimo partido.
Falando em romance, mais uma cartada genial da autora, ou seria fada-madrinha, foi criar um casal protagonista inter-racial. Mal chega à cidade, Beatriz esbarra em Beto (Pedro Novaes), um fotojornalista branco, e o que acontece é amor à primeira vista. Namorando Bia (Maisa Silva), o rapaz troca a jovem mimada pela moça decidida e empoderada.
E ainda temos a relação de Raimundo (Danton Mello) e Lígia (Palomma Duarte), que se amam, mas não conseguem viver juntos. E de Celeste (Debora Ozório) que, depois de passar por um relacionamento abusivo, vive com Edu (Caio Manhente) a delícia do primeiro amor.
Roteiro, cenário, figurino, trilha sonora, texto... Eu poderia escrever parágrafos sem fim sobre essa deliciosa novela, mas longe de mim querer ser repetitiva, ou rasgar demais a seda. Mas como uma apaixonada por novelas e jornalista que cobre dramaturgia, não posso negar que Garota do Momento vai ser... Não! É um chuá!
