Opinião: Fátima Bernardes conseguiu levar o sofá de Hebe Camargo para a Globo
Publicado em 18/11/2018 às 08:15
A Fátima Bernardes que surge diariamente nas manhãs da Globo em nada assemelha-se a engessada e comedida apresentadora dos seus primeiros anos à frente do "Encontro".
Contrariando algumas previsões, ela conseguiu se desconectar da postura circunspecta, que o cargo exigia, de quando foi âncora do principal telejornal da Globo por 13 anos, e se aproximou de forma eficiente da dona de casa que procura uma identificação em seu programa.
Mas essa mudança de percurso profissional de Fátima Bernardes ocorreu de maneira gradual, talvez tendo a inteligência de capitalizar para si as críticas que recebeu no começo, quando teve dificuldades de perder os vícios de postura para uma bancada de hard news e entender as necessidades de linguagem para comandar um programa de auditório.
Nesse caminho, como um reality show, consequência por ser uma pessoa pública, as reviravoltas em sua vida pessoal vêm sendo acompanhada de perto pelos telespectadores e sendo alvo de palpites nas redes sociais. Curiosamente, essas mudanças longe dos estúdios caminharam paralelamente com suas transformações profissionais que enfrenta desde 2011, quando deixou o "Jornal Nacional".
Por isso, nesta alteração de rota entre apresentadora de um telejornal e um programa matutino, Fátima é um bom exemplo de reinvenção na TV.
Seu desempenho no "Encontro" é primoroso. Ela consegue ser a protagonista da atração sem oprimir as personalidades dos seus convidados.
Fátima Bernardes está solta, carismática, não tem medo de se expor em opiniões, e recebe em seu sofá os representantes dos mais variados setores da sociedade, sabendo costurar as diversificadas pautas para que tudo fique homogêneo.
Além disso, comanda com eficiência as entrevistas não deixando que esbarrem no tédio, conseguindo superar sua interação com a dona de casa aos seus melhores momentos no "Jornal Nacional" e exibindo uma coreografia de palco que muito se aproxima de Hebe Camargo no SBT.
Desde a morte da rainha da televisão, em 2012, ano da estreia do "Encontro", várias apresentadoras se mostraram dispostas a ocupar a vaga deixada pela "loiruda". Algumas estão no caminho, outras não tiveram a mesma felicidade, mas Fátima, que nunca se mostrou com essa intenção, é que mais se aproxima do jeito popular e ao mesmo tempo refinado da apresentadora que era uma "gracinha e linda de viver" do canal de Silvio Santos.
De maneira curiosa, os primeiros programas comandados por Hebe Camargo na televisão foi o "Musical Manon", em 1956, e o feminino "O Mundo É das Mulheres", em 1958, exibido por seis anos no canal 5, TV Paulista, hoje Globo São Paulo. Este último, responsável por sua carreira como apresentadora conquistar uma outra dimensão no cenário artístico.
"Ninguém pode substituir Hebe. Mas quem chega próximo é a Fátima Bernardes. Eu vejo um pouco do improviso da Hebe nela. Fora Fátima, mais ninguém, não adianta dizer que quer ser Hebe Camargo", apontou Aurora Prado, profissional que dirigiu a apresentadora por 20 anos, entre Band e SBT, numa conversa com esta coluna.
Desde a última segunda-feira (12), Fátima Bernardes entrou de férias por 15 dias do seu programa feminino, que passou a ser comandado por Patrícia Poeta, também ex-"JN" e sua substituta fixa na atração.
A audiência permanece estável, mas é notada a ausência do charme que a jornalista, a mulher e a apresentadora vem fazendo falta nas manhãs da televisão. Fátima Bernardes conseguiu levar o sofá da Hebe para a Globo.