Publicado em 25/07/2018 às 14:30:21
“Jesus” está entre nós! Claro que não se faz aqui nenhuma profecia cristã, apenas falo da nova novela da Record TV que, tal qual a principal referência do cristianismo, terá uma tarefa árdua, mas, diferente do personagem que dá nome à trama, o sucesso de suas ações está longe de ser uma certeza.
Ainda que tenha estreado com bons 13,4 pontos de audiência na Grande São Paulo (superior às estreias de "Apocalipse" e "Os Dez Mandamentos"), o novo folhetim terá que mostrar a que veio e atravessar intempéries que vão desde o fim da novela que a antecede, o mega sucesso “Os Dez Mandamentos”, até as insistentes, intempestivas e infundadas intervenções no texto.
Intervenções bastante sentidas pela excelente Vivian de Oliveira que, em "Apocalipse", teve de conviver com tantas que uma das mais promissoras tramas do canal do bispo Edir Macedo acabou se transformando em um significativo fracasso.
O uso da televisão para reforçar ideologias e divulgar produtos de outras empresas de seus proprietários não chega a ser novidade. Em alguns casos, às claras, como na “Semana do Presidente”, veiculada pelo SBT nas décadas de 80 e 90, em outros de forma velada, como na já assumida edição tendenciosa do debate entre Collor e Lula no "Jornal Nacional".
Mas a maior associação ideológica entre uma empresa e uma emissora de TV, sem dúvidas, se dá na relação entre Record TV e Igreja Universal.
A instituição religiosa, que ocupa as madrugadas e boa parte dos dias da emissora, além de cliente e parceira de conteúdo, por vezes tem membros indicados para posições estratégicas na TV como, por exemplo, quando o bispo Honorilton Gonçalves comandou com mãos de ferro o artístico da emissora (na prática, comandava, além do artístico, toda a emissora).
Mas, em “Apocalipse”, a Record TV exagerou. As intervenções de Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo, na trama, além de gerar indisposição com autora e elenco, também o fez com o público. A trama, que começou com 13 pontos de audiência, terminou sofrendo para chegar aos 9.
Diante desse cenário, embora negue, o canal encurtou a novela, desengavetou a minissérie “Lia” e colocou-a no horário para “fazer sala” para “Jesus”, que ainda não estava a ponto de estreia.
A minissérie conseguiu resultados mais expressivos que sua antecessora, mas não o suficiente para superar a reprise de “Os Dez Mandamentos” que, depois de um início titubeante, deslanchou, atingindo pontos bastante interessantes para o horário.
Nesse cenário, “Jesus” terá a difícil missão de aumentar os índices de “Apocalipse” e provar que a queda na audiência das produções bíblicas têm mais a ver com uma reação às intervenções descabidas em seu roteiro e produção do que com uma rejeição à emissora ou esgotamento do formato.
*Helder Vendramini é formado em Rádio e TV e pesquisa esse meio há anos. Aqui no site, busca fazer análises aprofundadas dos mais variados temas que envolvem a nossa telinha.
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