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Os bastidores da queda de Silvio de Abreu na Globo

Executivo deixa o cargo e será substituído por José Luis Villamarim


Silvio de Abreu posa para foto
Silvio de Abreu caiu da chefia de dramaturgia da Globo - Foto: Divulgação

A queda de Silvio de Abreu do cargo de diretor de dramaturgia da Globo não chegou a ser uma surpresa, já que estava confirmada há alguns meses e restava apenas o anúncio da emissora. Mas o tempo que antecedeu a saída do executivo e responsável por aprovar obras como Amor de Mãe (2019), A Lei do Amor (2016/2017) e A Força do Querer (2017) foi muito tumultuado com direito a dossiê contra ele e até um embate com Ricardo Waddington, novo diretor de entretenimento da casa.

Como o NaTelinha já havia antecipado, Silvio iria ser afastado de suas funções e os sinais estavam cada vez mais claros, inclusive com a possibilidade - agora real - de uma mudança geral na fila das próximas novelas. Mas ele já vinha sendo fritado nos bastidores da Globo por conta de sua relação difícil com autores e alguns embates com o novo chefão da casa, Ricardo Waddington.

Logo em sua entrada no cargo, Silvio passou a ser visto como uma espécie de ditador ao reescrever cenas de novelas sem o conhecimento dos novelistas titulares. Foi assim com Babilônia (2015) e com A Lei do Amor, duas produções fracassadas no Ibope e que sofreram intervenções do departamento, mas que não adiantou porque elas não reagiram.

Além disso, o executivo teve um problema sério com Benedito Ruy Barbosa nos idos de Velho Chico (2016). Abreu queria a todo custo intervir no texto da novela, mas o autor não aceitou e chegou a reclamar do comportamento do chefe diretamente com a família Marinho. O folhetim, inclusive, sequer foi aprovado pelo departamento de dramaturgia e a produção teve ordens de cima para ser feita.

A partir daí, Silvio de Abreu seguiu à risca o legado que pretendia cumprir em seu mandato e para o qual foi escolhido: renovar o elenco de autores. Sob a tutela dele, a Globo revolucionou a dramaturgia com novos nomes assinando novelas como nunca antes se tinha visto, como Ângela Chaves (Éramos Seis), Maria Helena Nascimento (Rock Story), Daniel Ortiz (Haja Coração) e Manuela Dias (Amor de Mãe), somente para citar alguns.

Mas isso causou um problema efeito dominó porque ele passou a dispensar e aposentar na marra medalhões que estavam há décadas na casa. Foi o caso de Manuel Carlos, Walter Negrão e o próprio Benedito Ruy Barbosa, que causou um incômodo daqueles por parte de outros roteiristas que respeitavam muito a história desses autores, que fizeram parte da emissora por décadas.

Dossiê contra Silvio de Abreu

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Ainda no meio da renovação e com fim dos contratos de Miguel Falabella e até de Aguinaldo Silva, foi criado uma espécie de dossiê dos principais autores da casa contra Silvio de Abreu. Parte dos roteiristas reclamaram com a cúpula da Globo de que o chefe não os ouvia e privilegiava apenas os novatos em detrimento de histórias mais diferentes e ousadas.

Enquanto nomes como Duca Rachid e Thelma Guedes escreveram apenas uma novela - no caso Órfãos da Terra, vencedora do Emmy Internacional - e Alcides Nogueira (Tempo de Amar), quem estava na trupe de Silvio garantiu retornos constantes ao ar, como Daniel Ortiz (Haja Coração, Salve-se Quem Puder), Elizabeth Jhin (Além do Tempo, Espelho da Vida) e Walcyr Carrasco (Verdades Secretas, Êta Mundo Bom, O Outro Lado do Paraíso e A Dona do Pedaço).

Esse dossiê mostrava as decisões consideradas equivocadas por parte dos autores e foi entregue diretamente para a cúpula do Grupo Globo, ou seja, acima de Carlos Henrique Schroder, que era visto como um protetor de Silvio e que também caiu na semana passada. Isso criou um incômodo e a queda do executivo passou a ser considerada como provável.

Silvio de Abreu x Ricardo Waddington

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Como diretor de produção, Ricardo Waddington podia palpitar sobre algumas áreas da dramaturgia e isso gerou algumas rusgas com Silvio. A primeira aconteceu no Vale a Pena Ver de Novo, quando eles divergiram sobre o estilo de tramas que deveriam voltar ao ar, enquanto o chefe de dramaturgia preferia produções leves, o chefe dos Estúdios Globo na época achava que o caminho era outro.

Waddington acabou vencendo a queda de braço e, pelas mãos dele, Amauri Soares, diretor de programação, aprovou a escolha de Por Amor, Avenida Brasil e, mais recentemente, Laços de Família. Inclusive, a escolha do furacão de João Emanuel Carneiro aconteceu depois de uma briga mais dura entre os dois, com direito até a conspiração nos bastidores.

A mais recente disputa entre Waddington e Abreu aconteceu já na pandemia com o diretor estando com os dias contados. Ele havia aprovado a fila de novelas para a faixa das 21h para os próximos anos e não gostou nada da sugestão do outro em colocar o remake de Pantanal no meio. A novela de Benedito Ruy Barbosa e que será refeita pelas mãos de Bruno Luperi estava prevista para ir ao ar no Globoplay, mas novamente Ricardo venceu a batalha e conseguiu colocar o remake para 2021, com direito até a reportagem no Fantástico.

A queda de Silvio de Abreu

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A queda de Silvio de Abreu não pegou os autores de surpresa, tanto que alguns deles estavam esperando o anúncio do substituto para enviar sinopses, já que não queriam o dedo dele no desenvolvimento do folhetim. E nem mesmo houve motivos para comemoração com o retorno da emissora no Emmy Internacional na categoria novela, já que para muitos, a Globo venceu apesar dele e não por ele.

É que Silvio não gostava da sinopse de Órfãos da Terra e chegou a dizer isso nos bastidores da emissora sem qualquer constrangimento. Chamando a sinopse de chata, o diretor chegou a promover uma dança de cadeiras das autoras Duca Rachid e Thelma Guedes, colocando a produção para às 21h e depois novamente para às 18h, o que atrasou todo o processo.

Por tantas idas e vindas é que boa parte dos autores - tanto os que continuam contratados e os que perderam o emprego - não lamentou o fim da era Silvio de Abreu na dramaturgia da Globo.

Outro lado

A Globo se manifestou após a exibição da matéria e negou a informação: "Não proecedem as informações da matéria. Silvio de Abreu teve muito êxito em todo seu período como diretor de dramaturgia da Globo. Revelou mais de 20 autores, organizou o planejamento de exibição das novelas, entre outras conquistas. Silvio é um profissional respeitado e querido na Globo. E foi dele a decisão de deixar a empresa ao final do seu contrato."

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