Sucesso de Tieta pode ser creditado às personagens femininas e fortes da trama
Perseguidas como na inquisição elas não baixaram suas cabeças
Publicado em 02/12/2024 às 09:00,
atualizado em 02/12/2024 às 10:33
Exibida pela Globo em 1989, Tieta está de volta nesta segunda-feira (2) no Vale a Pena Ver de Novo. Escrita por Aguinaldo Silva e tendo Betty Faria no papel principal, conta a história de uma jovem que saiu de Santana do Agreste escorraçada pelo pai, e "apedrejada" por toda cidade, pelo pecado de amar.
A história da protagonista se parece com a de muitas mulheres na época da inquisição, medieval (XIII ao XIV) e moderna (XV ao XIX), quando estas eram julgadas e condenadas pelo tribunal eclesiástico da igreja Católica por desvio das normas de conduta e fé.
Enquanto a primeira fase tinha castigos mais brandos como, por exemplo, a excomunhão, em sua segunda fase as punições eram mais cruéis. Mulheres queimadas em fogueiras ou condenadas à prisão perpétua, além de terem seus bens confiscados.
Você deve estar se perguntando o que a inquisição, banida em 1821, tem a ver com a história de Tieta, que se passa no final da década de 1980. A verdade é que até hoje as mulheres são julgadas e condenadas por atos semelhantes aos daquela época. Muitas delas carregam se não no peito ou na pele, na alma a letra escarlate.
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Não à toa, a tese da legítima defesa da honra para justificar a morte de uma mulher por adultério só se tornou inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STJ) em agosto de 2023.
Voltando à novela da Globo, Tieta retorna para a sua terra natal rica, poderosa e com sede de vingança, depois de ter comido o pão que o diabo amassou para sobreviver longe da família e dos amigos.
Como a personagem fez a vida não é difícil adivinhar. Por isso, motivos não lhe faltam para ter seu nome mais uma vez em "boca de Matilde". Ainda mais levando em consideração que a cidade está caminhando para o seu desenvolvimento e a mentalidade dos moradores continua tacanha como quando ela saiu de lá corrida.
Será através da ambição daquelas pessoas que Tieta passa a ser aceita, apostando sempre no ponto fraco de cada uma delas. Em especial do seu pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), e da irmã mais velha, Perpétua (Joana Fomm).
A partir daqui contém spoiler
É inegável que as personagens femininas de Tieta têm uma força invejável. Beata fervorosa, conservadora feroz, a irmã da protagonista da novela foi capaz de fechar os olhos para a relação incestuosa do seu filho, Ricardo (Cássio Gabus Mendes) com a tia em troca de uns "tostões".
Viúva, guardou o membro sexual do marido morto por muitos anos dentro de uma caixa enquanto clamava por sua presença todas as noites.
E se a carola tinha Amorzinho (Lilia Cabral) e Cinira (Rosane Gofmann), ambas com desejos retraídos, como suas fiéis escudeiras, a grande amiga de juventude de Tieta era Carmosina (Arlete Salles), uma mulher ainda virgem, apesar da maturidade, que suspirava por um amor platônico.
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O que dizer, então, da contradição entre Tonha (Yoná Magalhães) e Elisa (Tássia Camargo). Enquanto a mãe era a personificação da mulher reprimida e despida de qualquer vaidade, a filha era uma bomba prestes a explodir tamanha sua paixão pelo desconhecido.
Foi com a ajuda da meia-irmã Tieta que a jovem entendeu que não havia nada de errado com o fogo que tomava seu corpo. O mesmo bem a ricaça fez para a madrasta que, finalmente, se viu livre de um casamento arranjado com um homem muito mais velho do que ela.
A cena icônica de Tonha voltando ao Agreste revigorada e rejuvenescida, embalada pela canção "Uma Nova Mulher" na voz de Simone, é até hoje uma das sequências mais lindas da televisão brasileira.
"Livre, livre, livre para o amor. Quero ser assim, quero ser assim, senhora das minhas vontades e dona de mim". E qual de nós não quer?
