Atriz de Pantanal critica papéis de empregada na Globo: "Estereotipados"
Aline Borges revelou que mãe botava pregador em seu nariz para que ficasse fino
Publicado em 12/07/2022 às 10:50,
atualizado em 12/07/2022 às 11:28
Aline Borges, a Zuleica de Pantanal, falou sobre o racismo em entrevista divulgada nesta terça-feira (12). No ar como a segunda esposa de Tenório (Murilo Benício), cuja família é “escondida” pelo vilão na novela da Globo, a atriz de 47 anos relembrou papéis estereotipados em produções da emissora.
“Minha primeira novela foi Coração de Estudante (2002), fazendo papel de copeira. Depois Celebridade (2003), como uma empregada. Fiz uma série de participações e personagens estereotipados, sabe?”, relatou Aline Borges, em entrevista à revista Quem. Em Pantanal, a atriz tem seu primeiro papel de grande destaque no horário nobre.
Apesar das dificuldades na carreira, a atriz não arrefeceu e seguiu lutando por seu espaço. “Nunca parei, sempre fiz teatro, fiz teatro de rua, viajei com teatro. Sempre acreditei na minha carreira e investi nela. Não venho de família com tradição artística. Meus pais nunca botaram fé na minha profissão.”
“É poderoso acreditar nos sonhos. Não fui ensinada a acreditar neles. Depois de reconhecer minha negritude e me reconectar com minha ancestralidade, percebi minha potência.”
Aline Borges
Na juventude, a artista teve conflitos com o visual e cogitou operar o nariz para diminuí-lo. "Quando era criança, minha mãe botava pregador no meu nariz para que ele ficasse fino. Isso é uma violência que deixa marcas. Minha mãe não fazia isso sabendo era uma violência. Ela não tinha consciência disso."
Além disso, Aline já tentou esconder das amigas o próprio irmão gêmeo, que é negro retinto. "Neguei o meu irmão gêmeo por ter vergonha da negritude dele, da nossa negritude. Isso é muito cruel. Dei o endereço errado do colégio para ele porque fiquei com vergonha daquele irmão preto chegar na porta da escola."
Trama de Zuleica em Pantanal discute o racismo
Com a entrada em cena de Zuleica, Pantanal passou a abordar o racismo, tema que não esteve presente na primeira versão da história, exibida na Manchete em 1990. Em entrevista divulgada pela Globo à imprensa, em junho, Aline Borges comemorou a chance de discutir o tema no remake assinado por Bruno Luperi.
“Para descontruir a gente precisa discutir, colocar uma lupa para olhar para o racismo, que segue excluindo, oprimindo e matando o povo negro todos os dias”, relatou Aline Borges. Ela também elogiou, na ocasião, a iniciativa do autor do remake, Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, que escreveu a novela original.
“É maravilhoso ter a oportunidade de dar vida a essa personagem, que é uma mulher negra, com uma família preta, numa relação interracial, que é até complicado falar sobre isso no Brasil, onde existe tanto preconceito, tanto julgamento…”
Na Pantanal original, exibida na Manchete em 1990, a personagem foi interpretada por Rosamaria Murtinho. “Esse papel foi vivido brilhantemente vivido por ela, uma mulher branca. Fazer essa mudança para que a Zuleica seja uma mulher preta e trazer essas questões raciais é de um valor primoroso, muito especial e a gente precisa olhar para isso.”
Assim como na versão original da novela, Tenório e Zuleica têm três filhos: Marcelo, Renato e Roberto. Os personagens são defendidos, respectivamente, pelos atores Lucas Leto, Gabriel Santana e Cauê Campos.
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