Enfoque NT

Até que ponto o apresentador tem papel no sucesso ou fracasso de um reality show?

Marcos Mion deixa A Fazenda em alta; mas será que ele foi tão imprescindível no sucesso de 2020?


Tiago Leifert, Silvio Santos e Marcos Mion
Tiago Leifert no BBB, Silvio Santos na Casa dos Artistas e Marcos Mion em A Fazenda - Foto/Montagem/NaTelinha

Silvio Santos, Pedro Bial, Britto Jr., Roberto Justus, Marcos Mion, Tiago Leifert... Todos esses já apresentaram, e no caso de Leifert, ainda apresenta reality de confinamento. Apresentadores tão diferentes já provaram edições exitosas e outras nem tanto. Com 20 anos de formato de confinamento no Brasil, até que ponto um apresentador pode determinar, influenciar um sucesso ou fracasso de uma temporada?

O primeiro grande reality show no Brasil foi produzido em 2000 pela Globo, o No Limite, uma adaptação do Survivor, que causava frisson nos Estados Unidos. O formato consistia em colocar participantes passando por testes de resistência em um local inóspito e tinham que se virar com o básico. Coube a Zeca Camargo a responsabilidade de fazer um No Limite sem muitas referências, já que era um formato novo.

O ex-Globo conseguiu desempenhar sua função com maestria, assim como nas três temporadas subsequentes. A última edição, em 2009, não deixou muitas saudades, seja porque o gênero reality já estava saturado ou No Limite já não encantava como antes. Zeca Camargo poderia ser responsabilizado pelo fiasco? Certamente não.

O apresentador, ou âncora do reality show, pouco influencia o sucesso ou fracasso de um programa do tipo, ao não ser que ele possa interferir no andamento do mesmo, como Silvio Santos fazia na sua Casa dos Artistas (2001-2002) e mexia com as regras ao seu bel-prazer.

Silvio, aliás, é figura única entre apresentadores de reality show. Diferente de todos os outros, não só por ser o maior animador que este país já viu, mas por conduzir um Big Brother do SBT de maneira descompromissada, deixando completamente de lado o nível de tensão que atualmente o formato carrega.

Recordo aqui a épica briga entre Alexandre Frota e Mari Alexandre ao vivo num domingo. Enquanto Frota dizia que não suportava mais ouvir a voz da colega, a chamando até de pato, Silvio não aguentava de rir no estúdio. Você imagina outro apresentador com a mesma postura ? Em realities, esse tipo de cena é comum ao vivo, mas sempre surge com um ar apaziguador e cauteloso, na tentativa de acalmar os ânimos.

O apresentador pode ditar o ritmo, como Silvio ditou uma grande palhaçada, no bom sentido, o que dificilmente outro faria.

A saída de Marcos Mion da Record; e agora?

Até que ponto o apresentador tem papel no sucesso ou fracasso de um reality show?

Nesta última semana, uma notícia surpreendente: a Record demitiu Marcos Mion, que estava em alta depois de A Fazenda 12. O reality ressurgiu das cinzas depois de uma temporada fracassada em 2019. Foi Mion quem determinou o sucesso em 2020? Não. Assim como não teve culpa do fracasso de 2019. Afinal, dois pesos e duas medidas.

O ex-MTV, em um comparativo com Britto Jr. e Roberto Justus, até se saiu melhor, mas Mion continua mostrando uma deficiência em apresentar os games. Ainda não sabe conduzir um e se mostrava por vezes perdido nas Provas do Fazendeiro, repetindo falas, destoando do tom que estava acontecendo ali na frente e sem conseguir narrar com fluidez.

A Fazenda 12 foi um grande sucesso por outros motivos. Claro que Mion tem seus méritos. Teve grande desempenho, mas não foi imprescindível. Outros fatores como um cenário pandêmico, falta de programação inédita na TV, elenco bem escolhido, etc, é que tiveram peso.

O sucessor, por tabela, vai ter duas responsabilidades: a primeira de apresentar tão bem quanto e se conectar com o reality como Mion conseguiu. A segunda, injusta, de fazer o mesmo sucesso da temporada anterior. Ou até maior.

No Big Brother, da Globo, a mesma coisa. Pedro Bial apresentou o programa por 16 temporadas. Esteve à frente de edições memoráveis como o primeiro, claro, e outros como o 5, 7, 10 e por aí vai. Leifert está somente no seu quinto, mas nem precisamos ir longe para fazer um comparativo.

Enquanto a 19ª temporada foi um vexame, seja no elenco, repercussão e audiência, a 20ª foi completamente o oposto, colocando o BBB mais uma vez na boca do povo. Leifert foi determinante em algum dos casos? Certamente não.

Trocando em miúdos, um BBB ou A Fazenda não faz sucesso por causa do seu apresentador. Tampouco apesar dele.

Dito isso, o que a Record precisa fazer é encontrar maneiras de fazer uma A Fazenda mais interessante. E pontos para melhorar não faltam, como um pay-per-view digno, mais transparência e trabalhar novamente na montagem de um elenco que seja atrativo e dê liga. O apresentador é importante, mas não primordial.


Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto 

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