Opinião

Cheias de Charme é aula de como se fazer uma novela das 7

Aparentemente despretensiosa e ingênua, trama das Empreguetes não se limita a fazer graça: história tem conteúdo e muito a dizer


Isabelle Drummond, Leandra Leal e Taís Araujo em Cheias de Charme
Isabelle Drummond, Leandra Leal e Taís Araujo em Cheias de Charme: novela ganha segunda reprise em 12 anos e se consolida como jovem clássico da TV - Foto: Divulgação/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 21/03/2024 às 05:00,
atualizado em 21/03/2024 às 11:10

Quando Penha (Taís Araujo), Cida (Isabelle Drummond) e Rosário (Leandra Leal) vão parar em uma delegacia, na sequência inicial de Cheias de Charme, o delegado quer saber a profissão de cada uma. “Empregada doméstica”, responde a primeira. “Estudante e arrumadeira”, diz a segunda. “Cantora”, surpreende a terceira, atraindo olhares desconfiados das outras duas. “E cozinheira nas horas vagas”, arremata em seguida.

O humor, sedimentado na direção das atrizes e na boa química que o trio apresenta desde o início, dá o tom de uma das melhores novelas já produzidas pela Globo na faixa das 19h, de volta desde semana passada em Edição Especial, à tarde.

Na trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, com direção de Denise Saraceni e Carlos Araujo, há o melhor tipo de comédia, que se dá quando o elenco encontra o timing perfeito para um roteiro inspirado e com conteúdo. Esse parece ser o grande desafio daqueles que têm feito comédia, geralmente sem graça, às sete da noite.

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As três Marias são personagens próximas da realidade, o que permite uma rápida identificação e simpatia em quem as assiste. A graça das protagonistas vem das situações em que elas se encontram e na forma como cada uma reage às adversidades. Com elas, o humor parece ser a consequência, não o objetivo.

Com jeitão despojado, Penha é a mais carismática. Seus dilemas dizem respeito a questões contemporâneas, de 2012 a 2024, como relações abusivas e assédio sexual. Há um interessante diálogo e cenas muito bonitas com a futura patroa Lygia (Malu Galli, também ótima), advogada habituada à jornada dupla da casa e do escritório, mas que perde uma chance de trabalho porque o colega homem “é mais disponível”.

Cida é a mocinha clássica, centro de uma espécie de conto de fadas: a irresistível história da gata borralheira que, um dia, vai à forra contra os patrões. O enredo de Rosário tem menos apelo entre as três, mas ela é a líder do grupo: única com o sonho real de seguir carreira artística, o que serve de fio condutor da história.

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O escracho e a caricatura também estão presentes e, desenvolvidos com competência, só agregam à trama principal. O grande acontecimento nesse sentido é a vilã Chayene, brilhante composição de Cláudia Abreu. Uma tresloucada e ególatra cantora de eletroforró, tipo totalmente diferente entre as quase sempre sóbrias personagens da atriz na TV.

Chayene bota a novela alguns tons acima. É quase uma vilã de desenho animado, desastrada em suas maldades. Não dá raiva, só nos faz rir, e nisso não há nenhum demérito na antagonista principal, que cumpre sua função na história enquanto conquista o espectador pelo riso. É o mesmo caso de Socorro (Titina Medeiros, outro talento), que vira fiel escudeira da malvada.

Cheias de Charme é aula de como se fazer uma novela das 7

Em sua segunda reprise em 12 anos, Cheias de Charme se consolida como um jovem clássico da TV. A novela foi um dos raros momentos em que tudo deu certo, um feito ainda mais incomum na ingrata faixa das 19h, em que a aposta costuma ser numa desgastada fórmula de comédia e drama.

O acerto, ao contrário, parece ter sido justamente o reinventar da fórmula. Os autores basearam a história na realidade social do país e usaram o crescimento da internet a seu favor – o divertido clipe Vida de Empreguete impulsionou a repercussão da novela nas redes sociais.

Não há, ainda na trama das Empreguetes, medo do exagero ou do besteirol. Isso porque, além de lançar mão de um forte subtexto, de momentos singelos e do mais puro melodrama, todos os envolvidos pareciam saber que até a comédia mais escrachada precisa ser feita com talento, competência e seriedade para dar certo.

Assista à abertura de Cheias de Charme:

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