Luto

Glória Maria se tornou ícone da TV com competência e coragem

Pioneira e versátil, jornalista morreu nesta quinta-feira (2), aos 73 anos


Glória Maria
“Nada blinda uma mulher preta do racismo, nem mesmo a fama”, disse Glória Maria - Foto: Divulgação/Acervo Globo
Por Walter Felix

Publicado em 02/02/2023 às 10:30,
atualizado em 02/02/2023 às 11:01

É difícil mensurar a lacuna que Glória Maria deixa na TV com sua partida nesta quinta-feira (2), aos 73 anos. A jornalista morreu após uma luta contra o câncer, que enfrentou com a mesma coragem que mostrou desde o início de sua trajetória profissional. Formada nos anos 1970, ela se tornou pioneira na televisão, levando representatividade a um espaço em que os negros não tinham vez.

Filha de um alfaiate e de uma dona de casa, Glória Maria se tornaria um dos rostos mais conhecidos do país por seu trabalho na televisão – que só seria inaugurada oficialmente no Brasil em 1950, um ano depois de seu nascimento. A partir da década de 1970, reafirmou-se por várias vezes como um símbolo da luta antirracista, pelo lugar de destaque que ocupou e por enfrentar e denunciar a discriminação.

“Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção. Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais”, relembrou Glória Maria, em entrevista concedida em 2020.

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Essa luta, como Glória sabia, não estava vencida. “Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, não é? Só para quem sofre”, concluiu, na ocasião. Em outro depoimento, mais recente, frisou: “Nada blinda uma mulher preta do racismo, nem mesmo a fama”.

Em frente e por trás das câmeras, a veterana deu a cara e emprestou coragem ao telejornalismo brasileiro. Versátil, podia ser vista entrevistando nomes como Freddie Mercury, Michael Jackson e Mick Jagger, ao mesmo tempo em que não se furtava de fumar maconha na Jamaica para o Globo Repórter – rendendo diversos memes nas redes sociais, em 2017.

Na batalha contra o preconceito, talvez ela tenha feito muito mais do que poderia supor. Por muitos anos, foi uma das pouquíssimas profissionais pretas com destaque na TV. "Presença quase solitária", como definiu certa vez. De certo, abriu espaço para que outras viessem e, mais do que isso, serviu de incentivo para que muitas, não só no jornalismo, almejassem o sucesso.

Nesse caminho lento pela igualdade, uma passada larga foi dada graças a ela. Que seu legado siga ecoando em futuras gerações. Na história da TV, há um importante momento de virada marcado pelo nome e pela força de Glória Maria.

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