Problemas de Elas por Elas foram muito além do horário de exibição
Novela foi um erro às 18h, mas também seria às 19h ou em qualquer faixa
Publicado em 12/04/2024 às 17:40,
atualizado em 12/04/2024 às 17:53
Antes mesmo de o remake de Elas por Elas entrar no ar às 18h, parte dos telespectadores e a imprensa já apontavam algo incomum: o estilo da novela, contemporânea e sem tanto foco nos romances, parecia mais adequado à faixa das 19h, em que a versão original da trama foi exibida, em 1982. Só que os problemas da releitura, que enfrentou a rejeição de uma parcela significativa do público, foram muito além do horário de exibição.
A Globo raramente faz apostas do tipo, escalando para as 18h, 19h ou 21h títulos que se diferem dos demais exibidos naquele horário. O que é uma pena. Mudanças de ares trazem frescor a essas faixas e nem sempre a audiência rejeita novidades – A Viagem (1994) era um drama e foi um fenômeno às sete da noite, geralmente habitada por comédias.
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Atribuir o mau desempenho de Elas por Elas à decisão da Globo de exibir a história às 18h é procurar um fator externo para o insucesso e ignorar as falhas próprias da atração. Nesse mesmo sentido, nos últimos meses, houve quem citasse as altas temperaturas durante o verão, o que teria contribuído para a queda dos números da TV no fim de tarde.
Elas por Elas teve dissonância entre texto, direção e elenco
A produção, contudo, foi problemática por si só. Na adaptação do enredo de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), repleta de belas homenagens à obra do escritor, a opção foi redirecionar rotas, mas o entrecho da troca de bebês, batido e saturado, foi o que dominou as atenções a maior parte da trama. Além disso, houve uma dissonância entre texto, direção e elenco.
Os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson tentaram basear a novela no humor, bem distante dos últimos trabalhos da dupla – Nos Tempos do Imperador (2021) e Novo Mundo (2017). Houve um esforço em entregar diálogos espirituosos e situações divertidas, mas o resultado era quase sempre uma tentativa, raramente bem-sucedida, de fazer graça.
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A direção artística de Amora Mautner também não encontrou o tom certo para essa comédia. A iluminação escura para uma história que se propunha solar foi um sinal disso, logo no início. A condução dos atores rendeu interpretações equivocadas e repetitivas, por vezes caricatas. Poucos, como Isabel Teixeira (Helena) e Marcos Caruso (Sérgio), conseguiram se salvar.
No ano passado, a escalação de Lázaro Ramos para o papel que eternizou Luis Gustavo (1934-2021) foi um alento, dado o já comprovado talento do ator em criar tipos carismáticos. Só que o novo Mário Fofoca não foi além da caricatura e, problema maior, não era engraçado. Resultado não só da atuação, mas principalmente das situações e do texto em que esteve envolvido.
Outros deslizes foram Natália (Mariana Santos) e Renée (Maria Clara Spinelli). A primeira, monocórdia, passou boa parte da novela no mesmo tom apreensivo, obcecada por descobrir quem matou o irmão; a segunda só aparecia chorando, seja de tristeza, seja de emoção.
Ressalta-se, por outro lado, a boa sacada de introduzir uma mulher trans no grupo de sete amigas – no original, todas as protagonistas eram cisgênero. A adaptação dos personagens oitentistas para os dias de hoje foi bem feita. Lamenta-se que o romance entre Natália e Carol (Karine Teles) tenha se desenvolvido com certa pressa, já nos últimos capítulos.
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A resolução de tramas, requentadas por meses a fio, elevou o nível da reta final, mas não anulou os problemas que comprometeram grande parte da duração da novela. Nas últimas semanas, a audiência subiu, também impulsionada pelo fim da concorrência com as mexicanas no SBT, e a popularidade cresceu nas redes sociais – justiça seja feita, o folhetim conseguiu conquistar alguns fãs.
A atualização da história era promissora, o desenvolvimento é que ficou devendo. Não dá para cravar como teria sido se a trama não passasse às 18h, mas, aceitando essa conjectura, faz mais sentido dizer que, conduzido como foi, o remake de Elas por Elas daria errado em qualquer horário.
Assista à abertura de Elas por Elas:
Elas por Elas termina nesta sexta-feira (12) e será substituída por No Rancho Fundo, que estreia segunda (15). A nova novela é criada e escrita por Mário Teixeira, com direção artística de Alan Fiterman, os mesmos responsáveis por Mar do Sertão (2022).