Opinião

Problemas de Elas por Elas foram muito além do horário de exibição

Novela foi um erro às 18h, mas também seria às 19h ou em qualquer faixa


Thalita Carauta, Karine Teles, Késia, Deborah Secco, Mariana Santos, Isabel Teixeira e Maria Clara Spinelli em Elas por Elas
Atualização de Elas por Elas era promissora, o desenvolvimento é que ficou devendo; novela termina nesta sexta-feira (12) - Foto: Divulgação/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 12/04/2024 às 17:40,
atualizado em 12/04/2024 às 17:53

Antes mesmo de o remake de Elas por Elas entrar no ar às 18h, parte dos telespectadores e a imprensa já apontavam algo incomum: o estilo da novela, contemporânea e sem tanto foco nos romances, parecia mais adequado à faixa das 19h, em que a versão original da trama foi exibida, em 1982. Só que os problemas da releitura, que enfrentou a rejeição de uma parcela significativa do público, foram muito além do horário de exibição.

A Globo raramente faz apostas do tipo, escalando para as 18h, 19h ou 21h títulos que se diferem dos demais exibidos naquele horário. O que é uma pena. Mudanças de ares trazem frescor a essas faixas e nem sempre a audiência rejeita novidades – A Viagem (1994) era um drama e foi um fenômeno às sete da noite, geralmente habitada por comédias.

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Atribuir o mau desempenho de Elas por Elas à decisão da Globo de exibir a história às 18h é procurar um fator externo para o insucesso e ignorar as falhas próprias da atração. Nesse mesmo sentido, nos últimos meses, houve quem citasse as altas temperaturas durante o verão, o que teria contribuído para a queda dos números da TV no fim de tarde.

Elas por Elas teve dissonância entre texto, direção e elenco

A produção, contudo, foi problemática por si só. Na adaptação do enredo de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), repleta de belas homenagens à obra do escritor, a opção foi redirecionar rotas, mas o entrecho da troca de bebês, batido e saturado, foi o que dominou as atenções a maior parte da trama. Além disso, houve uma dissonância entre texto, direção e elenco.

Os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson tentaram basear a novela no humor, bem distante dos últimos trabalhos da dupla – Nos Tempos do Imperador (2021) e Novo Mundo (2017). Houve um esforço em entregar diálogos espirituosos e situações divertidas, mas o resultado era quase sempre uma tentativa, raramente bem-sucedida, de fazer graça.

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A direção artística de Amora Mautner também não encontrou o tom certo para essa comédia. A iluminação escura para uma história que se propunha solar foi um sinal disso, logo no início. A condução dos atores rendeu interpretações equivocadas e repetitivas, por vezes caricatas. Poucos, como Isabel Teixeira (Helena) e Marcos Caruso (Sérgio), conseguiram se salvar.

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No ano passado, a escalação de Lázaro Ramos para o papel que eternizou Luis Gustavo (1934-2021) foi um alento, dado o já comprovado talento do ator em criar tipos carismáticos. Só que o novo Mário Fofoca não foi além da caricatura e, problema maior, não era engraçado. Resultado não só da atuação, mas principalmente das situações e do texto em que esteve envolvido.

Outros deslizes foram Natália (Mariana Santos) e Renée (Maria Clara Spinelli). A primeira, monocórdia, passou boa parte da novela no mesmo tom apreensivo, obcecada por descobrir quem matou o irmão; a segunda só aparecia chorando, seja de tristeza, seja de emoção.

Ressalta-se, por outro lado, a boa sacada de introduzir uma mulher trans no grupo de sete amigas – no original, todas as protagonistas eram cisgênero. A adaptação dos personagens oitentistas para os dias de hoje foi bem feita. Lamenta-se que o romance entre Natália e Carol (Karine Teles) tenha se desenvolvido com certa pressa, já nos últimos capítulos.

Joana Fomm não foi convidada para participação no remake de Elas por Elas

A resolução de tramas, requentadas por meses a fio, elevou o nível da reta final, mas não anulou os problemas que comprometeram grande parte da duração da novela. Nas últimas semanas, a audiência subiu, também impulsionada pelo fim da concorrência com as mexicanas no SBT, e a popularidade cresceu nas redes sociais – justiça seja feita, o folhetim conseguiu conquistar alguns fãs.

A atualização da história era promissora, o desenvolvimento é que ficou devendo. Não dá para cravar como teria sido se a trama não passasse às 18h, mas, aceitando essa conjectura, faz mais sentido dizer que, conduzido como foi, o remake de Elas por Elas daria errado em qualquer horário.

Assista à abertura de Elas por Elas:

Imagem da thumbnail do vídeo

Elas por Elas termina nesta sexta-feira (12) e será substituída por No Rancho Fundo, que estreia segunda (15). A nova novela é criada e escrita por Mário Teixeira, com direção artística de Alan Fiterman, os mesmos responsáveis por Mar do Sertão (2022).

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