Análise

Hilária, “Cine Holliúdy” se mantém fiel ao espírito dos filmes

Coluna Olhar TV analisa a estreia do seriado "Cine Holliúdy" na Globo


Cine Holliúdy
Foto: Marcos Rosa/ TV Globo

Com o encerramento do “BBB19” e a suspensão da faixa de “superséries” (novela das 23h) neste ano – em virtude do cancelamento de uma sinopse e do adiamento de outra –, a Globo decidiu aproveitar o espaço e montar uma linha de shows essencialmente baseada em seriados, com o lançamento das novas temporadas de “Carcereiros” e “Sob Pressão”, a estreia da elogiada “Assédio” (originalmente destinada para a plataforma GloboPlay) e um novo produto no campo do humor: “Cine Holliúdy”, a divertida série de Halder Gomes baseada no filme homônimo de 2013.

Iniciada na última terça-feira (06), a obra baseada no longa do diretor cearense – que por sua vez deriva de um curta-metragem lançado em 2004 e ganhou recentemente a continuação “A Chibata Sideral”, – retrata de forma hilariante e engraçadíssima a saga de Francisgleydisson (Edmilson Filho), um homem apaixonado pela sétima arte que tenta resistir com seu cinema contra o avanço da popularização da televisão no interior nordestino.

A série toma algumas liberdades em relação ao filme, a começar pela equipe, cujo roteiro final passa pelas mãos dos experientes Márcio Wilson e Cláudio Paiva e a direção artística é comandada por Patrícia Pedrosa, tendo o próprio Halder como um dos diretores.

Também se diferencia a ambientação, desta vez focada na fictícia cidade de Pitombas, sertão do Ceará – enquanto nos filmes o enredo é baseado em Pacatuba, município real, vizinho à capital Fortaleza.

Ainda assim, o grande espírito dos filmes segue vivo e divertido: é justamente a luta de Francis pela resistência de seu cinema frente à chegada da TV, patrocinada pelo prefeito Olegário (Matheus Nachtergaele), um típico “coronel” do interior, casado com Maria do Socorro (Heloísa Perissé). Ao mesmo tempo em que conta com o melhor amigo, o engraçadíssimo Munízio (vivido pelo excelente Haroldo Guimarães) para manter o cinema, ele se encanta pela belíssima Marilyn (Letícia Colin), enteada do prefeito, e que também se envolverá na paixão do protagonista pela sétima arte, com estilos para todos os gostos e públicos.

As confusões envolvendo o duelo entre a TV e o cinema e os tipos pitorescos da região, que tanto divertiram nos dois longas, seguem hilárias na série, cujo roteiro valoriza o dialeto cearense – curiosamente, o estado é um dos grandes celeiros de humoristas brasileiros, como os experientes Renato Aragão, Tiririca e Tom Cavalcante e o saudoso Chico Anysio.

Elenco talentoso

No talentoso elenco, todos se destacam, desde nomes menos conhecidos, como o próprio Haroldo Guimarães, que forma uma impagável dupla com o talentosíssimo Edmilson Filho, assim como Carri Costa e Solange Teixeira, que vivem Lindoso (vendeiro e opositor do prefeito) e a esposa Solange, apaixonada pelas novelas; até talentos consagrados como Heloísa Perissé, Frank Menezes, Matheus Nachtergaele (excelente em tipos nordestinos) e Letícia Colin (belíssima e esbanjando versatilidade). Pontue-se ainda a ótima narração do cantor Falcão, que interpreta o cego Isaías nos dois filmes e ainda dueta com Elba Ramalho na abertura, um engraçado repente exaltando as qualidades da TV e do cinema.

Hilária, “Cine Holliúdy” se mantém fiel ao espírito dos filmes

Cabe aqui destacar uma ressalva: por ser exibida antes da densa e dramática Carcereiros, desenha-se um cenário de programas diametralmente opostos e sem uma interligação um com o outro. Seria mais adequado que a série fizesse uma dobradinha de humor com o “Lady Night”, de Tatá Werneck; enquanto “Carcereiros” poderia fazer uma dupla dramática com “Sob Pressão”.

Ainda assim, “Cine Holliúdy” estreou divertindo o público e mostrando o imenso valor artístico da comédia nordestina, dando também espaço a nomes raramente vistos na televisão e que protagonizam grandes momentos com seus tipos pitorescos em meio à disputa entre a resistência do cinema e a popularização da televisão. Toda a equipe merece elogios por, em meio às modificações estruturais, manter vivo o espírito dos filmes, saber fazer o público gargalhar com as situações apresentadas e valorizar a obra de Halder Gomes – haja visto sua excelente audiência de estreia.

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