Mídia, Mercado e Etc.

Na busca pelos esportes ao vivo, Netflix comete erro capital em reunião de reality

Um dos primeiros testes para lives na plataforma, reunião de Casamento às Cegas tem problemas técnicos e é cancelada


Elenco de Casamento às Cegas 4 posam com os apresentadores Nick e Vanessa Lachey
O elenco de Casamento às Cegas 4 posam com os apresentadores Nick e Vanessa Lachey

Por décadas, a Globo fez a transmissão ao vivo parecer algo facílimo. Não é, e a Netflix está descobrindo isso da maneira mais difícil. No último domingo (16), a gigante do streaming foi obrigada a cancelar uma live do reality show Casamento às Cegas após enfrentar dificuldades técnicas. Uma notícia com implicações maiores do que pode parecer.

Love is Blind (como é conhecido em seu idioma original) é um programa no qual homens e mulheres precisam se conhecer - e começarem a "namorar" - antes de se verem pessoalmente, a partir de uma série de provas e atividades às cegas. A produção é norte-americana, mas já ganhou uma versão brasileira apresentada por Klebber Toledo e Camila Queiroz.

Para a noite de domingo, a Netflix programou a transmissão ao vivo de uma reunião no qual o público reencontraria os casais que passaram pelo reality na última temporada para descobrir o que aconteceu com eles depois do programa.

Não é a primeira vez que o serviço promove algo do tipo. Aconteceu em 2020 e em 2022. A diferença, desta vez, é que o evento seria ao vivo. Em grande parte, para testar e azeitar o streaming no que as novas gerações chamam de lives, mas que fazem parte da televisão desde que foi inventada. Afinal, o "vivo" veio antes do videotape.

A Netflix estreou o modelo com um especial do Chris Rock, chamado Indignação Seletiva, que tinha como principal atrativo o fato de ser a primeira grande aparição do comediante após o tapa que levou de Will Smith no Oscar 2022. A estreia deu certo.

O futuro é ao vivo

Isso é importantíssimo para o futuro da plataforma como um todo. Com a disputa entre streamings acirrada, percebeu-se o óbvio: a live traz engajamento e atenção, fomenta discussões nas redes sociais (a famosa segunda janela), possibilita conteúdos jornalísticos de "hard news" e, principalmente, viabiliza a transmissão de eventos esportivos - que, como já vimos nesta coluna, são peças importante na disputa entre a internet e a mídia tradicional.

Existem também diversos tipos de conteúdos que se encaixam no formato. Vão desde os mais baratos, como a reunião de um reality show, à transmissão ao vivo de um grande apresentações musicais ou partida para uma audiência global.

Em grande parte, as lives são inerentes ao YouTube há anos. Do início da pandemia para cá, o formato explodiu com pocket shows de artistas e, depois, com os grandes eventos esportivos. Nós vimos a Copa do Mundo pelo canal do Casimiro Miguel, um marco.

Só que fazer isso não é fácil, não. Começa pela geração das imagens: é preciso de muito apuro e cuidado para sair tudo dentro do esperado, além de muito jogo de cintura para contornar eventuais problemas. É possível cortar caminho nisso com a ajuda de produtoras mais experientes, além das ligas esportivas que já entregam o sinal pronto, redondinho para ir ao ar.

Mas há ainda a segunda parte, que é distribuir esse conteúdo. Uma das características do ao vivo é que as pessoas querem ver na hora em que acontece - trazendo um volume muito grande de espectadores simultâneos. Para piorar, o conteúdo em vídeo é pesado.

Resultado? Servidores sob estresse, com uma grande demanda. Se eles não aguentarem, vai cair para todo mundo.

A infraestrutura precisa ser muito bem pensada, assim como a própria tecnologia do stream de vídeo. "É só superdimencionar", você deve pensar. Nem tanto: isso tudo é muito caro, então extrapolar muito a demanda pode virar prejuízo financeiro.

O amor é tão cego que ninguém viu

Voltando para o exemplo de Amor às Cegas: essa era a oportunidade da Netflix entender se ela conseguiria produzir um evento relativamente simples e se, principalmente, poderia entregar isso para os espectadores. Não deu certo.

Ao acessar o episódio, a maioria dos assinantes encontrava um aviso de que a transmissão estava interrompida, para chegar a conexão. Como a internet deles estava ok, não preciso nem dizer que o problema estava no servidor da plataforma.

De acordo com a Variety, levou mais de uma hora para que a empresa desse satisfação a um público presente em uma "watch party" (vulgo "festinha para ver junto") presencial, informando dos problemas e que a reunião seria gravada para exibição posterior no serviço.

Demorou mais outra meia hora para que a Netflix se posicionasse no Twitter, pedindo desculpas para quem ficou acordado até tarde, acordou cedo ou desistiu de outros planos para o domingo por causa da live:

E agora, José?

Ao não conseguir lidar com a reunião de um reality show de sucesso, a empresa fundada por Reed Hastings revela que não está pronta, ainda, para voos mais longos no formato ao vivo.

Por outro lado, só erra quem tenta - e esses testes, ainda que não recebam nem um aviso de serem isso, servem de aprendizado. E não há melhor forma de aprender que errando.

Quando for pra valer, tudo terá que ser perfeito. E o primeiro grande evento do tipo, ao menos por enquanto, está marcado para fevereiro de 2024, quando a plataforma vai transmitir ao vivo a premiação do sindicato dos atores e atrizes de Hollywood, o SAG Awards.

Só não deixa de ser marcante ver a empresa patinando em algo no qual sempre liderou em geral, que é a tecnologia de streaming. O vídeo sob demanda da Netflix, o seu algoritmo e plataforma sempre foram o padrão ideal para todos os concorrentes. Ao que parece, descobrimos uma falha.

Não demorou para esses outros serviços tirarem uma casquinha. A Pluto TV, que é totalmente baseada em transmissões lineares em tempo real (e que dá algumas engasgadas, viu), já fez a própria propaganda:

Enquanto isso, concorrentes no mercado brasileiro parecem mais maduros nesse sentido. A Disney, por exemplo, traz muito esporte em tempo real no Star+ - e, no final do ano passado, transmitiu ao vivo para todo o mundo o show de despedida de Elton John dos palcos.

HBO Max, Paramount+, Prime Video, Apple TV+ e Globoplay são outros que já possuem conteúdos do tipo. Cada um com seus acertos, erros e travadas.

Seja como for, a Netflix deixou a sua guarda baixa em um erro de cálculo básico. Parece que não é só o amor que é cego, no final das contas...

Siga-me no TwitterInstagramTikTok e LinkedIn.

NaTelinha no LinkedIn

Siga nossa página no LinkedIn e fique por dentro dos bastidores e do mercado da TV.

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado