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Perdida, Disney quer reviver Star Wars nos cinemas

Após anunciar que investiria menos no streaming, o estúdio agora soma oito filmes da franquia em desenvolvimento. A mudança de foco para os cinemas dará certo?


Star Wars
Oito filmes da franquia Star Wars estão em desenvolvimento
Por Renan Martins Frade

Publicado em 11/04/2023 às 06:27,
atualizado em 11/04/2023 às 14:15

Uma velha anedota, do final dos anos 1970, conta que duas pessoas se encontraram em um parque. Elas começaram a conversar, até que uma delas fez a grande revelação: "Eu não vi Star Wars". Sem hesitar, a outra pegou uma arma e atirou no interlocutor. "Agora sim, sou a única pessoa em todo o mundo que não assistiu a esse filme", disse em seguida.

A piada é pesada, mas revela a força cultural que a saga de George Lucas havia alcançado logo após o seu lançamento: não se falava em outra coisa. Podemos dizer, sem exagero, que existe um cinema antes e outro depois de Guerra nas Estrelas.

Deixe isso de lado e pense um pouco no presente. Quando foi a última vez que você se empolgou com os filmes de Star Wars? Provavelmente isso aconteceu com uma série, The Mandalorian - e olhe lá.

Em uma Hollywood que se especializou em franquias bilionárias e continuações a toque de caixa, a criação de George Lucas perdeu o brilho - e ficou para trás. Mas isso vai mudar, se depender da vontade da Disney.

Na última semana, durante o evento anual Star Wars Celebration, a Lucasfilm - produtora responsável pela saga - anunciou que tem três novos longas-metragens em desenvolvimento. Um no “passado”, um no “presente” e outro no “futuro”. Tudo entre aspas porque, como sempre afirmam os dizeres antes dessas histórias, tudo aconteceu “há muito tempo atrás, em uma galáxia muito, muito distante”.

A primeira produção confirmada será dirigida por James Mangold (de Logan e Ford vs. Ferrari), se passando na aurora dos Jedi - os guardiões da justiça que dominam o lado da luz da mítica Força -, cerca de 25 mil anos antes da história que conhecemos. Nas palavras do próprio cineasta no evento, a ideia é fazer uma espécie de conto bíblico, um Os Dez Mandamentos desse universo.

Já o segundo filme apresentado, que se passa no “presente”, será o clímax dos eventos que estão sendo abordados nas séries lançadas no Disney+: The Mandalorian, The Book of Boba Fett e a ainda inédita Ahsoka. O projeto está nas mãos de Dave Filoni, que atua como produtor executivo nos seriados ao lado de Jon Favreau.

A terceira pré-produção leva a assinatura de Sharmeen Obaid-Chinoy - e esse parece ser o mais interessante. A jornalista paquistanesa surgiu nos últimos anos como uma interessante voz no audiovisual, tendo recebido nada menos que dois Oscars, ambos por curtas documentais. Ela migrou para a ficção em 2015, com longas de animação, e a estreia nos live-actions dos EUA veio por meio da ótima série Ms. Marvel.

Com Guerra nas Estrelas, Obaid-Chinoy vai contar uma “jornada do herói” focada em uma Academia Jedi e seu mestre - inspirada, nas palavras da cineasta, nos verdadeiros heróis que ela conheceu, que batalharam contra regimes opressivos. O enredo se passa 15 anos depois de A Ascensão Skywalker, lançado nos cinemas em 2019.

A intenção da diretora é contar com o retorno de Daisy Ridley no papel de Rey. A atriz, inclusive, fez uma participação especial no Star Wars Celebration.

Vale ressaltar que nenhum desses projetos teve uma data de lançamento divulgada, muito menos um calendário de produção.

Em busca do renascimento

Os três anúncios chegam em um momento no qual Guerra nas Estrelas precisa renascer.

Quando a Lucasfilm (a responsável pela franquia) foi adquirida pela Disney em 2012, parecia que o Mickey daria a famosa "volta olímpica" da vitória. Os US$ 4,05 bilhões pagos pela companhia foram uma bagatela perto do potencial de filmes, atrações de parque e produtos licenciados.

No entanto, o estúdio, a nova presidente da produtora (Kathleen Kennedy) e o diretor J.J. Abrams não seguiram as ideias para uma continuação da saga dos Skywalker deixadas pelo próprio George Lucas. Lançaram uma terceira trilogia própria, que se perdeu no meio do caminho sem saber para onde seguir enquanto história - frustrando os fãs.

Para piorar, a ideia de intercalar esses três títulos com outras produções, com aventuras isoladas, rendeu apenas um bom filme - Rogue One: Uma História Star Wars. O plano de ter um longa-metragem novo todo ano acabou ao final de 2019 e a franquia está, desde então, em hiato na tela grande.

Quase na mesma época, a Disney passou a apostar todas as suas fichas na produção de séries para o streaming, na tentativa de bombar a sua plataforma, o Disney+, na guerra contra a Netflix. Deu certo com The Mandalorian, um hit que ajudou a posicionar o serviço, mas a estratégia foi perdendo gás a cada nova estreia.

Os anúncios da última semana chegam depois de uma nova mudança de rumos, que você vem acompanhando nessa coluna.

Com o mercado de streaming vivendo uma correção e os cinemas voltando, os estúdios perceberam que os bons e velhos filmes arrasa-quarteirão são saudáveis e uma ótima forma de movimentar a “roda do dinheiro”. Afinal, levar um sucesso da tela grande para o vídeo sob demanda atrai mais atenção e assinantes do que um título exclusivo lançado diretamente nela, na nova conta dos executivos.

A isso, soma-se o retorno de Bob Iger ao posto de CEO da Disney, alguém que precisa mudar o que o antecessor - Bob Chapek - fez para justificar a plaquinha de “sob nova direção” na lojinha.

Só que essas não são as primeiras iniciativas para levar Guerra nas Estrelas de volta à tela grande depois de A Ascensão Skywalker. Outros longas-metragens foram anunciados nos últimos anos.

Entre eles está Star Wars: Rogue Squadron, dirigido por Patty Jenkins (de Mulher-Maravilha) - que, dizem, foi tornado público antes mesmo de ter um roteiro. A Lucasfilm tirou o título de seu calendário de lançamento depois de, segundo rumores, ter uma relação complicada com a cineasta.

Tem também um segundo, por Taika Waititi, de Jojo Rabbit. O neo-zelandês, reconhecido por seu estilo particular, ainda está escrevendo o roteiro. Ele diz que não quer trabalhar com nenhum personagem pré-estabelecido, criando algo totalmente seu dentro desse universo.

Por fim, há a trilogia de Rian Johnson, diretor de Star Wars: Os Últimos Jedi, mas ele parece muito mais interessado em entregar as continuações de Entre Facas e Segredos, pelas quais a Netflix pagou impressionantes US$ 450 milhões.

Tudo isso continua em desenvolvimento, garantiu Kathleen Kennedy nos últimos dias. Ou seja, agora temos nada menos que oito longas-metragens sendo preparados.

Como podemos ver, o que falta é realmente rumo e foco - assim como aconteceu com o que foi lançado entre 2015 e 2019. A intenção agora é dar espaço para novas vozes autorais? Ou é continuar com a saga dos Skywalker? É focar em histórias seriadas para o streaming? O cinema é o caminho?

Parece que estão atirando para todos os lados e o que “grudar” é lucro - e o que está escrito em pedra nesta semana pode ser esquecido pouco depois.

Curiosamente, nunca faltou rumo nos tempos de George Lucas: ele sempre soube o que fazer, ainda que algumas de suas decisões não fossem as melhores. Por décadas, o cineasta manteve a imagem e a empolgação por Star Wars lá no alto, mesmo que projetos envolvendo a franquia fossem lançados a um ritmo lento.

Não demorou nem 10 anos para a Disney jogar parte disso fora. Agora vão ter que se esforçar em dobro para recuperar. Pelo menos as ideias são boas, mas precisamos ver como vai ser na prática...

 

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