Coluna Especial

Teatro volta a ser uma fonte de renda até para medalhões

Coluna Especial assinada pelo escritor e roteirista Silvio Cerceau


Elenco da peça Tom na Fazenda, com Armando Babaioff
Armando Babaioff está em cartaz atualmente com a peça Tom na Fazenda, e se apresentou até em Paris, na França - Fotos: Victor Novaes
Por Redação NT, com Silvio Cerceau

Publicado em 26/04/2023 às 07:34,
atualizado em 26/04/2023 às 10:12

Nos anos 80 e 90, o teatro viveu um tempo de ouro e muitos espetáculos ultrapassavam décadas em cartaz. Em uma época que não existia nenhuma lei de incentivo, atores consagrados como Paulo Autran e Bibi Ferreira preferiam atuar no teatro, mas muitos artistas estavam na contramão e queriam a vitrine que a televisão dava e os altos salários que pagava, inclusive os artistas que tinham longos contratos.

Agora, a realidade muda de novo e o teatro tornou a ser a fonte de renda de muitos artistas, tendo em vista a nova modalidade de contrato das emissoras de TVs e dos streamings: apenas por obra.

No Rio de Janeiro e em São Paulo o teatro é bem mais amplo e movimentado, trazendo sempre grandes espetáculos que estreiam nessas cidades e depois saem em turnês pelas metrópoles e principalmente nas capitais.

Grandes medalhões estão se dedicando ao teatro. Antônio Fagundes, que deixou a Globo em 2020, está em cartaz há 3 anos com a peça Baixa Terapia, que já foi visto por mais de 350 mil pessoas, com direção de Marco Antônio Pâmio.

Reynaldo Gianecchini, que também saiu da Globo em 2021, está em cartaz com a peça A Herança, que conquistou 4 Tony Awards ao estrear na Broadway em 2019. São 89 cenas com mais de cinco horas de espetáculo dividida em duas apresentações. Miguel Falabella já fez até turnê internacional com a peça A Mentira, que também tem no elenco a atriz Danielle Winits.

O teatro sempre foi importante para o artista, embora renegado por muitos, é nos palcos que o talento de um artista pode ser percebido. O teatro é como se fosse a residência da profissão. No palco não tem como parar tudo e começar de novo, o artista tem que ter fôlego e jogo de cintura para seguir em frente haja o que houver.

O ator Armando Babaioff está viajando com peça Tom na Fazenda, um espetáculo que teve uma temporada recentemente nos palcos de Paris, uma das peças mais aplaudidas e premiadas do momento. Eu conversei com o protagonista sobre a peça e sobre a sua carreira.

Confira entrevista exclusiva para esta coluna:

Você estreou no teatro aos 15 anos, ou seja, tem uma boa bagagem e uma trajetória de grandes personagens. Como começou sua história com a arte? Quando descobriu o dom de interpretar?

Armando Babaioff - Eu conheci teatro aos 11 anos de idade numa escola pública em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Era uma das matérias do currículo de artes da escola. Eu me identifiquei com aquilo e então nunca mais parei. Sou um privilegiado por ter tido contato com isso que hoje é o meu ofício desde cedo. Descobri no teatro um lugar para me expressar, um lugar para dizer pro mundo o que eu penso do mundo.

Como se prepara para viver um personagem? Quais são as suas técnicas?

Armando Babaioff - Eu sou um ator que pensa muito, gosto dos detalhes, gosto de ouvir música, me ajuda a organizar as ideias. Mas não tenho uma técnica específica não. Cada personagem pede uma abordagem diferente. Não sou fechado em um método, na verdade estou aberto pro jogo, gosto muito de jogar com outros atores e atrizes, prestando atenção nas possibilidades, aprendo muito nesse lugar.

Você fez várias novelas de sucesso, a primeira foi Páginas da Vida (2006) e a última Bom Sucesso (2019). Acha que fazer uma novela dá mais visibilidade ao ator?

Armando Babaioff - Com toda certeza. Onde tem uma antena tem uma televisão ligada em uma novela. Faz parte da nossa cultura.

Estava previsto você ser o protagonista de Vai na Fé, porém, isso não ocorreu. Chegou a receber o convite? Se sim, por que acha que houve a substituição?

Armando Babaioff - Isso nunca existiu.

Teatro volta a ser uma fonte de renda até para medalhões

Você atuou em filmes, novelas e teatro e recebeu vários prêmios. Qual desses prêmios você achou mais importante?

Armando Babaioff - Fazer uma temporada do Tom na Fazenda, espetáculo de teatro que produzo, em Paris. Jamais passou pela minha cabeça que um dia isso iria acontecer. Fruto de muito trabalho, planejamento e desejo de furar uma bolha, internacionalizar uma peça de teatro, brasileira, falada em português com legendas em francês. É o ponto mais alto da minha carreira até hoje e é o maior prêmio que qualquer artista poderia ter.

Atualmente você está no teatro em cartaz com o grande espetáculo Tom na Fazenda. Fale um pouco sobre esse projeto.

Armando Babaioff - Acabamos de chegar de uma temporada de um mês em Paris, foram 24 apresentações com extensão da temporada devido ao sucesso de público e crítica. O movimento para chegar em Paris começou no Festival de Avignon, um ano antes, um investimento pessoal num dos maiores festivais de teatro do mundo, uma feira de teatro onde a sua peça está à disposição de centenas de programadores e curadores, só que são mais de 1750 peças de teatro acontecendo ao longo de um mês, da hora que o sol nasce até a hora que o sol se põe. Conseguimos nos destacar no meio dessa multidão e os convites começaram a vir e Paris foi um deles, fomos convidados pelo Théâtre Paris Villette a ocupar a grande sala por um mês, moramos todos num alojamento de prefeitura, um antigo convento na Gare de L’est, que recebe artistas do mundo inteiro para estudos, temporadas, residências e a partir de janeiro do ano que vem faremos uma turnê de 4 meses pela Europa.

De 28 a 30 abril vocês estarão em Belo Horizonte. A temporada desse espetáculo passará por quais cidades nos próximos meses?

Armando Babaioff - Estamos fazendo uma pequena turnê em algumas capitais. Acabamos de sair de Recife onde tivemos o Teatro do Parque lotado por 2 dias, respondo essa entrevista dentro de uma van a caminho de Natal onde faremos no dia 20 de abril uma única sessão no Teatro Riachuelo, daí seguimos para Juiz de Fora nos dias 26 e 27 no Teatro Paschoal Carlos Magno, chegamos em BH nos dias 28, 29 e 30 de abril e seguimos para uma temporada de dois meses em SP, de 5 de maio a 25 de junho. Estamos montando a agenda do segundo semestre.

Deixa uma mensagem para o seu público.

Armando Babaioff - Espero todos e todas no teatro para ver um trabalho diferente do que estão acostumados a me ver na televisão. Num espaço onde a mágica acontece ao vivo.

Vale a pena assistir a esta peça, vale a pena ir ao teatro e prestigiar as centenas e centenas dos artistas nos palcos, ao vivo, o calor do teatro é muito interessante e mágico, uma energia inclassificável. Vale muito a pena viver essa experiência.

Vá ao teatro, sempre que puder!


Silvio Cerceau é escritor, roteirista e tem 13 livros publicados. 
Instagram @silviocerceau

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