Esporte Interativo tenta explicar o inexplicável sobre mudanças, mas não cola
Executivo falou sobre o fim dos canais na televisão
Publicado em 24/08/2018 às 06:30
Na última quarta-feira (22), o head de esportes do grupo Turner, Fábio Medeiros, concedeu uma entrevista em que fez várias afirmações a respeito do encerramento dos canais Esporte Interativo na TV paga. Entretanto, uma delas chamou a atenção a ponto de gerar esta segunda coluna sobre o tema em poucos dias.
Em dado momento da reportagem, realizada pelo site Máquina do Esporte, ele diz que “é difícil você pegar um espaço na TV e falar de algo muito segmentado. A sua audiência vai despencar, você é cobrado por essa audiência, e aí já não faz mais sentido. Você cai na mesmice de ter que ficar falando dos assuntos de massa o tempo inteiro”, dando a entender que, na internet, esse espaço é garantido.
O curioso é que o próprio Esporte Interativo, quando desativou o canal, abriu mão de torneios como o Campeonato Brasileiro de Aspirantes, a Série C, a Série D a Copa do Nordeste, entre outros eventos que vão justamente ao encontro dessa justificativa para o movimento de saída da televisão e ingresso na web.
Ao abrir mão do conteúdo nichado e/ou setorizado, o Esporte Interativo passa a real noção de que a internet nada mais vai ser do que um canal de televisão sem o ônus de pagar um satélite para transmissão ou uma equipe para manter um parque de antenas. Às favas o telespectador.
Às favas a pessoa que paga um canal por assinatura porque não tem acesso a uma internet banda larga de qualidade, tão comum em território brasileiro, mesmo em centros como o estado de São Paulo, teoricamente, o melhor estruturado da nação.
Ao tentar justificar o injustificável, até mesmo o horário de exibição do programa é questionado, com a argumentação de que os jovens “não têm a cultura de horário” para ver determinada atração. É verdade! Ele só esqueceu-se de falar que esporte é evento e, como tal, faz sentido quando transmitido ao vivo, em tempo real, logo, tem, sim, hora. E todos sabem e esperam que o seja.
É fato que, na internet, não há uma grade a ser preenchida com conteúdo, pois não há um “canal” propriamente dito para ser alimentado, entretanto, fica estranho o Esporte Interativo resolver não rechear a sua grade com programas esportivos diversos, optando apenas pela transmissão de eventos pontuais. Não agrega público, não gera empatia, ficam à margem de repercussão.
Ao tentar pintar a Turner e o Esporte Interativo como um pioneiro, um baluarte, o próprio Fábio joga contra o patrimônio, informando que o movimento foi antes do esperado pelo mercado. A análise dessa fala, por si só, já mostra o quanto a Turner está perdida com o projeto esportivo do Brasil.
Se eu fosse presidente de um clube que assinou com a emissora para o Campeonato Brasileiro a partir de 2019 ou da UEFA, certamente estaria com os dois pés atrás, como de fato muitos estão. Como garantir que vão cumprir com os compromissos assumidos, transmitindo as competições nos canais TNT e Space? E se mudarem de ideia no meio do caminho e passar os jogos apenas para a internet? É inimaginável que dois produtos dessa magnitude estejam restritos a esse meio de propagação.
Esse pensamento surge, lembrando a dura batalha que o Esporte Interativo travou com as operadoras para inserir no line-up seus dois canais esportivos e, posteriormente, a facilidade como deles se desfez, sem sequer dar satisfações aos seus clientes - e, quando falo clientes, falo justamente das operadoras, pois o público já não importa às grandes redes há muito tempo.
Toda a movimentação frustrada em relação ao caso Esporte Interativo mostra que a Turner realmente nunca soube o que era o mercado brasileiro e demonstrou não se importar em fazer um esforço para compreendê-lo e adequar seus produtos, em um descaso semelhante ao apresentado pela ESPN, que só passou a olhar com carinho para o mercado nacional quando viu sua vice-liderança ser abalada pelo advento do Fox Sports.
Não por acaso, o Fox Sports é o segundo esportivo de maior audiência no país e consegue resultados expressivos em faturamento (embora possa fazer ainda melhor nesse campo). Foi o canal que buscou entender o público brasileiro, que buscou se adaptar a seus hábitos e é o responsável pelos principais movimentos de mudança do mercado esportivo nos últimos tempos, fazendo com que até o brasileiro SporTV tivesse a necessidade de se mexer para não perder espaço.
Helder Vendramini é formado em Rádio e TV e pesquisa esse meio há vários anos. Aqui no site, busca fazer análises aprofundadas dos mais variados temas que envolvem a nossa telinha.