Irritação

Sob Pressão - Plantão Covid faz aumentar revolta de enfermeiros com a série

Série sofre críticas da categoria de enfermagem

Marjorie Estiano e Júlio Andrade são os protagonistas de Sob Pressão - Foto: Reprodução/Globo
Por Naian Lucas

Publicado em 13/10/2020 às 05:33:00

O especial Sob Pressão – Plantão Covid terá seu segundo e último episódio exibido nesta terça-feira (13) cercado de muitos elogios, mas também com críticas, principalmente de profissionais de enfermagem. O Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (Coren-SP) se posicionou na semana passada contra a abordagem feita pelos autores da série e se sentiram “desprestigiado” pela trama. Não é a primeira vez que a produção sofre com avaliações negativas de pessoas que trabalham na área da saúde.

“Como é de conhecimento público, com a pandemia da Covid-19, a atuação da enfermagem ganhou destaque nos meios de comunicação e, recentemente, em obras de ficção. Com a proximidade das eleições municipais, veículos de comunicação também vêm destacando a presença de profissionais de saúde, especialmente de enfermagem, concorrendo aos postos de prefeitos e vereadores. Em todo caso, ainda que as representações e as análises tenham a intenção de destacar a presença dos profissionais de enfermagem, só nesta semana, em duas situações a categoria acabou sendo menosprezada e preterida”, disparou o Coren em comunicado publicado em seu site.

“Já o episódio de estreia da quarta temporada da série Sob Pressão, da Rede Globo, retratou o cotidiano dos profissionais de saúde no combate à Covid-19 com uma visão medicalocêntrica, centrando toda a atuação da equipe – que na vida real é multidisciplinar – nos personagens médicos. Como se sabe, é a equipe de enfermagem que passa 24 horas por dia ao lado dos pacientes, sujeita a uma alta carga viral que infelizmente tem milhares de contaminados como consequência, e que representa a maior força de trabalho da saúde brasileira – mas não é essa a perspectiva ilustrada pela série, desde sua primeira temporada”, acrescentou.

Não é a primeira vez que o Coren-SP faz severas críticas ao tratamento que Sob Pressão dá aos médicos em detrimento dos enfermeiros. Em 2017, quando a série foi lançada pela Globo, o Conselho apontou diversos equívocos da produção no retrato do dia-a-dia de um hospital.

“Ao centralizar todo o protagonismo da assistência na figura dos médicos, a emissora transmite uma imagem equivocada sobre a dinâmica das equipes de atendimento, menosprezando profissionais elementares no cuidado prestado à população”, explicou a carta feita pela entidade.

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Sob Pressão e as reclamações na web

As reclamações não ficam restritas apenas aos órgãos que representam os enfermeiros. Pelas redes sociais, há muitas pessoas que também demonstram irritação com a maneira que a série retrata a rotina dos médicos e a falta de espaço aos profissionais de enfermagem.

“Episódio de Sob Pressão mostrando médico dando banho em paciente é no mínimo uma falta de respeito com a importância da equipe de enfermagem dentro dos hospitais. E não é mimimi”, disse um internauta. “Meu pai falando sobre Sob Pressão da Globo: Em 15 anos como enfermeiro/técnico de enfermagem, e trabalhando na ala do  Covid-19, nunca vi um médico dando banho no leito em algum paciente como eles mostram”, comentou outro usuário.

Há muitas diferenças entre médicos e enfermeiros, mas Andréa Mohallem, coordenadora do curso de graduação em enfermagem da Faculdade Israelita Albert Einstein, explicou ao portal de notícias da Globo qual é a principal definição para diferenciar as duas profissões: “O médico cuida do diagnóstico, o enfermeiro dá assistência ao paciente”.

E qual o erro de Sob Pressão?

Segundo profissionais de enfermagem, a série Sob Pressão transmite a sensação de que os médicos fazem tudo. De fato, há muitas cenas dos doutores fazendo curativos, dando banhos em pacientes, entre outras coisas que são de competência dos enfermeiros.

A categoria também se sente desprestigiada por colocar médicos em dificuldades que são dos enfermeiros no dia-a-dia. A intenção de mostrar doutores com dificuldades financeiras foge um pouco da realidade, já que a média de salário de um médico plantonista do SUS (Sistema Único de Saúde) no Rio de Janeiro – cidade em que se passa a série – é de R$ 2 mil por 24 horas trabalhadas. Eles ainda podem atender em clínicas particulares.

O profissional de enfermagem do Rio de Janeiro ganha muito menos, tendo uma média de R$ 2.262,00 por mês. Um enfermeiro também pode complementar sua renda trabalhando em outros locais, entretanto, as dificuldades para manter dois empregos são maiores do que de médicos.

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