Publicado em 06/02/2023 às 04:00:00,
atualizado em 06/02/2023 às 16:06:50
Sempre que Chiara surge em Travessia, é quase certo que também entrará em cena os primeiros acordes de Dengo, a versão da música de João Gomes gravada por ele em parceria com Maria Maud. O “fuãn fuén fuon” já virou meme nas redes sociais, compartilhado até por Jade Picon, que dá vida à personagem (veja abaixo). O caso tem evidenciado a importância das músicas para as novelas, algo que a Globo trata com certo descaso há um bom tempo.
As músicas sempre se mostraram um fator fundamental para o sucesso das novelas brasileiras. A Globo entendeu muito bem isso no fim da década de 1960, quando passou a comercializar as trilhas sonoras de suas tramas – inicialmente em LP e, depois, em K7 e CD. Recentemente, com o avanço das plataformas digitais e o fim da parceria com a Som Livre, os discos pararam de ser produzidos – o último a sair foi o de Um Lugar ao Sol (2021), no ano passado.
A reprodução excessiva de Dengo na novela das 21h pode ser maçante, e a execução repetitiva da música para todas as cenas de Chiara também soa exagerada – tanto que virou meme –, mas a tática já foi garantia de sucesso na teledramaturgia. Várias músicas se tornaram hits justamente porque tocaram à exaustão para os personagens específicos na TV.
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Outrora, as canções costumavam contribuir para que um personagem, núcleo ou até mesmo uma novela tivesse êxito, permanecendo no imaginário do público. Um exemplo clássico é Palpite, único sucesso da ex-cantora Vanessa Rangel, que embalou o casal Milena (Carolina Ferraz) e Nando (Eduardo Moscovis) de Por Amor (1997). Até hoje, a letra, muito associada à novela e ao par romântico, está presente em playlists por aí afora.
Foi isso, aliás, que fez a autora Gloria Perez trazer de volta No me Compares, de Alejandro Sanz e Ivete Sangalo, que havia sido tema de Helô (Giovanna Antonelli) e Stenio (Alexandre Nero) em Salve Jorge (2012), para tocar para o par romântico novamente em Travessia, a pedido dos fãs do casal. Só que, de uns tempos para cá, tem sido parca a preocupação com as músicas nas novelas. Raramente uma canção serve de tema para um personagem específico, o que era usado para despertar rápida identificação e empatia com a audiência.
Nos últimos anos, as músicas selecionadas tocam aleatoriamente para vários personagens. É um descaso que também pode ser notado em Travessia, ainda que em menor escala, se comparado a outras produções. Por exemplo, Evidências, na voz de Roberto Carlos, toca tanto para Brisa (Lucy Alves) com Ari (Chay Suede) quanto com Oto (Rômulo Estrela). A composição, aliás, famosa com Chitãozinho & Xororó e que já foi tema de A Dona do Pedaço (2019), tem muito pouco a ver com a relação da protagonista com qualquer um dos vértices desse triângulo amoroso.
Só que, em meio a tantos problemas na novela, a trilha sonora de Travessia traz grandes acertos. Por exemplo, Tu Não Sabes, de Zeca Baleiro, casa muito bem com Leonor (Vanessa Giácomo). Outra releitura, Espumas ao Vento, na voz de Mariana Aydar, tem tudo a ver com Brisa e Ari. A seleção de repertório lembra os tempos em que a emissora selecionava os lançamentos de grandes nomes da música contemporânea, sem apelar para repetições – ou seja, gravações que já foram temas de uma ou mais novelas no passado.
O grande porém é justamente o tema de abertura, Tempos Modernos, hit de Lulu Santos que já foi de Sol de Verão (1982). Também tocou na vinheta de Malhação, em 2012, com roupagem do Jota Quest. O descaso da Globo também está no fato de que a nova versão, com Seu Jorge, só pode ser ouvida mesmo na TV ou na reprodução da vinheta no YouTube: a versão integral da regravação não está disponível em nenhuma plataforma de streaming – e a novela estreou já faz três meses.
Travessia acaba, tanto por um lado quanto por outro, tornando evidente o descaso da Globo com as trilhas de suas novelas. Os erros presentes ali são comuns a todas as produções dos últimos anos. Já os acertos a diferem das demais tramas. A demarcação de uma música para ser tema de um personagem específico é uma aposta rara nos últimos anos – e o recado foi dado: como se vê com Dengo/Chiara, gera repercussão e identificação entre música e personagem.
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