Travessia chega ao capítulo 100 sem sinal de encontrar um rumo
Novela ainda está na metade, mais desinteressante e perdida do que nunca
Publicado em 02/02/2023 às 06:44
Quando Travessia começou a dar sinais de que enfrentaria problemas em seu percurso no horário nobre da Globo, a confiança era de que a autora Gloria Perez e o diretor Mauro Mendonça Filho saberiam recalcular a rota. A bagagem dos veteranos, com vários sucessos no currículo, parecia ser o suficiente para colocar a novela nos trilhos. Nesta quinta-feira (2), contudo, a produção chega ao centésimo capítulo, sem sinal de encontrar um rumo.
A história de Brisa está mais desinteressante e perdida do que nunca. Nos primeiros meses, a dignidade e o esforço de Lucy Alves em defender sua personagem permitia que se fizesse vista grossa para a sucessão de furos e situações mal explicadas do roteiro. Só que nem mesmo o talento da intérprete consegue mais segurar o fraco texto que a acompanha.
Os dramas em que a protagonista está envolvida já saturaram há tempos: as idas e vindas com Oto (Romulo Estrela); a relação mal resolvida com Ari (Chay Suede), já explorada à exaustão; e a disputa pela guarda de Tonho (Vicente Alvite), reprisada de várias novelas. Não há qualquer conflito capaz de prender o espectador em frente à TV, problema compartilhado pela maioria dos personagens principais.
Uma trama que chamou a atenção no início foi a de Guerra (Humberto Martins), mas o segredo do empresário sobre a origem de Chiara (Jade Picon) vem sendo levado em banho-maria, sem nenhum avanço significativo. Inacreditavelmente, a moça ainda está longe de saber que pode ser filha de Débora (Grazi Massafera) com Moretti (Rodrigo Lombardi). Um atentado logo mais talvez tire a história da estaca zero – veremos…
O reme-reme dos núcleos principais também já se estendeu a Helô (Giovanna Antonelli) e Stênio (Alexandre Nero), par simpático de Salve Jorge (2012) que até chegou a render alguns bons momentos em Travessia – muito pela competência dos atores. Agora, o casal é alvo de um esquema ininteligível e pouco emocionante envolvendo o crime organizado, por ora totalmente deslocado do restante da novela.
Travessia tem tido algum gás graças a tramas paralelas. Outro dia, o principal assunto era a vingança, ainda que meio despropositada, de Guida (Alessandra Negrini) contra Moretti. Seja porque a história não sai do lugar, ou ainda pela abordagem infeliz dada à violência contra a mulher, ou quem sabe pela atuação desastrosa de Rodrigo Lombardi, o imbróglio também já minguou no ar.
Nas últimas semanas, ganhou destaque a família de Monteiro (Ailton Graça) e Laís (Indira Nascimento), envolvidos na dependência do filho Théo (Ricardo Silva) com jogos eletrônicos. A assexualidade de Caíque (Thiago Fragoso) e de Rudá (Guilherme Cabral) também ainda consegue despertar um mínimo interesse. Resta ver como será o seguimento dado a essas temáticas, porque outras, como fake news e deep fake, se perderam no caminho.
Não há nada o que comemorar no recorde de audiência alcançado na última segunda-feira (30). Os 26 pontos conquistados por Travessia eram o que Pantanal dava, no ano passado, em seus piores dias. O crescimento pífio parece ser mais uma consequência da falta de concorrentes de peso no horário do que um mérito da atração. A média até o momento é de 23,2 e só ganha de Um Lugar ao Sol (2022), que fechou com 22,3.
Travessia ainda tem mais de três meses pela frente – deve terminar com cerca de 190 capítulos. Com a fila de novelas das 21h em crise criativa, não há qualquer esperança de que a Globo queira abreviar seu término, como fazia com produções fracassadas no passado. Quem dera fosse verdade o que Seu Jorge canta no tema de abertura: “Hoje o tempo voa, amor…”. Por enquanto, maio parece estar longe demais.