Publicado em 16/12/2024 às 09:00:00,
atualizado em 16/12/2024 às 10:51:56
Meus pais são mineiros. Cresci vendo meu pai ouvindo sertanejo raiz. Não vou me lembrar de todos os nomes, mas Tonico & Tinoco, Milionário & José Rico e Sérgio Reis são alguns bons exemplos.
Na TV, lembro de trechos do Som Brasil com o comando de Rolando Boldrin (1936 - 2022). Não vou saber falar deste ou daquele momento do programa, mas a música da abertura foi algo que me marcou bastante:
"É que a viola fala alto no meu peito humano. E toda moda é um remédio pro meu desengano. É que a viola fala alto no meu peito, mano. E toda mágoa é um mistério fora desse plano".
Talvez, porque o rock que minhas irmãs escutavam - sou temporão - na voz do Queen ou Kiss está para Nelson Gonçalves, xodó da minha mãe, assim como a moda de viola para meu saudoso pai.
O sertanejo nunca mudou, mas foi se adaptando aos tempos e ficava bonito também na voz de alguns artistas que não necessariamente faziam parte do movimento. Disparada com Jair Rodrigues (1939 - 2014) se encaixa bem nesse contexto.
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Logo após a popularidade de Chitãozinho & Xororó, acho que final dos anos 70, início dos 80, bastaram alguns anos para o gênero sofrer um verdadeiro boom. Era quase que obrigatório se você vinha do interior do Brasil e tinha veia artística cantar sertanejo.
Não demorou muito para a dupla se juntar a outras duas, Zezé Di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo, formando os Amigos, especial de TV e uma série de shows espalhados pelo país.
A força e o engajamento numa época que nem se falava de redes sociais e a Internet era um sonho de primeiro mundo, fizeram essas três duplas se tornarem fenômenos.
Com exceção de Chitãozinho e Xororó, que ainda traziam um pouco da "terra" em suas canções, outros artistas apostaram em um sertanejo mais meloso e romântico, que, às vezes confundia quem tinha a audição mais apurada ou o gosto mais caipira.
Porque a ideia do sertanejo, na verdade, é a do caipira. Daquele cara simples da roça, que anda com os pés no chão, uma viola nos braços e um ramo de capim no canto da boca. Tipo Mazzaropi ou Chico Bento. Personagens que passam longe do glamour e do brilho que se vê hoje.
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Coloca aí mais alguns bons anos e o gênero sertanejo cresceu na velocidade do agro em nosso país, se tornando uma grande indústria, um grande negócio, um comércio.
A Festa de Peão de Boiadeiro, em Barretos, uma das mais populares no Brasil, reúne moradores, turistas e expositores de gado, cavalos e até búfalos.
A festividade, aliás, nasceu em homenagem ao peão de boiadeiro, figura importante para a história econômica e cultural da região, tendo o rodeio como sua principal e autêntica atração.
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Embora polêmica, a lei 15.008 de 2024 reconhece o rodeio, a vaquejada e o laço como expressões esportivo-culturais pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro de natureza imaterial.
E o que falar, então, do Circuito Sertanejo, em Ribeirão Preto? Palco com shows, luzes, várias atrações, rodeios. É quase um Rock in Rio do Campo.
Voltando à música, com o novo milênio alguém achou de bom tom lançar o sertanejo universitário. Sabe aquelas boy band dos anos 90? Quase isso, com exceção da dancinha em grupo.
Rapazes fortes, arrumadinhos, com cabelos engomadinhos. Era mais ou menos esse o perfil. Os chapéus já não eram mais um acessório obrigatório, mas acabou se tornando peça chave no look das mulheres. Inclusive, das cantoras sertanejas, porque o cenário feminino cresceu demais. Uma boa notícia!
Tanto que uma das novidade para este final de ano na TV é o especial Amigas, exibido na Globo, com as participações de Maiara e Maraísa, Simone Mendes, Lauana Prado e a "boiadeira" Ana Castela.
Ainda na emissora, teremos o Viver Sertanejo, programa dominical com Daniel à frente. Gravada na fazenda do cantor, a atração promete grandes encontros entre as gerações antigas com as novas, para trocarem suas experiências.
Entre um café com pedaço de bolo ou um copo de leite tirado da vaca, "causos" de quem veio da terra. Em entrevista, o sertanejo disse que a produção irá tocar o coração de quem veio da roça.
Minha torcida é para que o público de casa, em especial quem saiu do interior por algum motivo, volte às suas origens, porque não há nada mais poético ou brasileiro do que o sertanejo raiz.
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