Opinião

Qual o futuro do jornalismo? Franz Vacek responde

Superintendente de Jornalismo, Esportes e Digital da RedeTV! entre 2014 e 2023 assina Coluna Especial do NaTelinha e opina sobre o futuro do jornalismo

Frank Vacek foi Superintendente de Jornalismo, Esportes e Digital da RedeTV! por nove anos - Foto: Divulgação
Por Redação NT , com Franz Vacek

Publicado em 22/11/2023 às 05:40:00,
atualizado em 22/11/2023 às 10:15:01

Em 2015, representando o Brasil, eu tive o privilégio de ter sido convidado pela CNN em Atlanta para discutir com diretores de jornalismo do mundo todo o que seria o futuro do telejornalismo. Após duas semanas de apresentações e debates, ficou evidente que as plataformas digitais que já dominavam parte do mercado publicitário e de audiência seriam o maior desafio para o setor televisivo.

Na ocasião, voltei ao Brasil ávido por mudanças para unir tevê com o digital e não encarar as novas plataformas como inimigas, mas como possibilidade de aumentar a interação e a experiência do nosso público. Queria o digital como aliado, afinal era um mercado gigante.

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Foram muitas ousadias, erros, acertos e sobretudo aprendizado. Nas eleições de 2016, fizemos a maior live do país porque ninguém fazia. Era só o debate na tevê. Fizemos simultaneamente na tevê e no Facebook.

Em 2018, ousamos mais e produzimos os maiores debates multiplataforma do Brasil. Qual o segredo? Chamei para conversar, somar e fazer parcerias players como Facebook, YouTube, UOL, Twitter, entre outros que até então não tinham a televisão como estratégia principal de novos negócios ou divulgação.

Em pouco tempo nos tornamos o maior digital das tevês brasileiras e um gigante mundial. Chamei jovens que entendiam das novas plataformas para tocarem o projeto e aprendi com eles novas linguagens daquele novo mundo.

Daí comecei a adotar interações entre tevê e digital em diferentes programas, incluindo o telejornalismo e esporte, muitas das experiências com pioneirismo. Passei a admirar aquele universo digital, antes visto por muitos produtores de conteúdo televisivo com desconfiança. Era uma mistura de medo e arrogância de muitas televisões que se achavam maiores que o digital. Nessa, perderam muitos telespectadores. No nosso caso, deu tão certo a nossa vanguarda, que os nossos modelos de negócio e interação multiplataforma fizeram escola.

Franz Vacek e o futuro do jornalismo

Oito anos após ter sido chamado na CNN EUA, fiquei lisonjeado para responder neste artigo, novamente, qual o futuro do telejornalismo. Claro que hoje o cenário é totalmente diferente. O digital veio para ficar e o streaming mudou hábitos de consumo e revolucionou o setor.

Começo dizendo que as tecnologias evoluem como foi do impresso para o rádio e posteriormente para a televisão. Com a internet vieram os portais, plataformas digitais, redes sociais e o streaming. O telejornalismo mudou na apresentação e acessibilidade de interação com a audiência. O hábito de assistir televisão sofreu alterações com o consumo do conteúdo por diferentes telas como o celular, monitores de computadores ou até mesmo óculos interativos 3D.

O que não mudou da imprensa escrita até as plataformas atuais é a credibilidade do que é produzido, ou seja, ainda que com um smartphone qualquer pessoa possa ser um repórter, gravar em alta definição e exibir em seu próprio canal no YouTube, Tiktok,  entre outras plataformas, se o que foi feito for fake, não apurado, ou parcial, não terá valor.

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Inteligência Artificial no jornalismo

Hoje eu diria que outra tecnologia que entrou em campo é já começou a abalar o mercado é a inteligência artificial. A "I.A" é  sem dúvida um "game changing" que poderá substituir âncoras, repórteres, legendas, vozes, etc. Porém como em qualquer nova tecnologia, poderá ser uma ferramenta excelente, se usada da forma correta.

E eu não a olharia com desconfiança, ao contrário. Não fiz isso no passado e repetiria a fórmula, me lançaria de cabeça e com ética jornalística até para a própria sobrevivência do telejornalismo. A "I.A" pode ser o que faltava para despertar o interesse das novas gerações tão distantes dos telejornais e tão próximas de seus celulares e do streaming. Sim, pode ser uma bóia de sobrevivência.

Do que vale uma tela de tevê pendurada na sala ou no quarto hoje em dia se um telejornal no geral reproduz velhas informações já consumidas antes nas plataformas digitais? Mas, e se esse mesmo ultrapassado telejornal tiver uma roupagem nova com fragmentos rápidos de notícias, com o bom uso de "I.A", mas mantendo a essência, empregos e a qualidade de um produto de credibilidade? Esse é o caminho atual.

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Das minhas experiências de nada adiantou pegar um programa de audiência na internet com a linguagem dos internautas e colocar 100% igualzinho na televisão. Não dá certo. Tevê é tevê. Streaming é streaming. Digital é digital. Rádio é rádio. Impresso é impresso. Videogame é videogame. Pitadas de cada um deles como em uma receita culinária funciona. O excesso não é digestível e perde-se na essência.

Eu não ligo a tevê querendo uma experiência de plataforma digital e vice-versa. A autenticidade precisa ser mantida cada qual em seu formato, mas com aberturas entre as plataformas.

Sempre defendi que o único jeito de concorrer com o imediatismo, velocidade da internet e suas plataformas é a tevê ao vivo. Competições esportivas na telona são eventos que reúnem e promovem trocas sociais. A experiência de um jogo de futebol ao vivo na tevê é muito melhor do que na tela do celular. É por aí que passa o telejornalismo também. Precisa ter credibilidade, mas não precisa ser chato.

Jornalismo precisa ser um show na TV

É necessário dinamismo e estar antenado com as novas tecnologias. Dá para fazer sem perder a essência, sim. Telejornalismo também precisa ser um show televisivo, como é o entretenimento, o artístico.

Por maior que seja a crise de audiência da televisão com a chegada das novas plataformas, o telejornalismo no Brasil sempre terá um respiro maior em relação a outros países, não apenas pela cultura televisiva das antigas gerações, mas principalmente por ser um país continental, onde o acesso à informação se dá muitas vezes, unicamente, por satélite e a tevê segue entrando diariamente nas residências com seus respectivos telejornais.

Infelizmente, uma infinidade de lares brasileiros não têm acesso ao saneamento básico, quanto mais à internet. Se pedirmos para uma criança que mora a poucos quilômetros dos grandes centros do Brasil desenhar a própria casa, provavelmente ela desenhará o telhado com uma antena parabólica em cima.

Ainda que a tevê brasileira desponte como uma das melhores do mundo, acho que falta ousadia e há a necessidade de misturar tecnologias e novas ferramentas no telejornalismo.

Alguns diretores de jornalismo precisam deixar de ser caretas, ter jogo de cintura e criatividade, características do nosso povo, na televisão também, para seguirmos como vanguarda.

Ou será que o velho formato de bancada de tevê, com linguagem por vezes incompreensível ao grande público é o único possível? O mesmo vale para os formatos enlatados dos gringos. Que tal mais boletins, pílulas informativas ao longo da programação? Ou reality shows e programas de auditório com o nosso DNA? Ou deixar o feudo de lado e propor a exibição do telejornal da emissora em uma Netflix da vida para que o público escolha a hora que quer assistir sem a arbitrariedade da velha grade de programação?

Eu acho tudo isso possível. É melhor que um telejornal seja visto em diferentes plataformas do que apenas no site da própria televisão detentora. Claro que isso implica em reajustes contratuais, mas quem sabe não sejam novas oportunidades de negócios?

Por fim, a indústria que produz as telas de televisão precisa também se reinventar. Uma pena que a tevê com tela 3D e seus desconfortáveis óculos não deram certo no mercado. Imagino que se a velha televisão, ainda que seja plana e cada vez mais fina, entregasse uma experiência mais abrangente e realista, seria uma aliada a mais para o telejornalismo, entretenimento e também para os comerciais, merchans na programação.

Há tantos recursos gráficos, estúdios inteligentes, câmeras de alta sensibilidade e maravilhosas edições que, infelizmente, se apequenam na entrega da experiência final, pelo fato dos aparelhos de televisão não terem evoluído tanto quanto um celular evoluiu nas últimas décadas.

Imaginem se as redes sociais como o Instagram, dependessem dos aparelhos de televisão para conectarem aos seus públicos ao invés do smartphone? Seria uma catástrofe. Sim, os fabricantes de aparelhos de televisão também têm parcela de culpa no declínio do telejornalismo e da tevê em geral.

Será que teremos que esperar para colocarmos chips em nossos corpos para assistirmos a um moderno telejornal de qualidade e simultaneamente uma prazerosa experiência de sons e imagens?

Talvez consiga responder isso se me perguntarem qual futuro do telejornalismo para mim daqui uma década.

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