Coluna Especial

Fake news devem ser tratadas como "Criminal news"

Caio de Carvalho defende que o STF busque medidas para punir a transmissão de notícias falsas

Caio Luiz de Carvalho é diretor da Band SP e Arte1 - Divulgação
Por Redação NT , com Caio Luiz de Carvalho

Publicado em 23/04/2020 às 07:37:19

Em plena era de domínio e expansão das mídias digitais e das redes sociais surgiu a Covid-19. Com ela, mais uma profusão de informações criminosas pouco confiáveis em meio à pandemia invadindo dispositivos de milhares de usuários cada vez mais dependentes das redes sociais. O Ministério da Saúde acaba de alertar com razão em reunião do G20 sobre a Covid-19 a sua preocupação com essa escalada das fake news.

A questão é que estamos cansados de ouvir a todo o instante como se normal fosse: "Ah! isso é fake news". Já está na hora de responsabilizar esses profissionais do crime digital por atos que mexem com mercados financeiros, saúde de empresas, destroem negócios, causam danos morais a pessoas, servem a interesses políticos escusos, além de instigar ódios, alimentar disputas raciais, lutas de gênero e religiosas.

Até agora não conheço por parte do Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, YouTube e outras plataformas, notícias de investimentos em mecanismos eficazes que possam investigar e apurar a veracidade ou não dos conteúdos postados e de suas origens. Não posso dizer o mesmo em relação aos gastos que fazem em inteligência artificial e algoritmos. Tecnologias que invadem nossas vidas captando perfis e hábitos para uso abusivo de terceiros.

Estou convencido de que existe tolerância excessiva por parte das redes sociais em relação a postagens enganosas e viciadas. Não vejo filtros para coibir esse tipo de conteúdo criminoso. São "criminal news" que assim deveriam ser rotuladas pela mídia, inseridas no dicionário de nosso judiciário e regulamentadas com rigor pelo legislativo. Nada contra a maior parte de seus conteúdos, compartilhamentos e engajamentos saudáveis e produtivos.

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A importância da checagem

A mídia séria e grande imprensa estão fazendo seu papel tendo trabalho e cuidado em tudo apurar. Acredito que se não se cuidarem, em pouco tempo redes sociais descuidadas poderão ser responsáveis solidárias e culpadas por prática de crimes virtuais. Alem de perderem clientes como já ocorreu com um grande anunciante mundial.

A exemplo da grande imprensa terão que investigar na checagem correta do que hospedam e do monitoramento e origem do usuário que cadastram. Não se trata de aqui invocar censura, mas apenas de seguir o que faz a imprensa responsável e o bom jornalismo com notícias duvidosas: checagem.

Nesse sentido, durante a quarentena, é fácil sentir a valorização que está tendo a mídia tradicional e como ela conversa bem com o digital e redes sociais desde que bem conduzidas editorialmente.

Basta ver os números da Kantar Ibope para verificar o crescimento expressivo da audiência nos programas jornalísticos da TV aberta, Pays TV e a volta da sadia leitura de jornais e revistas que vão além da simples informação do "quê", pois que entregam o "quê”, o quando, o como e o porquê da notícia.

O fortalecimento da mídia durante o novo coronavírus

A mídia tradicional a meu ver, assim como a digital no seu audiovisual sairão muito fortalecidas no dia seguinte a Covid 19. As pessoas em tempo de pandemia migraram para a busca de informações confiáveis e de notícias aprofundadas e detalhadas. Começaram a descartar informações meramente supérfluas e a se protegerem das fake news ou, como digo, "Criminal news".

Aprendemos nessa quarentena também a ler mais, exercitar novas visões, fazer negócios e reuniões online, assistir lives deliciosas e criativas de nossos artistas e, no isolamento, vivenciar muitas experiências. Aprendemos a manejar ferramentas menos conhecidas do grande público como Microsoft Teams, Zoom, junto com os tradicionais Skype, Face Time, WhatsApp, instrumentos que comunicam, transmitem ensinamentos à distância e conectam pessoas.

Estamos acompanhando o surgimento nos sites e em plataformas de streaming de grandes empresas as conferências virtuais, os debates e as lives com presidentes de bancos, autoridades, economistas...

Mas a exemplo do que ocorre nas redes sociais sem filtro ou curadoria, o resultado na participação dos internautas nos comentários, em sua maioria, é de ofensas grosseiras e ataques que nada contribuem para a qualidade dos debates. Não será dessa vez que grandes corporações deixarão de lado a parceria com a grande mídia que sabe melhor proteger seus clientes com curadorias responsáveis e resultados qualitativos.

Nessa breve análise desses tempos de Covid -19 e o comportamento dos meios de comunicação, constato que as emissoras de TV certamente descobriram que é fácil e possível fazer produções criativas mais baratas e com qualidade. Temos pela frente uma revolução tecnológica e de modelos nessa área. Aqui cabe o nada será como antes.

Finalizando, em relação às fake news, esperamos que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre Moraes, que estuda o assunto, possa levar adiante a busca por medidas legais que punam os que se esmeram em transmitir mentiras condenáveis e protejam aqueles que produzem informações responsáveis e confiáveis. Já é tempo de extirpar esse vírus chamado fake news.


Caio Luiz de Carvalho é Diretor Geral da Band SP e do Canal Arte1, Doutor em Comunicação pela USP e Professor da EAESP-FGV na disciplina "O mercado das Empresas de comunicação e Entretenimento".

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